Apesar de estar presente na cultura e cotidiano dos gaúchos, o butiá ainda não é muito explorado comercialmente e a palmeira nativa do Estado (butiazal) está ameaçada de extinção. Tendo em vista também o potencial da fruta como fonte de renda, foi realizada a pesquisa “Diagnóstico de extração, processamento e comercialização de produtos oriundos de butiazais no RS”. O trabalho foi produzido por pesquisadores do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (DDPA/Seapdr).
Coordenada pela médica veterinária e doutora em Gestão Larissa Ambrosini, a pesquisa levou quase um ano, de julho de 2020 a junho de 2021. Ela agora está na fase de geração de resultados, que serão divulgados no ano que vem, por meio de artigo científico e outros materiais gráficos.
Existem oito espécies da palmeira no Estado e a ameaça de extinção ocorre porque o seu habitat está sendo pressionado, tanto pela expansão da agricultura e da pecuária, quanto pela expansão urbana. “Nesse contexto, o extrativismo do butiá poderia ser uma alternativa, através de um manejo sustentável, de sensibilizar, especialmente produtores rurais, para a preservação dessa espécie, uma vez que ela poderia ser uma fonte de renda”, explica Larissa.
Resultados
A proposta da pesquisa foi fazer um diagnóstico sobre o extrativismo do butiazeiro (Butia spp.) no Rio Grande do Sul, identificando e caracterizando as famílias que fazem uso econômico do produto e as estratégias de beneficiamento e comercialização de sua produção. Por fim, o levantamento busca fornecer dados sistematizados acerca dessa realidade em nível estadual. “Queríamos saber qual a quantidade de pessoas, produtores rurais que fazem algum uso; qual uso é feito a partir da folha ou do fruto, ou mesmo do caroço; e qual a destinação dessa produção”, explica Larissa.
O estudo mostrou que há presença de butiazais (incluindo lugares que não coletam ou utilizam) em 28.016 propriedades no Estado. Há maior número de propriedades com butiás na região Noroeste, seguido da mesorregião Centro-Oriental; e da mesorregião Metropolitana. “Isso é condizente com a estrutura fundiária do Estado. São as mesorregiões onde há maior número de propriedades rurais e com menor tamanho. A gente nota que a presença de butiazais não obedece a essa mesma proporção”, comenta Larissa.
As 28 mil propriedades equivalem a 7,7% das propriedades rurais do Rio Grande do Sul. Dessas, 16.170 famílias fazem extrativismo do butiazal, tanto para autoconsumo quanto para exploração comercial, segundo a pesquisadora.
A estimativa é de que exista, no Rio Grande do Sul, 5.346 hectares butiazais em diversos municípios. As maiores concentrações são nas mesorregiões Sudoeste e na Metropolitana. Outro dado levantado foi que a maior quantidade de produção e destinação de produtos oriundos do butiazal é pra autoconsumo. E o maior uso é sem processamento algum, que é o uso da fruta in natura. Depois vem o uso da fruta para fazer suco e também para fazer cachaça ou licor. O uso da palha é praticamente inexistente. De acordo com Larissa, a venda também é baixa. “Então, é muito pouco o aproveitamento”, lamenta.
Em relação aos produtores que realizam a venda de produtos da extração do butiazal, a pesquisa apontou que é maior o número entre os produtores orgânicos . Cerca de 40% vendem a fruta in natura, 30% processam o fruto para produzir polpa e vendem, e aproximadamente 17% processam o fruto para produzir geleia, cachaça e licor.
“Talvez os produtores orgânicos sejam o público a priorizar no desenho de alguma política pública que incentive o manejo sustentável, ou extrativismo sustentável do butiá”, avalia Larissa.
Questionados se veem nos produtos do butiazal um potencial de geração de renda para a sua família, 53% disseram que sim. Entre os produtores que realizam o manejo convencional, apenas 17% acreditam nisso.
“Perguntamos para os produtores e técnicos quais seriam os entraves para o desenvolvimento dessa cultura. Segundo eles, seriam: a falta de estrutura de processamento, a falta de políticas públicas de apoio a essa cadeia e a falta da cultura de uso do butiá. Não veem utilidade em um produto que é rico como o butiá”, lamenta Larissa.
Os benefícios e oportunidades apontados são a baixa demanda de insumos, porque é uma planta nativa adaptada; e a facilidade no manejo. Os técnicos destacam também o fato de ser uma prática conservacionista e dos produtos terem um alto valor agregado. Apenas um terço dos produtores e dos técnicos destacaram que seria uma alta demanda dos consumidores.
Políticas e incentivos
O objetivo do trabalho também é subsidiar propostas de públicas e incentivos. “Na verdade, a ideia veio dos colegas do DDPA, Adilson Tonietto e Gilson Schlindwein, que trabalham com a cultura há 15 anos, desde os tempos da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), extinta em 2016”. Os dois são responsáveis pelo banco de germoplasma (inédito para o butiazeiro), que fica no Centro de Pesquisas de Viamão.
“Que bom ver que o butiá, uma fruta tão conhecida dos gaúchos, pode gerar resultados econômicos, sociais e ambientais”, avalia a secretária da Agricultura, Silvana Covatti.
Contexto da pesquisa
Para o estudo, foi usada como base a Circular Técnica 26 da Fepagro, organizada pelos pesquisadores Adilson Tonietto, Gilson Schlindwein e Solange Machado Tonietto, e publicada em 2009. Historicamente, o butiá já desempenhou papel relevante na economia do Estado: a extração era utilizada para confecção de colchões e estofarias entre os anos de 1927 e 1950. Esse fato, provavelmente, garantiu a preservação de extensas áreas de butiazais.
Fonte: Seapdr