Cobertura da Safra de Trigo 2024

Azevém resistente exige diferentes estratégias de manejo

Produtores buscam alternativas para manejar a invasora que tem o potencial de causar grandes prejuízos ao trigo

A principal planta daninha do trigo, o azevém, é uma preocupação antes mesmo da cultura entrar no campo e exige cuidados que vão muito além da safra. Diante da resistência aos herbicidas e dificuldade de controle, produtores buscam alternativas para manejar a invasora, que tem o potencial de causar grandes prejuízos ao trigo.

“Ela é uma cultura de difícil controle, se a gente deixar para manejar na pós-emergência do trigo, as opções são bem limitadas para controlar ela. Além do alto custo que esses herbicidas têm”, explica Lucas Cossul, produtor e engenheiro agrônomo de Tapera-RS.

Resistência

A resistência e dificuldade de controle foi desenvolvida ao longo de anos de uso reiterado de herbicidas e graminicidas por produtores de todo o Sul do país. Ativos que eram altamente efetivos já não geram mais resultados na maioria das áreas de cereais de inverno.

Primeiro, foram esgotadas as opções para a dessecação pré-semeadura do azevém. Por isso a dificuldade de controle da planta daninha começa antes mesmo da instalação do trigo. O mesmo ocorreu com ferramentas que eram utilizadas na pós-emergência. “Em algumas situações, nós não temos mais herbicidas que possam ser utilizados para fazer o controle do azevém, ou seja, a resistência ao glifosato, aos graminicidas e aos inibidores da ALS inviabilizou o controle de azevém em diversas áreas”, afirma o pesquisador Leandro Vargas, da Embrapa Trigo.

O azevém  é a principal planta daninha que infesta em cereais de inverno | Foto: Leonardo Wink/Destaque Rural

Manejo

Atualmente a principal recomendação é o manejo químico com pré-emergentes combinado com o manejo integrado do azevém. “O pré-emergente é aquele que você planta o trigo ou o cereal de inverno e aplica imediatamente o produto antes que o azevém tenha emergido e aí, durante o processo de germinação, esses produtos controlam o azevém”, explica Vargas.

Existem muitas situações em que o controle é impossível de ser feito ou não fica em condições de colher a cultura.

– Leandro Vargas, pesquisador da Embrapa Trigo.

Em seguida, é indicado complementar o controle com herbicidas pós-emergentes. “Na maioria dos casos você ainda consegue um controle satisfatório, mas existem muitas situações em que o controle é impossível de ser feito ou não fica em condições de colher a cultura e ter um rendimento, ou seja, a perda de produção é significativa, causando prejuízos ao produtor”, ressalta o pesquisador.

Cobertura

Considerando as limitações do manejo químico, é essencial adotar outras práticas dentro do sistema produtivo para controlar o azevém. A principal recomendação é manter o solo coberto durante os 12 meses do ano e não deixar áreas em pousio.

“Colhe a cultura de verão e imediatamente depois implanta-se uma cultura de inverno para servir de cobertura e não dar espaço para o azevém se estabelecer”, indica Vargas.
Deixar as áreas em pousio abre espaço não só para o azevém, mas também para a buva e demais plntas daninhas, aumentando a dificuldade de controle. “Sempre é mais fácil, mais seguro, fazer a cobertura de solo e criar um cenário mais favorável para o controle das plantas daninhas no momento da implantação dos cereais de inverno”, reforça o pesquisador.

Essa estratégia tem se mostrado efetiva nas áreas cultivadas por Lucas Cossul em Tapera. Nesse caso, a opção adotada para cobertura foi o trigo mourisco, cultivado após a colheita do milho. “É bom para controlar o azevém no sistema, depois a gente cultiva o trigo na área, já com uma pressão menor do azevém”, destaca. Além de ter um baixo investimento, é possível comercializar o trigo mourisco ou manter na lavoura para palhada e cobertura de solo.

Lucas Cossul avalia que vem conseguindo manejar bem o azevém, mas ainda considera a planta daninha desafiadora | Foto: Leonardo Wink/Destaque Rural

O manejo do azevém na propriedade vai além da cobertura e é realizado durante todo o ano, considerando todo o sistema produtivo, inclusive as culturas de verão. “O azevém é uma planta daninha que eu considero como a mais importante das culturas de inverno, ao longo dos anos ele já vem apresentando casos de resistência a herbicidas e por isso fazer o seu manejo durante todo o sistema produtivo, pensar em rotação de culturas, em controle de plantas daninhas em seus estádios iniciais e em rotação de herbicidas é muito importante para que ele não interfira nas culturas, especialmente o trigo, e não torne inviável o cultivo na nossa região”, destaca Cossul.