Como maior exportador de carne bovina do mundo, o Brasil vem sendo pressionado à diminuir a pegada de carbono na agropecuária, especialmente em razão da produção de gás metano.
Nesse aspecto, na COP26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), realizada em 2021, o Brasil aderiu ao acordo que prevê reduzir em 30% as emissões globais de metano até 2030.
Para atingir essa meta, o melhor caminho é aumentar a produtividade com uso de inovações para uma produção sustentável.
O metano (CH4)
O metano é um dos gases causadores do aquecimento global.
Seu potencial para elevar a temperatura global num curto espaço de tempo, como em 20 anos, por exemplo, é 80 vezes maior que o potencial do CO2 – no horizonte de 100 anos, é 28 vezes maior.
Na contramão de outros países, durante a pandemia em 2020, estima-se que a emissão de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil aumentou 9,5% frente a 2019, entre eles, o metano. A maior alta desde 2006.
Em 2020, a agropecuária foi responsável pela emissão de 577 milhões de toneladas de CO2 equivalente, ou 27% das emissões.
Do total, 373 milhões de toneladas (65%) vieram da fermentação entérica, processo digestivo de ruminantes, mais conhecido como “arroto do boi”. Entre as fontes de emissão da agropecuária também se destacam as lavouras de cultivo convencional e pastagens degradadas.
Contudo, as mudanças do uso da terra e floresta foram responsáveis pela maior fatia da emissão de gases de efeito estufa: 46% do total bruto ou 998 milhões de toneladas de CO2 equivalente.
Tabela 1.
Emissões de GEE no Brasil 2019 e 2020 (tCO2eq – GWP-AR5).
Fonte: SEEG / Compilado pela Scot Consultoria
Iniciativas
A pastagem degradada é a principal fonte de emissão do setor, estimada em 38,6 milhões de toneladas de CO2eq. As pastagens com algum grau de degradação estão estimadas em 80,9 milhões hectares.
O melhor caminho é a adoção de boas práticas agropecuárias, com o fomento e uso de tecnologias de mitigação e adaptação.
Neste aspecto, estímulos de políticas públicas, como o Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC), têm respondido aos compromissos de redução de emissão de GEE no setor agropecuário, preconizados na Política Nacional sobre Mudanças do Clima (PNMC).
Entre 2010 e 2015 houve um incremento de 108,2% ou 5,96 milhões de hectares de áreas com ILPF, responsável pelo sequestro de 21,8 milhões de toneladas de CO2eq no período.
Em 2020, as lavouras cultivadas sob plantio direto e os sistemas integrados lavoura pecuária tiveram uma remoção líquida de 53,6 e 50,6 milhões de toneladas de CO2eq, respectivamente.
Destaque para a pastagem bem manejada, com uma remoção líquida estimada em 150,1 milhões de toneladas de CO2eq, representando um aumento na remoção líquida de 2,6% em relação ao balanço de 2019, estimado em 146,3 milhões de toneladas de CO2eq.
Figura 1.
Balanço de emissões de carbono pelo solo do setor agropecuário em 2020.
Fonte: SEEG / Compilado pela Scot Consultoria
Em 2021 o plano entrou em seu novo ciclo, renomeado para Plano Setorial para Adaptação à Mudança do Clima e Baixas Emissão de Carbono na Agropecuária (ABC+), com metas até 2030.
A atualização do plano incorporou novas tecnologias de baixas emissões, agrupadas juntamente com as que já estavam presentes, sendo renomeadas de SPSabc (sistemas, práticas, produtos e processos de produção sustentáveis), com novas metas de expansão.
Caso a meta seja alcançada ao final desse ciclo novo, o Plano ABC+ poderá ser responsável pela mitigação de 1,11 bilhão de toneladas de CO2eq. Seria o equivalente a dois anos inteiros de emissões do setor, considerando a média da última década.
Nessa via, o pecuarista ainda pode se beneficiar com o mercado de créditos de carbono. Este mercado tem como objetivo a compra de créditos de carbono por países que não conseguirem atingir suas metas de redução de gases causadores do efeito estufa daqueles que reduziram as suas emissões.
Estima-se que os mercados voluntários de carbono no planeta movimentaram US$1 bilhão em transações em 2021. No Brasil, o potencial de geração de receita com créditos de carbono deve chegar a US$100 bilhões até 2030.
Importante ressaltar que a regulamentação deste mercado no Brasil não implica em se tornar mais uma tarifa aos produtores e sim criar oportunidades econômicas para o país que, por si só, tem potencial para ser protagonista mundial neste tema.
Considerações finais
A pecuária está na mira dos ambientalistas, em função dos altos volumes de GEE, em especial o metano que lançam no ar.
Contudo, a preocupação está, em sua totalidade, em pastagens degradadas, que são as grandes emissoras de carbono e de metano.
Apesar do acordo da redução de até 30% das emissões globais de metano até 2030 estabelecido na COP26 ser um desafio considerável, o Brasil dispõe de técnicas para tornar o agro um parceiro na solução desse desafio.
Por Thayná Drugowick, analista de mercado da Scot Consultoria