Por Haroldo Tavares Elias, analista de socioeconomia da Epagri/Cepa e Cristina Pandolfo, pesquisadora da Epagri/Ciram
Cada espécie vegetal possui um ciclo fenológico característico que depende das condições climáticas, em especial temperatura e umidade relativa, importantes para a atividade metabólica e para o desenvolvimento normal das plantas.
O desenvolvimento de cada espécie vegetal está relacionado com os fatores climáticos em cada fase do ciclo da cultura, sendo controlado a partir da soma térmica diária necessária para cada estágio. Os valores de soma térmica são diferentes entre as variedades de plantas, que representam o chamado graus-dia.
No caso da cultura do milho e outras espécies, a temperatura é um fator muito importante para o desenvolvimento. O ideal é ter temperaturas em torno de 25°C a 30°C durante o dia, para realização da fotossíntese, e noites com temperaturas amenas, para diminuir a taxa de respiração e aumentar o acúmulo de fotoassimilados, o que resulta na produção de grãos.
De modo geral, na atual safra estão sendo registradas temperaturas mensais abaixo do padrão normal climatológico de Santa Catarina, refletindo diretamente no acúmulo de graus-dia para o período (soma térmica). Para a cultura do milho, a temperatura mínima basal de 10ºC tem sido usada como referência, abaixo da qual não há contribuição efetiva das temperaturas no crescimento e desenvolvimento das plantas. Em Chapecó, entre os meses de março e outubro de 2022 (com exceção do mês de julho), o totais mensais acumulados de graus-dia foram inferiores aos climatológicos, o que expressa, em termos numéricos, a possível postergação de períodos importantes para a cultura, como floração e maturação, juntamente com o ajuste das práticas de manejo importantes em função das fases fenológicas.
Segundo informações da Epagri/Cepa, até a primeira semana de outubro mais de 70% da área prevista para o cultivo do milho havia sido semeada no estado, com lavouras na maioria em estágio vegetativo de desenvolvimento. Os efeitos das baixas temperaturas registradas podem afetar o desenvolvimento normal e refletir sobre o potencial produtivo na atual safra.
Com isto, é necessário observar alguns fatores técnicos:
- A variabilidade climática interanual está relacionadas às alterações no padrão climático, com efeito direto para a agricultura e maior intensidade nos últimos anos;
- É importante considerar o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), que consiste em um instrumento de política agrícola e gestão de riscos na agricultura;
Em relação a outras culturas, há observações pertinentes:
- Para a cultura do trigo, as condições climáticas até a primeira quinzena de setembro, com a ocorrência de chuvas bem distribuídas, foram muito favoráveis ao desenvolvimento das lavouras, com plantas apresentando bom perfilhamento. A partir da segunda quinzena de setembro, as temperaturas caíram bruscamente, com a ocorrência de geadas tardias nas regiões de maior altitude do estado. Outros dois aspectos relevantes foram o grande número de dias nublados e o excesso de chuvas no mês de outubro, que tem gerado condições ideais para o aparecimento de doenças fúngicas como Brusone e Giberela, que afetam diretamente os grãos do trigo, provocando perdas de qualidade e produtividade das lavouras. Até o momento, ainda não é possível avaliar com precisão eventuais perdas, mas existe a possibilidade real de redução na produtividade média estadual estimada.
- atraso no crescimento inicial do arroz, inclusive do pré-germinado;
- atraso no crescimento inicial das plantas de maracujazeiro (o que pode atrasar em algumas semanas a primeira colheita);
- atraso na brotação das manivas de mandioca plantadas em agosto e setembro;
- diminuição do crescimento e do lançamento de novos cachos de bananeira.
Fonte: Epagri