A previsão da safra de trigo brasileira sofreu novo reajuste negativo no mês de novembro, chegando a uma estimativa de 8,1 milhões de toneladas, total pouco maior do que a safra de 2023, cuja frustração climática resultou em 8,096 milhões de toneladas. Em relação à previsão inicial da safra, divulgada em fevereiro pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra de trigo apresenta quebra de 20,5%. Antes da semeadura, modelos estatísticos apontavam para a possibilidade da produção chegar a praticamente 10,2 milhões de toneladas.
“As condições climáticas desfavoráveis durante o ciclo da cultura acarretaram na redução de produtividade no Paraná, o que reduziu a produção nacional em relação ao levantamento passado”, explica o Levantamento de Grãos da Safra 2024/25, divulgado na quinta-feira (14), pela Conab.
A produtividade deste ano ainda deve ser 13,3% melhor do que a do ano passado, totalizando 2,6 mil kg/ha, contra 2,3 mil kg/ha do que em 2023. Porém, a área da cultura caiu 11,6%, passando de 3,4 milhões de hectares para 3 milhões de ha.
De acordo com o Acompanhamento das Lavouras, divulgado pela Conab na segunda-feira (11), 79,4% das lavouras do país foram colhidas e apenas os estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina ainda possuem lavouras no campo.
Mercado
Diante desse cenário, os agentes do mercado brasileiro de trigo seguem pouco ativos. Segundo o analista de Safras & Mercado, Elcio Bento, no Rio Grande do Sul, os números de produtividade vêm decepcionando. “A qualidade também é motivo de preocupação em muitas regiões do estado. Com isso, quem possui grãos com bom padrão de qualidade não tem demonstrado interesse de venda nos atuais patamares. A negociação de feed tem sido mais agressiva”, disse.
Conforme a Conab, as incertezas em relação à safra que está sendo colhida propiciaram apenas negociações pontuais. No Paraná, a média mensal de preços foi cotada a R$ 77,56 a saca de 60 quilos, apresentando desvalorização mensal de 1,74%, já no Rio Grande do Sul, a média mensal foi de R$ 66,77 a saca de 60 quilos, com desvalorização mensal de 3,5%.
No mercado internacional, foi registrada uma valorização de 1,07% nas cotações e a média mensal alcançou os US$ 271,09 por tonelada. Esse cenário foi impulsionado pelas condições climáticas adversas em grandes regiões produtoras, como a Rússia, Estados Unidos e a Argentina, juntamente com novas restrições nas exportações russas.
Rio Grande do Sul
No Rio Grande do Sul, até setembro, as lavouras estavam dentro da normalidade. Porém, a primeira quinzena de outubro registrou chuvas recorrentes, alta nebulosidade e altos índices de umidade do ar, o que prejudicou as lavouras em maturação em importantes regiões produtoras, especialmente no Alto Uruguai e Missões. Ainda assim, lavouras com boa condução fitossanitária ao longo do ciclo apresentam bons rendimentos.
As demais lavouras do estado estavam em enchimento de grãos. Apesar das chuvas afetarem o manejo fitossanitário, o impacto na produtividade deve ser pequeno.
Na região sul, campanha e depressão central há perdas na ordem dos 10% nas primeiras áreas colhidas. No Planalto Médio, também são observadas perdas, mas as produtividades ainda são superiores à média estadual. “De modo geral, as lavouras ainda apresentam potencial dentro do estimado inicialmente”, ressalta a Conab.
A qualidade do produto também apresenta grande variabilidade entre e as regiões. Com alguns grãos alcançando PH 80, a maior concentração de produto se dá na faixa entre 76 e 78.
Paraná
No Paraná, os períodos sem chuva permitiram a colheita e mantiveram a qualidade do trigo. O estado registra perdas na cultura devido aos problemas climáticos durante o ciclo, principalmente estiagem, temperaturas altas e geadas, além de doenças, como oídio, giberela e brusone.
“Durante outubro, não houve chuvas ao ponto de prejudicar a maturação das lavouras no campo, entretanto ainda existe a possibilidade de revisão da produtividade, inclusive por efeito negativo das geadas de agosto”, ressalta a Conab.
Santa Catarina
No oeste de Santa Catarina, a elevada incidência de radiação solar e as chuvas estão favorecendo as lavouras, mas o avanço do oídio preocupa produtores e é apontado como a principal causa de perdas. Ainda assim, a expectativa para a safra do grão permanece positiva devido às condições climáticas favoráveis ao longo do ciclo de desenvolvimento da cultura. Os primeiros resultados de colheita indicam PH na faixa de 76 a 80 e umidade variando entre 15% a 16%.
Já no meio oeste, a expectativa é de safra cheia, com plantas expressando vigorosamente seu potencial produtivo. A incidência de geadas e doenças na fase reprodutiva afetou a produtividade nos locais onde o plantio ocorreu mais cedo, em junho, baixando a expectativa de colheita para menos de 3 mil kg/ha. Já onde o plantio foi realizado em julho, as chuvas não afetaram tanto a cultura e desfavoreceram a giberela e o oídio. A estimativa para região mais central é de produtividades em torno de 3,6 mil kg/ha. Com relação à qualidade, a expectativa é de PH em torno de 80 a 82, principalmente nas áreas semeadas mais tardiamente.
No extremo-oeste, a produtividade tem ficado com média de 3,5 mil kg/ha. “Até o momento, as lavouras da região apresentam uma condição sanitária satisfatória e desenvolvimento adequado. Os produtores estão aproveitando a elevação dos preços do cereal para comercializarem a safra, quitarem os custos dos insumos e fazerem caixa para gastos eventuais, principalmente aqueles relacionados com a safra de verão, que está sendo implantada”, informa a Conab. A percepção sobre os valores modais de PH está próxima de 78.