Clima

El Niño próximo no seu ápice 

Texto de Jossana Ceolin Cera, Consultora Técnica do Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA). Meteorologista (CREA-RS 244228). 

Em algumas regiões do RS, o mês de novembro foi mais chuvoso que o de outubro. É o caso da faixa mais central e de uma área mais ampla no Norte e no Nordeste do RS. De modo geral, Norte do Estado recebeu os maiores volumes, acima de 400 mm. A região com os menores acumulados foi a Fronteira Oeste, com menos de 120 mm (Figura 1 A). A anomalia da precipitação foi positiva em quase todo o RS, com exceção da Fronteira Oeste, que ficou com anomalias negativas (Figura 1B). A semeadura do arroz no RS chegou aos 82% de área no final de novembro, sendo que a Região Central seguiu sendo a mais atrasada, com 56%, por ser novamente castigada pelas cheias de rios durante esse mês. 

As precipitações ocorreram de forma bem distribuída ao longo de novembro. No entanto em Bagé, foi registrado um acumulado de 100 mm em um único dia. Precipitações intensas assim não são boas para a agricultura, visto que a água escoa-se superficialmente, ocasionando muitas vezes danos e não sendo aproveitada pelas plantas (Figura 2). Neste mesmo município, no início do mês, houve um episódio de frio mais intenso, com temperatura mínima abaixo de 10 °C. No restante do mês, as temperaturas diárias no RS oscilaram entre dias mais quentes e mais frios que a Normal Climatológica (NC) (Figura 2). 

Situação atual do fenômeno ENOS (El Niño – Oscilação Sul) e perspectivas 

Segundo a NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), na atualização do dia 14 de dezembro de 2023, o sistema oceano-atmosfera seguiu acoplado e refletindo as condições de um El Nino forte. Segundo essa fonte, o fenômeno deve persistir, com 75% de probabilidade até o outono de 2024 (trimestre Mar-Abr-Mai). O aquecimento das águas do Oceano PacíficoEquatorial, na região Niño3.4, seguiu intensificando-se em novembro, com anomalia de +1,9 °C, ou seja, no patamar de um El Nito de intensidade forte (Figura 3). A anomalia do trimestre Set-Out-Nov de 2023 foi de +1,8 °C, situando-se, também, no patamar forte. Esta anomalia trimestral, chamada de índice ONI (Oceanic Niño Inder) é a que, oficialmente, a NOAA utiliza para quantificar a intensidade desse fenômeno. Sendo assim, o Oceano Pacífico Equatorial está sob atuação de um evento El Niñio, de forte intensidade, mesmo que, nas últimas quatro semanas ele tenha flutuado pela intensidade muito forte. Já o aquecimento na região Niño 1+2 seguiu diminuindo em novembro,  mesmo assim, segue alto (+2,2 °C em novembro). 

O conhecimento da intensidade de um evento El Nino é importante, pois quanto mais forte for, maior será a probabilidade de se observar as mudanças características na temperatura, na precipitação e nos outros parâmetros. Isto não significa que os impactos em si serão muito fortes, mas os tomam mais prováveis de acontecerem. Ou seja, quanto mais forte for o El Niño, tem-se maior segurança em prever os padrões esperados. 

Segundo a NOAA, o El Niño persistirá, com 100% de probabilidade, até o trimestre Jan-Fev-Mar de 2024. Essa fonte prevê que o El Niño prosseguir até o trimestre Mar-Abr-Mai, de 2024, com 75% de probabilidade. Assim, o atual evento El Niño deverá ter seu pico ocorrendo entre o final de dezembro e o mês de janeiro. A fase Neutra deverá iniciar durante o trimestre Abr-Mai-Jun de 2024. 

Durante os dois últimos meses, principalmente, o bolsão de águas subsuperficiais com anomalias positivas de temperatura, no Oceano Pacífico Equatorial, tomou proporção maior na parte Central do Oceano, dando sustentação ao aquecimento em superficie e à ocorrência de El Niño de forte intensidade (Figura 4). 

Previsão de precipitação no trimestre janeiro, fevereiro e março de 2024 no estado do RS 

Para este trimestre, o IRI (International Research Institute for Climate Society) prevê, com 40% de probabilidade, que as precipitações fiquem acima dos valores da NC, na Metade Norte do RS, e dentro da NC na Metade Sul. O modelo CFS¥2 (Climate Forecast System, da NOAA), para janeiro e março, indica precipitações abaixo da NC na Metade Sul e dentro da NC nas demais regiões. Para fevereiro, esse modelo prevê precipitação acima da NC em todo o RS, Já a previsão INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) é de que as precipitações fiquem próximas da NC durante o trimestre Jan-Fev-Mar de 2024 (Figura 5). 

A interpretação é que, para esse trimestre, as precipitações ocorram, mas sem a mesma frequência daquelas da primavera. Vale salientar que o El Niñio não tem forte influência sobre o período do verão no RS. Obviamente que influenciará, mas não com o alto volume e a frequência de chuvas que foram observados na primavera. O trimestre Jan- Fev- Mar de 2024 deverá ser, sim, mais úmido que os últimos dois verões, além de ter umidade relativa do ar mais alta e temperaturas do ar acima da NC.

 

Alerta-se que esse trimestre poderá ter ocorrência de temporais isolados, com chuvas muito volumosas em curtos períodos, com possíveis danos ocasionados às lavouras. O ambiente favorável à formação de tempestades é mais frequente durante eventos de El Nino, devido à advecção de ar quente e úmido vindo da região Amazônica. Porém, o oposto também pode acontecer, ou seja, períodos curtos de tempo seco, sem chuvas, que poderão provocar prejuízos por déficit hidrico nas plantas das culturas de sequeiro em rotação com arroz irrigado.

Com tendência do trimestre Jan-Fev-Mar de 2024 ser mais úmido que o dos últimos verões ter umidade relativa do ar mais alta, assim como temperaturas acima da média, há a formação de um ambiente favorável à proliferação de doenças fúngicas, como a brusone no arroz e a ferrugem asiática na soja. Dessa forma, o produtor deve ter atenção especial nesta safra e fazer os manejos preventivos de controle dessas doenças, para amenizar a redução nas suas corretos produtividades.

Com a semeadura do arroz quase chegando ao fim no RS, o produtor deve agora, priorizar a semeadura da soja que, também, se encontra atrasada, devido à alta incidência de chuvas e atraso da semeadura do arroz. A fim de minimizar riscos, o produtor deve seguir atento, provendo as áreas com eficiente sistema de drenagem, para evitar os problemas ocasionados pelo excesso hídrico. A manutenção e limpeza de drenos e de canais de irrigação também devem estar em dia, para melhor escoamento da água das chuvas em excesso. Como há risco para eventuais estiagens curtas durante o verão,o sistema de irigação para as culturas de sequeiro em rotação também deve estar em condições de uSo.

Para melhores tomadas de decisão de manejo das lavouras de arroz irrigado e das culturas de sequeiro em rotação/sucessão, é importante que se faça o acompanhamento da previsão do tempo de sete a 15 dias, visando maior eficiência na execução das atividades programadas.