A produção de trigo sofreu um novo revés no Rio Grande do Sul na safra de 2024. Após grandes prejuízos no ano passado, a expectativa para este ano era de recuperação, mesmo com a redução de quase 13% na área. No entanto, a safra passou por altos e baixos devido ao clima e com quase metade da área colhida em todo o estado, produtores constatam prejuízos na produtividade e qualidade do trigo.
A estimativa inicial da Emater/RS-Ascar apontava para uma produtividade de 3.100 kg/ha, com a produção podendo chegar a mais de quatro milhões de toneladas. Apesar desse índice ainda não ter sido revisado, diferentes regiões do estado já registram prejuízos.
Em Erebango, no Norte do Rio Grande do Sul, a estimativa inicial de produtividade era de 60 sacas por hectare. No entanto, com a colheita chegando a quase metade das áreas, a expectativa foi reduzida para cerca de 40 sc/ha, conforme o extensionista da Emater/RS-Ascar, Gilberto Tonello.
“Ocorreram fortes chuvas na segunda quinzena de setembro e na primeira quinzena de outubro, que é o período exatamente em que não poderia chover tanto porque é época da floração e de enchimento de grãos. […] E com esses eventos climáticos, as lavouras foram tomadas por doenças de espiga, doenças de final de ciclo, muitas vezes de difícil controle. Então isso levou à redução da produtividade por hectare e, consequentemente, também à redução da qualidade do grão, tanto no trigo quanto da cevada, fazendo com que o produtor, agora colhendo e entregando [os grãos] no comércio, também se depare com os preços bem aquém daquilo esperado”, conta.
O produtor Nédio Deconto, de Erebango-RS, esperava colher cerca de 80 sc/ha, mas já no primeiro talhão colheu apenas 56 sc/ha. Além disso, a qualidade não está alcançando os níveis desejados para comercialização. “O pH dele está muito baixo em relação ao que foi feito, era para ter uma colheita bem superior a essa, com qualidade melhor. Então só pelo motivo do clima é que resultou nisso aí. Então eu teria estar colhendo hoje trigo com 82, pelo menos 80 de pH“, afirma.
A consequência da baixa qualidade do trigo é a redução dos valores recebidos pelos produtores. Com isso, é mais difícil obter lucros com a colheita, que deve no máximo cobrir os custos de produção. “Tendo em vista que o custo de produção gira em torno de 50 sacas por hectare, na verdade, não vai sobrar dinheiro, vai ter até um certo prejuízo. E isso também leva o nosso produtor a se desmotivar, porque ele é um profissional que vive da agricultura”, aponta Tonello.
Essa desmotivação pode levar a uma diminuição ainda maior da área de trigo no ano que vem. Ainda assim, produtores insistem no trigo por precisarem realizar a cobertura de solo e rotação de culturas no inverno. Entre as culturas disponíveis, o trigo é o que representa as melhores chances de rentabilidade. Além disso, a tradição de plantar trigo também sustenta o cultivo.
“A gente planta o trigo e a gente gosta porque vem desde os pais e os nonos [avós] que plantavam, e é uma planta que é muito bonita, uma planta sagrada, então a gente sempre planta e vamos continuar lidando, esperando safras melhores nos próximos anos. A esperança do produtor é sempre o ano que vem e aí a gente teima em plantar de novo”, relata Deconto.