O ministro da Educação, Camilo Santana, foi ouvido como convidado nesta quarta-feira (22) por parlamentares na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados para esclarecer pontos sobre o tratamento dado ao agro nas questões da última prova do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Os deputados membros da FPA consideram que houve politização do tema nas provas e discriminação do setor agropecuário.
A reunião atende ao Requerimento de convite (152/2023) elaborado por 11 membros da bancada que questiona Santana sobre três questões específicas (70, 71 e 89) da prova do Enem e os critérios da banca organizadora do exame e referências usadas nas questões.
A sessão iniciou com a pergunta do deputado e membro da FPA, Paulo Bilynskyj (PL-SP) que questionou o ministro sobre a abordagem sobre os fatores negativos do agronegócio no cerrado. “A questão está errada. Esta classificação não existe, por uma questão técnica óbvia. Senhor ministro, não existe chuva de veneno. Isso é impossível. Chuva é uma precipitação da água da atmosfera”.
E prosseguiu: “Quando a questão fala que ocorre um cerco aos camponeses inviabilizando a manutenção da vida, ela está dizendo que o agronegócio é genocida, o que é errado, tecnicamente incorreto. O senhor irá determinar a anulação de uma questão que está em desacordo com todos os consensos já conhecidos por todos os seres humanos que estudaram?”
Em resposta, o ministro afirmou que não há menor interferência do Ministério da Educação ou do governo atual nas provas do Enem e que a comissão que elaborou a prova foi a comissão do governo passado. “Os professores foram selecionados em 2020, os itens foram criados em 2021.
Em seguida o deputado Paulo Bilynskyj rebateu: “eu entendo que a questão foi formulada pela comissão do último governo, mas o senhor tem que anular uma questão que está obviamente errada, a gente tem que ter honestidade intelectual, esse é o Ministério da Educação, a educação tem que ser correta, se não, não vale nada”.
No decorrer da sessão, a deputada Bia Kicis (PL-DF), que presidiu a mesa no início da audiência, também repudiou a questão 89 do exame do Enem que ataca o agro no Centro-Oeste. “Eu tive o prazer e a honra de trabalhar com o ministro Alysson Paolinelli, um grande brasileiro e ministro da agricultura. Ele foi responsável por tornar as terras do Centro-Oeste, que eram terras que nada valia, que não eram terras plantáveis, em um grande celeiro. Foi feito no cerrado algo que deve servir de exemplo para o mundo. Eu tenho muito orgulho do agro no Distrito Federal”, pontuou a parlamentar e membro da FPA.
“Nós estamos tratando aqui de uma questão que foi elaborada a partir de um livro que trata de interpretação. Isso significa que não foi um posicionamento do governo e nem do Ministério da Educação”, respondeu Santana.
Já o deputado Zucco reforçou que a agropecuária representa quase 30% da arrecadação do PIB. “O governo não respeita o agro. Todo mundo gosta de falar que o Brasil é o celeiro do mundo, que alimenta um bilhão de pessoas e o ENEM faz uma questão dessa. A minha fala é como professor e estou aqui com a intenção de que o agro seja respeitado”, afirmou.
O ministro respondeu que o fato de ter saído uma questão do ENEM que foi elaborada pelo governo passado, isso não quer dizer que o presidente Lula é contra o agronegócio. “Repito, o maior Plano Safra da história desse país foi lançado agora pelo presidente”, pontuou o ministro Santana.
Para o vice-presidente da FPA, deputado Evair de Melo (PP-ES), o posicionamento de Santana foi lamentável e trouxe respostas rasas. O parlamentar esperava que o ministro fosse mais pragmático e crítico ao conteúdo da formação do Enem, que será a base de materiais que serão trabalhados nas salas de aulas no futuro.
“O ministro mostrou total irresponsabilidade com o principal setor da nossa economia. Todo tempo se justificando e trazendo posições ideológicas diferentes, que é lamentável. Nós pedimos ao ministro que faça uma intervenção de todo conteúdo já produzido, seguiremos monitorando”, frisou o parlamentar.
Fonte: FPA