COP30

COP30: fogo, caos e rebelião de delegações na cúpula do clima

Reta final da COP30 em Belém tem ambiente caótico com incêndio nas instalações e rebelião de delegações nas negociações

Incêndio atingiu instalaçõesda COP30 ontem em Belém e paralisou negociações na cúpula do clima | Foto: Paulo Lisboa/Divulgação
Incêndio atingiu instalaçõesda COP30 ontem em Belém e paralisou negociações na cúpula do clima | Foto: Paulo Lisboa/Divulgação

A COP30, realizada em Belém, entrou na reta final sob um clima de tensão, improviso e insatisfação generalizada. O que deveria ser uma vitrine do Brasil para o mundo — e uma conferência decisiva para destravar avanços na transição energética global — virou alvo de críticas por problemas de infraestrutura, um incêndio em plena área oficial de negociações e o risco real de colapso nas conversas políticas sobre combustíveis fósseis com uma rebelião de dezenas de delegações nacionais.

O estopim da crise veio ontem (20), quando mais de 30 países se rebeleram contra as negociações e enviaram uma carta dura à presidência da COP30, pressionando para que o texto final mantenha o chamado “mapa do caminho” — um roteiro global para abandonar os combustíveis fósseis. A ameaça foi explícita: não haverá apoio ao documento final caso essa diretriz seja retirada do rascunho político.

A reação internacional expôs um ambiente já fragilizado por rumores de que uma nova versão do texto negociado poderia excluir a proposta, originalmente incluída no primeiro rascunho divulgado dois dias antes.

Delegações da Europa, América Latina, Ásia e ilhas do Pacífico — entre elas Colômbia, França, Reino Unido e Alemanha — afirmam que o roadmap é essencial para garantir uma transição energéticajusta, ordenada e equitativa”. Algumas chegaram a cogitar abandonar as mesas de negociação se o item fosse suprimido. Alguns países cogitam abandonar a conferência se o pedido não for atendido.

Enquanto as pressões políticas cresciam, a sede da conferência mergulhava em caos. À tarde, um incêndio atingiu um pavilhão da Zona Azul, área oficial das negociações. A fumaça interrompeu atividades, fez delegações deixarem o local às pressas e deixou 21 pessoas com necessidade de atendimento médico — 19 por inalação de fumaça e duas por crise de ansiedade, segundo o Centro Integrado de Operações Conjuntas da Saúde (Ciocs). Ninguém sofreu queimaduras, mas o impacto sobre o evento foi imediato: atividades foram suspensas, e o prédio só reabriu à noite.

A ocorrência reforçou críticas que já vinham sendo feitas inclusive pela ONU, que alertou, em carta enviada no dia 12, para “reparos urgentes” na estrutura entregue pelo governo brasileiro.

O documento, assinado pelo chefe da UNFCCC, Simon Stiell, descrevia vazamentos de água atingindo teto e luminárias durante chuvas fortes, risco de exposição elétrica, falhas no ar-condicionado num dos locais mais quentes do país e problemas graves nos banheiros, como portas quebradas e acessórios danificados. “Criando considerável desconforto e preocupação reputacional”, registrou Stiell.

O governo federal respondeu alegando que não houve alagamentos, apenas “goteiras” e “ocorrências localizadas” provocadas pelo rompimento de calhas no Mídia Center e em um posto de saúde. Garantiu que tudo foi reparado “prontamente”. Mas as reclamações se acumularam nos corredores, em conversas entre negociadores e nas próprias delegações, que consideraram a situação incompatível com a importância de uma cúpula internacional desse porte.

No centro da crise, o presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, admitiu a complexidade do cenário. Em entrevista à TV Brasil, avaliou que o incêndio e a suspensão temporária das atividades alteraram o ritmo final das negociações. Ele afirmou que as conversas seguiram online e por telefone e que, com a reabertura da Zona Azul, haveria negociações ao longo de toda esta sexta-feira (22). Como ocorre em praticamente todas as COPs, a previsão de encerramento — inicialmente marcada para esta sexta (21) — pode ser estendida para permitir a busca por consenso.

Estamos sentindo que há vontade de um resultado bom e ambicioso aqui em Belém”, declarou. Ao mesmo tempo, reconheceu que as tratativas estão travadas pela geopolítica, por divergências sobre financiamento e pela falta de acordo sobre o ritmo da transição energética.

Essa combinação de impasse técnico, turbulência política e falhas estruturais transformou a COP30 em um teste duro tanto para o Brasil quanto para a credibilidade do próprio processo multilateral. Corrêa do Lago alertou que um mau desfecho “descredibilizaria o multilateralismo” e a capacidade de entregar resultados concretos aos mais afetados pela crise climática.

Fonte: Metsul