O Rio Grande do Sul é o maior produtor nacional de azeitonas, mas neste ano, a safra será menor do que a do ciclo anterior. As fortes chuvas na época da floração e a fuligem das queimadas na Amazônia que chegaram até o Estado provocaram perdas significativas nas oliveiras (Olea europaea L.). A chamada “chuva preta” caiu em setembro do ano passado, exatamente na janela de polinização de parte dos olivais.
Os produtores gaúchos esperavam colher 3 mil toneladas de azeitonas na safra 2024/2025, mas agora a estimativa caiu para 1,8 mil toneladas. A maior parte tem como destino a produção de azeite extravirgem, de menor acidez, reconhecido como artigo especial ou premium. No Rio Grande do Sul, onde a oliveira foi introduzida oficialmente em 1948, a área plantada vem crescendo em um ritmo acelerado. O Estado conta 6,2 mil hectares dedicados à olivicultura e conta com 340 produtores em 112 municípios.
A produção está quase toda concentrada na Metade Sul do Estado, principalmente em Bagé, Barra do Ribeiro, Canguçu, Caçapava do Sul, Cachoeira do Sul, Encruzilhada do Sul, Pinheiro Machado, Santana do Livramento, São Sepé, São Gabriel, Sentinela do Sul e Viamão. Atualmente são 25 fábricas e cerca de 100 marcas de azeite.
Apesar da liderança na produção, o Estado não consegue atender à demanda do Brasil, de 100 milhões de litros/ano, fazendo com que o País importe quase todo o produto que é consumido. De todo azeite que o país consome, menos de 1% (0,24%) é produzido por sua lavoura.
De acordo com o Internacional Olive Council, entre 2013 e 2020, o Brasil importou uma média de 74 mil toneladas ao ano de azeite e óleo de bagaço de azeitona. Nesse período, a importação cresceu de 73 mil toneladas ao ano para 104 mil toneladas ao ano. Em 2020, oitenta por cento desse volume veio de Portugal e da Espanha.,
Na safra de 2022/2023 foram produzidos 580 mil litros. Em 2024, houve redução para 193 mil litros e, esse ano, provavelmente não chegará a 300 mil litros. Na próxima safra, no entanto, os agricultores gaúchos esperam dobrar a quantidade e produzir ao menos 600 mil litros de azeite.
Dificuldades
Além dos impactos causados pelos impactos climáticos, os produtores têm, agora, novos motivos para se preocupar. A recente decisão do governo federal de zerar a alíquota para importação de alimentos, incluindo o azeite de oliva, é um deles. “Quando a gente enxerga que a facilitação está para o produtor externo e não para o produtor interno, isso acaba nos desapontando”, reclama o presidente do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), Renato Fernandes,
Outro motivo de dor de cabeça para os olivicultores é a deriva de herbicidas hormonais, que provoca perdas nas culturas como uva. Azeitona, maça e noz-pecan. Na semana passada entidades representativas dos produtores, governo estadual e Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) discutiram o uso de herbicidas hormonais e a deriva em sua aplicação durante audiência pública na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
Fernandes lembrou que o azeite gaúcho recebeu 500 premiações nos últimos cinco anos, mas destacou que há quedas de produtividade e produtores que pensam em desistir. “Pessoas que pretendem entrar no setor estão preocupadas se tem área de soja próxima à sua propriedade. Isso nos traz uma grande preocupação com o nosso futuro, o que que pode acontecer para uma cultura que é uma cultura de médio e longo prazo, se teremos possibilidade de dar continuidade”, observa.
O dirigente atribuiu parte da queda na produção à deriva. “Um nome tão bonito que eu prefiro traduzir de uma maneira mais fácil para que a opinião pública entenda de vez a gravidade desse problema e, no meu entendimento, não é nada mais e nada menos do que vazamento de veneno para as nossas frutas”, declarou, acrescentando que é preciso sair do discurso, das instruções normativas.