Entrevista

Preço do trigo: Qual o melhor momento para comercializar?

Diversos fatores tornam o mercado de trigo um campo de disputas mais competitivo neste ano e dificultam a comercialização

Diversos fatores estão tornando o mercado um campo de disputas ainda mais competitivo neste ano. Em uma verdadeira queda de braço, visando o melhor preço do trigo, produtores se mostram reticentes para vender e compradores evitam ir ao mercado, com ambos os lados pouco dispostos a ceder.

No Rio Grande do Sul, apenas cerca de 5% a 6% da safra gaúcha foi negociada antecipadamente, segundo o analista de Safras & Mercado Elcio Bento. Do ponto de vista vendedor, é esperada uma quebra da safra paranaense, o que poderia elevar os preços. Do lado comprador, os moinhos enfrentam o aumento de preço do grão, especialmente interno, e a queda do preço da farinha. Além disso, há expectativa da entrada da safra atual, o que pode reduzir os preços mesmo com a quebra no Paraná.

Na avaliação de Bento, em um primeiro momento, os produtores estão em desvantagem e os preços devem apresentar tendência baixista. No entanto, essa situação pode se inverter ainda neste ano comercial, principalmente pela demanda paranaense e internacional de trigo.

“Me parece que a gente vai ter um ano de entressafra com preços mais atrativos, porque no período da colheita os preços vêm com a paridade de exportação, mas na entressafra tende a mudar para paridade de importação”, explica o especialista. Nesse caso de paridade de importação, os preços internos dependem do preço do trigo importado do mercado internacional, o que tende a elevar os preços do cereal.

Ainda assim, é recomendado ter precaução ao realizar a comercialização e não concentrar as negociações em um único período. “A principal dica continua sendo escalonar a venda. No escalonamento para essa safra, me parece que devemos ser menos agressivos durante a safra, mesmo assim, vendendo, e aproveitar momentos de entressafra, esses sim devem garantir preços mais atrativos”, destaca Elcio Bento.

Fatores para formação do preço do trigo

Ao avaliar o mercado de trigo, é preciso prestar atenção no mercado internacional e cambial e à produção brasileira. Esses fatores são os principais determinantes do preço do trigo. “Este ano temos algumas algumas particularidades, a questão da safra brasileira em queda, o mercado internacional ajustado e o mercado cambial, que ainda está com uma grande incerteza. […]. Tem todo um cenário que a gente precisa estudar”, explica o analista.

Neste momento, o mercado internacional recebe a safra do Hemisfério Norte. Os países da Europa, em especial Rússia, Ucrânia e Cazaquistão, registraram uma safra menor que se traduz em menos trigo para exportação. Já os Estados Unidos e Canadá estão colhendo uma safra positiva, o que vem pressionando os preços internacionais para baixo.

No saldo total, os estoques globais caíram e não há folga no abastecimento. “Então toda essa conjuntura, saindo de um volume acelerado de venda de trigo, especialmente na bolsa da Ucrânia, pode fazer com que no período da entressafra a gente tenha recuperação de preços”, explica Bento. No mercado internacional, no início de setembro, os preços já apresentam recuperação.