Por Adilson de Paula Almeida Aguiar*
Em março de 2017 eu escrevi o primeiro artigo para este site. De lá até dezembro de 2021, quando estou escrevendo este texto, foi possível levar ao leitor conteúdos de praticamente todas as áreas da ciência em pastagem. Desde critérios para a escolha de espécies forrageiras, passando pelo estabelecimento da pastagem, construção da infraestrutura da fazenda, manejo do pastejo, manejo e controle de plantas infestantes e de pragas, correção, adubação e irrigação do solo, planejamento alimentar…
Em quatro anos e nove meses, o que mudou na área de produção animal em pasto? Houve avanços? A partir desta edição pretendo iniciar uma segunda etapa neste site. Escreverei sobre os mesmos temas, mas trazendo para o leitor os avanços em pesquisa nacional e as experiências práticas de campo. Será novamente um passo a passo. Iniciarei escrevendo um conteúdo que não escrevi na primeira etapa – como inventariar recursos de projetos de pecuária para a emissão de um diagnóstico e a elaboração de um planejamento.
O objetivo de inventariar os recursos disponíveis em uma fazenda é diagnosticar a situação atual e a condição potencial da atividade em questão.
Após 11 anos atendendo a pecuaristas (de 1991 a 2002) cheguei à conclusão de que a maioria não estava preparada para receber um consultor em sua propriedade. Como era? Eu chegava para o trabalho e começava a pedir dados e informações sobre a atividade e eles não tinham, ou tinham, mas estavam desorganizados e nem sabiam onde encontrar o que eu pedia. Percebi que não chegaríamos muito longe assim e, desde 2002, comecei a elaborar um formulário para inventariar recursos em fazendas de pecuária e de integração lavoura-pecuária, o qual venho melhorando nos últimos 19 anos. Cada campo do formulário tem uma finalidade, entenda o passo a passo para o seu preenchimento.
O preenchimento tem início com a anotação de informações e dados do proprietário para conhecê-lo e saber como se comunicar com ele nas próximas etapas de trabalho. Em seguida, são anotados informações e dados dos funcionários para conhecer os mesmos, saber suas funções, o tempo de serviço e a sua rotatividade com o intuito de diagnosticar problemas de recursos humanos e seu relacionamento interpessoal, calcular as relações cabeças do rebanho/integrantes direto no gado e cabeças do rebanho/integrantes totais.
Na sequência são preenchidos os campos com informações e dados da propriedade para conhecer o seu nome, sua localização (país, região, estado, município, acesso, distância, coordenadas geográficas e altitude), a ocupação e o uso do solo para fins de planejamento (área total, áreas de preservação ambiental, área útil e sua exploração com agricultura, pecuária etc.). No caso da pastagem é fundamental conhecer a área efetivamente empastada, pois o cálculo da taxa de lotação será feito sobre esta área e não sobre a área útil de pastagem. Por fim devem ser anotadas as atividades do negócio, se apenas pecuária ou pecuária e agricultura.
O conhecimento das normais climatológicas e dos solos é fundamental para a predição do potencial de produção de forragem e consequentemente da capacidade de suporte da pastagem para fins de planejamento estratégico (de longo prazo ou 12 meses) e tático (de médio prazo, que são as estações das chuvas e da seca na região tropical, e as estações de primavera/verão e outono/inverno na região subtropical do Brasil).
Do clima é preciso anotar dados de precipitação, evapotranspiração real e potencial, balanço hídrico, temperaturas média, máxima e mínima e umidade relativa do ar. Dos solos é preciso conhecer suas características gerais, tais como classe, relevo, profundidade, drenagem e fertilidade, e, se houver, o histórico de manejo da fertilidade, obtido por meio de análises de solos e registros de aplicação de corretivos e adubos para calcular se as doses aplicadas estavam acima ou abaixo das metas de produtividades estabelecidas e do potencial climático que será predito no diagnóstico.
Até aqui praticamente todas as informações e dados são coletados no “escritório” da fazenda (este escritório pode ser a sala, a varanda ou a cozinha da fazenda). Agora é o momento de ir a campo. Mas esta atividade ficará para a segunda parte deste artigo – aguarde.
*Zootecnista, professor de Forragicultura e Nutrição Animal no curso de Agronomia e de Forragicultura e de Pastagens e Plantas Forrageiras no curso de Zootecnia das Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda; investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.