Enquanto a regulamentação brasileira sobre o mercado de créditos de carbono tramita no poder legislativo, o mercado voluntário, quando as negociações são feitas diretamente entre as partes, segue em expansão. Segundo relatório da Ecosystem Marketplace, o valor dessas transações chegou a quase a US$ 2 bilhões em 2021, número quatro vezes superior ao registrado em 2020. A estimativa é que a demanda por créditos de carbono possa aumentar 15 vezes até 2030, e 100 vezes até 2050, conforme aponta a consultoria McKinsey.
Atualmente, são emitidos cerca de 5 milhões de créditos de carbono provenientes do Brasil por ano. Esse montante é menos de 1% do potencial anual do país, também de acordo com a McKinsey. A consultoria ainda aponta que o Brasil pode atender 48% da demanda por crédito de carbono até 2030, em função, principalmente, da região amazônica.
O CEO da certificadora brasileira de créditos de carbono Tero Carbon, Francisco Higuchi, doutor em Ecologia e Manejo de Florestas Tropicais (UFPR/INPA/ FFPRI Japão) e que possui mais de 15 anos de experiência em projetos florestais e de estimativa de carbono na Amazônia, defende que o país assuma, nos próximos anos, um protagonismo nesse segmento. “O Brasil tem grandes talentos e, inclusive, abriga cientistas que ganharam o prêmio Nobel da Paz de 2007, devido à sua participação no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU. Aqui, há profissionais tão capacitados quanto no exterior. Por isso, podemos assumir o protagonismo nas diversas frentes”, destacou.
Higuchi explica que, nos próximos anos, deve ocorrer um amadurecimento do mercado de créditos de carbono, com o surgimento de novos atores e mais investimentos para a área. A própria Tero Carbon, criada em 2022, é a primeira certificadora brasileira de créditos de carbono a verificar um projeto com metodologia 100% nacional. De acordo com o especialista, entretanto, para que haja um crescimento mais significativo do ecossistema será necessário uma composição de eventos. “Em primeiro lugar, é importante uma conscientização da sociedade de que é preciso investir em conservação para promover o desenvolvimento e, sobretudo, para salvar a humanidade e o nosso modo de vida”, disse.
O especialista também reforça a necessidade de regulamentação para que o mercado de créditos de carbono, como um todo, prospere. Porém, apesar da importância, não acredita que o mercado regulado brasileiro seja aprovado no próximo ano. “Essas questões estão sendo discutidas há muitos anos e percebemos pequenos avanços. Mas não acredito que haja uma aprovação no ano que vem. De qualquer forma, a tendência é que em algum momento haja um salto exponencial, com a definição dessas regras”, disse Higuchi.
O impulso para a negociação de créditos de carbono, no curto prazo, deve vir dos fundos de investimento, defende o especialista. O mercado financeiro deve valorizar ainda mais as iniciativas sustentáveis e demandar componentes ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança), utilização de fontes de energias renováveis e compensações de emissões, por exemplo. Outro avanço deve vir da facilitação da comercialização dos ativos ambientais, já que neste ano a B3 (bolsa de valores brasileira) anunciou uma parceria com a ACX Holding, uma plataforma para negociação de créditos de carbono, além de ter sido lançada a B4, uma bolsa de ação climática, para transação de créditos de carbono.
Mais uma perspectiva vislumbrada por Higuchi para 2024 é uma mudança no tipo dos projetos que geram créditos de carbono. Conforme a Ecosystem Marketplace, até 2021, os projetos de energia renovável representavam a maior parte dos créditos transacionados no mundo no mercado voluntário. A partir de então, houve um avanço dos créditos florestais. Atualmente, uma parcela pequena é proveniente de áreas de reflorestamento. “Devido a alguns episódios em que se constatou insegurança sobre os créditos gerados em áreas de conservação, o mercado deve optar por áreas de reflorestamento, mesmo que a geração de créditos seja menor ou leve mais tempo”, afirmou Higuchi. Apesar disso, o especialista alerta para a importância dos projetos de conservação e preservação e sua centralidade para o equilíbrio climático. Uma última tendência apontada pelo especialista é que os investidores devem buscar iniciativas que aliem benefícios sociais e econômicos aos projetos ambientais.
Agronegócio
Mercado voluntário de créditos de carbono deve crescer em 2024
Especialista defende que país assuma protagonismo em função do seu potencial de geração de créditos de carbono