Agronegócio

Guerra em Israel e o impacto indireto no agronegócio brasileiro

O ponto de atenção é o risco de o conflito escalar e envolver outros países do Oriente Médio, uma vez que os países árabes são importantes destinos das exportações agrícolas do Brasil, além de ser uma região que produz bastante petróleo. O bloco representa 6% do destino de todos os produtos do agronegócio em 2023.

Apesar de num primeiro momento a guerra entre Israel e o Hamas não indicar um impacto direto para o agronegócio do Brasil, o conflito pode trazer reflexos para as cotações do petróleo, que possui influência nos preços de fertilizantes e combustíveis, com consequências para custos de produção e fretes.

Em 2023, entre janeiro e setembro o Brasil exportou um total de US$ 570,4 milhões para Israel, o que representa apenas 0,2% do total de mercadorias embarcados pelo país, ou o equivalente a 1% do que o Brasil comercializou em exportações para a China no mesmo período, da ordem de US$ 77,2 bilhões.

As importações do Brasil com origem no país do Oriente Médio somam US$ 1,1 bilhão entre janeiro e setembro desse ano, sendo os principais produtos fertilizantes, defensivos e sementes. Desse total, 44% ou US$ 470,8 milhões dizem respeito à importação de fertilizantes.

Atualmente Israel é o 6º principal fornecedor de fertilizantes do Brasil, com um total de 1,2 milhão de toneladas e 4% de participação no total importado nos nove primeiros meses do ano, de 28,7 milhões de toneladas.

Como um importante país produtor de fosfatados e potássicos, no acumulado do ano até setembro, Israel foi o segundo principal fornecedor de Super Simples para o Brasil, com 367 mil toneladas (19% de participação), terceiro maior fornecedor de Super Triplo, com 119 mil toneladas (11%), além de ser o quarto maior originador de KCl para o Brasil, com 746 miltoneladas, o equivalente a 8% de participação.

Escalada dos conflitos entre Israel e Palestina

Apesar disso, a expectativa inicial é de que o cenário não traga impacto na disponibilidade interna de fertilizantes, uma vez que o Brasil virou o ano com estoques maiores e o fluxo de abastecimento segue acontecendo sem interrupções. Por outro lado, a partir do início do conflito, o petróleo vem apresentando elevação no mercado internacional, tendo o Brent subido nesta semana mais de 6%.

A elevação dos preços do petróleo pode trazer consequências para os custos de produção dos fertilizantes, sobretudo os nitrogenados. Além disso, o petróleo valorizado resulta em energia e fretes mais também caros.

O ponto de atenção é o risco de o conflito escalar e envolver outros países do Oriente Médio, uma vez que os países árabes são importantes destinos das exportações agrícolas do Brasil, além de ser uma região que produz bastante petróleo. O bloco representa 6% do destino de todos os produtos do agronegócio em 2023.

Entre janeiro e setembro desse ano, o Oriente Médio foi o destino de 29% das exportações de carne de frango do Brasil, além de ser também a rota de 12% dos embarques de açúcar, 10% dos embarques de milho, 6% da carne bovina e 5% dos produtos do complexo soja.

Caso haja o envolvimento de outros países da região no conflito, o trade de produtos agrícolas do Brasil com esses países estaria sob risco e, além disso, os preços globais de energia seriam fortemente afetados.

Dos países do Oriente Médio, o Irã é o principal destino das exportações dos produtos brasileiros, seguido pela Arábia Saudita.

Impactos imediatos

Após a eclosão do conflito, não foram observadas grandes variações nos preços futuros das principais commodities agrícolas (soja, milho, etc). Entretanto, impactos nos mercados agrícolas, mesmo em curto prazo, podem vir decorrentes da formação de custos, dado o viés altista do petróleo. Outro ponto primordial será o acompanhamento dos preços do gás natural europeu, o qual valorizou 32% desde 06 de outubro.

Por fim, sendo o gás natural um importante componente no custo de produção da amônia e, a partir disso, dos nitrogenados, o conflito trouxe um novo elemento que pode dificultar uma melhora da relação de troca da ureia com o milho, caso a tensão siga escalando.

Desse modo, como estamos em período de compra de fertilizantes para a segunda safra e a comercialização se encontra atrasada no mercado doméstico, será importante acompanhar a evolução desse mercado nas próximas semanas.

Fonte: Consultoria Agro Itaú BBA