Efeito Estufa

Projeto avaliará tecnologias que podem reduzir gases da pecuária

Segundo Rodiney de Arruda Mauro, pesquisador da Embrapa Gado de Corte (MS), a ideia é estabelecer um diferencial na produção agropecuária

Foto: Embrapa/Divulgação
Foto: Embrapa/Divulgação

Um amplo projeto de pesquisa vai instituir no Rio Grande do Sul um centro de referência para a avaliação de tecnologias com potencial de mitigar gases de efeito estufa (GEE) da pecuária gaúcha. Liderado pela Embrapa Pecuária Sul (RS), o trabalho foi aprovado em edital realizado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs).

O projeto tem entre os seus objetivos subsidiar o governo gaúcho na atualização dos inventários de emissão de GEE do estado e na formulação de políticas públicas, assim como disponibilizar tecnologias validadas para os pecuaristas trabalharem com foco em sustentabilidade.

Trabalho vai avaliar cinco pontos centrais

Intitulado “Avaliação de tecnologias com potencial de mitigar gases de efeito estufa nos campos e florestas nativas e cultivadas do Rio Grande do Sul”, o trabalho irá avaliar cinco pontos centrais, a genética de reprodutores bovinos de cinco raças quanto à relação da emissão de metano e produção de carne; o potencial de mitigação dos sistemas de integração Lavoura-Pecuária-Floresta com árvores nativas do Rio Grande do Sul; novas dietas para bovinos com capacidade de diminuir a produção  de metano entérico no rúmen dos animais; a validação no estado de marcas-conceito já lançadas pela Embrapa, como a Carne Carbono Neutro (CCN), Carne Baixo Carbono (CBC) e Carbono Nativo (CN); assim como a avaliação da carne produzida nesses modelos de produção.

Conforme Cristina Genro, pesquisadora da Embrapa Pecuária Sul e líder do projeto, o trabalho será uma oportunidade para avaliar as melhores ferramentas para tornar a pecuária gaúcha cada vez mais sustentável. “Vamos avaliar mecanismos importantes para a mitigação de GEE na pecuária, como o melhoramento genético animal, a suplementação energética com coprodutos regionais e os sistemas ILPF. Além disso, a validação das marcas-conceito CCN, CBC e CN oferecem uma perspectiva de valorização da carne gaúcha em um mercado cada vez mais exigente por produtos de qualidade e produzidos com sustentabilidade”, destacou a pesquisadora.

Manejo adequado é capaz de compensar em até 35% a emissão de metano

Conforme Genro, o manejo adequado do pasto é capaz de compensar em até 35% a emissão do metano pelos bovinos; a manipulação da fermentação ruminal com o uso de maior nível de proteína e concentrados e o melhoramento da dieta animal mitigam entre 10% e 20%; e o melhoramento genético animal tem um potencial de mitigar até 38% dessas emissões. “Essas tecnologias, analisadas em um balanço de emissão e fixação de carbono, são capazes de praticamente zerar essa balança”, destacou Genro.

Essas são algumas das principais tecnologias existentes para mitigar a emissão do metano pelos bovinos. A produção desse gás nos ruminantes acontece durante o processo de digestão. Depois de ingeridos, os alimentos vão para o rúmen, órgão do aparelho digestivo, onde bactérias ajudam na digestão por meio da fermentação, mas acabam produzindo também o gás. Esse alimento fermentado retorna para a boca do bovino para ser novamente mastigado. Nesse momento, o metano é emitido para a atmosfera pela eructação (arroto) dos animais.

Pecuária Baixo Carbono Certificado

Para apoiar as ações governamentais brasileiras, a Embrapa criou em 2019 a Plataforma Pecuária Baixo Carbono Certificada, cujo objetivo central é reunir marcas-conceito que agem como selos de garantia para a comercialização da carne bovina e seus derivados. Na plataforma está incluída a Carne Carbono Neutro (CCN), cuja certificação é focada na neutralização do carbono em sistemas com a presença de árvores plantadas (ILPF), a Carne Baixo Carbono (CBC), elaborada para certificar carne produzida em sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) ou em pastagens bem manejadas, sem a presença de árvores, e a Carbono Nativo (CN), cujo objetivo é certificar a carne produzida em pastagens com árvores nativas, nas quais o carbono foi mitigado ou neutralizado por meio da conservação desses componentes florestais.

A validação dessas três marcas-conceito é inédita no Rio Grande do Sul, e terá início agora com a execução do projeto. De acordo com Genro, esse é um grande diferencial do trabalho, que permitirá, futuramente, a certificação da carne produzida no estado com esses selos de sustentabilidade.

Diferencial

Segundo Rodiney de Arruda Mauro, pesquisador da Embrapa Gado de Corte (MS), a ideia é estabelecer um diferencial na produção agropecuária, valorizando modelos produtivos que tenham a capacidade de melhorar o balanço de carbono nos sistemas pecuários, tanto pela minimização da emissão dos animais, como pela fixação do carbono no solo, com pastagens bem manejadas, e com o uso dos componentes florestais. “A certificação dessas marcas-conceito pela Embrapa é um passo fundamental para a sustentabilidade da pecuária brasileira nos diferentes biomas, pois é possível cientificamente constatar que existem modelos pecuários de produção com capacidade de minimizar ou até neutralizar a emissão de metano”, destacou.

–A pesquisa é importante para termos informações atualizadas sobre as emissões, pois a conexão desses dados com programas de certificação, como CCN, CBC e CN, visa agregar valor à carne gaúcha e manter a sustentabilidade no agronegócio”, declara a secretária do Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul, Marjorie Kauffmann. “O trabalho será relevante para melhor compreendermos a pecuária do Rio Grande do Sul, gerando avanços na pesquisa de mudanças climáticas em bovinos e colaborando com o estado para o cumprimento dos compromissos assumidos de redução de emissões de GEE”, diz a secretária.