À procura dos passageiros no estacionamento de um shopping entre a Marginal Pinheiros e a Avenida Rebouças, em São Paulo, estava Francisco Monteiro Sobrinho. De terno e calça sociais, como manda a etiqueta da profissão, o simpático motorista puxa conversa comigo e, em poucos minutos, estávamos batendo papo sobre agronegócio – ali, a poucos metros da Faria Lima.
Ele nos leva para o município de Boituva, no interior de São Paulo, para conhecer a Connan, empresa de nutrição animal para a qual trabalha. No caminho, o motorista se mostra conhecedor do agro, falando da soja no Mato Grosso, é amigo de professor da FGV-Agro, tem um sobrinho que trabalhou na Amaggi. “Ele estudou comércio exterior e eu falei: o melhor setor para se trabalhar no Brasil é o agronegócio”, afirmou convicto, e contente por ter inspirado o familiar.
Francisco sabe da agricultura vertical na Holanda, defendeu que o Brasil se posicione contra as exigências impostas pela Comissão Europeia para importação de commodities e mencionou as exportações de tecnologia nacional para a África. Sobre o mercado interno, comenta o atraso na safra de soja e como o setor está de olho na performance da segunda safra.
É este assunto, da expectativa sobre as lavouras de milho, que aproxima Francisco de Fernando Penteado Cardoso Neto, presidente da Connan. Ambos não trabalham diretamente com o plantio da commodity, mas seus negócios são impactados indiretamente pelo rendimento do cereal.
As atenções ao milho
Na área de mais de 12 mil metros quadrados, cuja capacidade é de 100 mil toneladas por ano, ficam empilhadas toneladas de microminerais que objetivam um propósito: fabricar suplemento de gado de corte. No meio desta formulação, há o farelo de milho – e, subentendido, o acompanhamento do mercado sobre disponibilidade de volume e preço de mercado.
Para a matemática fechar, Neto ressalta que não é estratégico manter guardado um volume expressivo da matéria-prima. Nunca faltou o farelo para as atividades da fábrica, mas a compra precisa ser cadenciada. Quando questionado se a maior preocupação está em disponibilidade de produto ou preço, o presidente da Connan conta que observa ambos.
Na nova previsão de safra divulgada pela CONAB na terça-feira (12), há uma nova queda na produção de milho. Pela previsão atual serão cerca de 112,7 milhões de toneladas do grão, quase 15% a menos que o registrado em 2023. Mesmo assim, o suprimento interno não deve sofrer modificação e é isso que avalia Neto.
“A gente já trava o milho no mercado futuro, mas ainda vai precisar comprá-lo no físico. Não acreditamos que vai faltar milho internamente, mas nosso diretor de suplementos vai para o Mato Grosso semana que vem para ver de perto as lavouras, e saber o que realmente pode acontecer”, conta.
Expansão dos negócios
Confiante no ciclo de alta da pecuária no Brasil, o presidente celebra os 20 anos da empresa no país e mantém os olhos no futuro, falando de reformulação e ampliação de portfólio, e as obras para expansão da capacidade de estoque.
“Um dos limitantes para nosso crescimento é estoque do produto acabado. Temos 3% do market share de nutrição animal, e com nossa capacidade fabril dá para chegar em 10% do mercado sem fazer muitos outros investimentos”, diz Fernando Penteado Cardoso Neto
Existe, portanto, uma capacidade ociosa de produção, à espera de clientes da pecuária de corte, e também de leite. Um espaço fabril que atualmente trabalha em dois turnos, mas pode colocar um terceiro em operação. Para isso, a companhia quer crescer, aparecer e conseguir chegar a regiões de crescimento potencial, saindo do interior de São Paulo para Rondônia e até a República Dominicana.