Agronegócio

Controle localizado de plantas daninhas na seca: toco ou basal

O pecuarista pode utilizar as duas ferramentas para o controle de plantas daninhas nas pastagens no período da seco, optando pela por uma ou outra técnica, ou até ambas em conjunto.

Estamos em pleno outono e em breve atravessaremos o período seco nas regiões mais tradicionais da pecuária brasileira. Com exceção apenas da região Nordeste, onde agora se inicia o período chuvoso, podemos esperar uma seca bastante pronunciada, conforme já preveem os institutos meteorológicos.

A perspectiva é que maio seja mais quente do que o normal em todo o Sul do Brasil, assim as áreas que já sofreram com a estiagem ficam mais secas que o normal. O padrão úmido permanece concentrado principalmente no norte do continente. O La Niña não está mais em curso e um El Niño fraco pode surgir no fim do ano.

O encerramento das chuvas, ou sua drástica diminuição, nesse período de outono/inverno, determina profundas transformações nas plantas existentes no ecossistema das pastagens, sejam elas plantas daninhas ou as forrageiras de interesse.

Além da seca característica, os dias mais curtos e as temperaturas mais amenas, ou até frias, provocam mudanças na fisiologia e na estrutura física da planta, diminuindo sua atividade metabólica, levando à planta a uma quase dormência. Do ponto de vista estrutural das plantas, as folhas caem, ou diminuem significativamente de tamanho, podendo também se tornarem mais encurvadas, ou enroladas, em algumas espécies. A cutícula, que é a camada de cera que recobre a superfície externa das folhas, torna-se mais espessa e menos permeável.

Todas essas transformações sazonais que ocorrem nos vegetais visam um único fim: a menor perda de água de seu conteúdo interno para o ambiente, que ocorrem naturalmente através da respiração ou evapotranspiração. Disso podemos concluir que, se a planta está em processo de defesa para não perder água para o ambiente, também está menos receptiva para que produtos aplicados nas folhas possam penetrar, translocar e atuarem em seus sítios de ação dentro da planta.

Esta é a razão por que não se aplicam herbicidas foliares na época seca nas pastagens. O produto simplesmente não penetra, não se movimenta dentro da planta, e não age como herbicida, frustrando quem tenta essa prática.

Impossibilitada a aplicação foliar de herbicidas, nos rentam duas alternativas para o controle das plantas daninhas das pastagens no período seco: a aplicação no toco, após o corte das plantas, e a aplicação basal de produtos, que não necessita o corte das plantas. E aí pode surgir a dúvida: que técnica utilizar?

Aplicação no toco

Esta operação é caracterizada com o corte do tronco, ou ramos da planta rente ao solo, e aplicação de produto no toco remanescente. O principal ingrediente ativo utilizado nessa modalidade é o Picloram, disponível em mais de uma dezena de marcas comerciais, ressaltando-se, porém, que todas as formulações são Concentrados Solúveis (SL) contendo 240g ae/l.

É desejável que a calda herbicida contenha um corante para que se identifique o toco tratado. Alguns produtos já contêm corante em sua formulação e, caso não o possuam, este pode ser adicionado durante o preparo da calda.

Recomenda-se que se utilize apenas água como diluente, sem necessidade de adição de qualquer outro produto: adjuvante, ureia, diesel etc.

Alguns cuidados devem ser observados na aplicação no toco, como: o corte do tronco deve ser o mais rente possível do solo; a aplicação deve ser feita imediatamente após o corte, e deve-se promover um bom molhamento da área cortada, sendo desejável também que a calda escorra até o solo, pois o Picloram é bastante absorvido pelo sistema radicular.

Para o bom desempenho da operação no campo, é recomendado que cada equipe de aplicadores seja composta por duplas ou trios de pessoas, com um ou dois trabalhadores cortando as plantas e outro, exclusivamente, aplicando o produto nas plantas recém-cortadas. Essa coordenação é importante por dois motivos: primeiro, porque são facilmente deixados para trás, sem tratar, tocos de plantas que o aplicador não viu serem cortadas; assim, a distância entre aplicador e cortadores deve se restringir aos aspectos de segurança de ambos, pelo manejo das ferramentas cortantes; o outro fator recomendado é aplicar no menor tempo possível após o corte do toco, uma vez que, imediatamente após o corte, a planta assume mecanismos de defesa que fecham os vasos de transporte de seiva, reduzindo progressivamente a penetração do produto e diminuindo, portanto, sua efetividade, com o passar do tempo.

A recomendação em áreas provenientes de sucessivas roçadas é que o corte do tronco das plantas para aplicação no toco seja feito abaixo da região da qual surgiram os rebrotes.

Plantas que apresentam múltiplos talos apresentam uma dificuldade adicional para tratamento no toco, pois, caso permaneça algum ramo sem corte e, consequentemente, sem tratamento, poderá não haver o controle dessa planta, mesmo se tratando todos os demais talos. O ramo não tratado representa fonte de reserva da planta e dele virão os recursos para que a planta sobreviva. Assim, condição favorável para o uso da técnica de controle de plantas lenhosas no toco, é que estas possuam preferencialmente um único tronco, ou talo, ou que o corte possa ser efetuado abaixo das brotações de roçadas anteriores, concentrando a aplicação da calda num único ponto da planta, ou seja, o toco cortado.

A existência de múltiplos ramos na planta, justamente direciona o tratamento para a modalidade de aplicação basal, que discutiremos na sequência.

Ainda sobre a aplicação de herbicidas no toco, se faz necessária uma ressalva sobre algumas espécies que apresentam estruturas de reserva no sistema radicular. As ressalvas referem-se a plantas realmente de difícil controle, normalmente presentes em biomas como o Cerrado e Amazônico, as quais, por estarem presentes de longa data na pastagem, sem controle, na maioria das vezes mostram remanescentes de diversas roçadas, e essas estruturas de reserva podem surgir na forma do que se chama popularmente de “batata”, como se observa em espécies como lixeira e sambaíba, além de outras com sistema radicular extremamente desenvolvido, como quina e ciganinha.

Nessas espécies, o sistema radicular é desproporcionalmente mais desenvolvido em relação à parte aérea, e o simples corte dos ramos rente ao solo não é suficiente para expor uma área de absorção adequada para a penetração do produto. Nesse caso, é preciso ir além da superfície do solo, cavando aproximadamente 10 a 15cm para atingir uma região de raízes mais grossas, expondo uma área maior de contato da planta, para penetração significativa de produto, o que é fundamental para sua ação. Obviamente, ferramentas simples de corte, como foices, não atingem esse objetivo, sendo indicados para tal enxadões com corte afiado.

Aplicação no basal

A aplicação basal é direcionada para plantas lenhosas, com talos mais finos, difíceis de serem tratados no toco. O Triclopir é o principal ativo utilizado nesse tratamento e há também produto contendo Picloram + Triclopir registrado para esse uso. Entretanto, tem-se observado tendência de descontinuidade da comercialização dessa formulação. As formulações comerciais de Triclopir, hoje mais de uma dezena de marcas comerciais, são essencialmente Concentrados Emulsionáveis (EC) contendo 480g ae/l.

Nessa modalidade de aplicação, como o nome indica, o tratamento é direcionado para a base da planta (basal), tratando tronco(s), ou haste(s), sem corte. A aplicação se dá na metade ou no terço inferior da altura do caule, a partir do solo, tomando-se o cuidado de tratar toda a circunferência do tronco ou da haste, aplicando em todas as hastes, caso mais de uma ocorra. O critério de metade ou terço inferior do tronco a ser tratado considera que, em uma planta de menor porte − inferior a 1,2 a 1,5m de altura −, aplica-se do solo até metade de sua altura; caso seja uma planta maior − superior a 2,0m de altura −, se trata o tronco do nível do solo até um terço de sua altura. Lembrando mais uma vez: em toda a circunferência do tronco, ou troncos, se mais de um houver.

O produto deve ser diluído em óleo diesel ou outro solvente orgânico, como querosene. A água não é eficiente como veículo nesse tipo de aplicação, uma vez que é a casca do tronco a barreira de proteção da planta a ser vencida para penetração do produto, para sua posterior movimentação dentro da planta, até os locais nos quais atuará como herbicida, nos pontos de crescimento de raízes e partes aéreas.

Além dos cuidados com a altura a ser tratada do tronco e de cobrir toda a circunferência do(s) tronco(s), como mencionado anteriormente, também se faz necessário o direcionamento preciso do jato da calda herbicida, sendo prioritariamente para o tronco da planta alvo. Todo produto que não atingir o caule da planta não terá ação. A interceptação por capim entremeado na base da planta e/ou o uso de bicos na lança do pulverizador com jato amplo comprometerão a eficácia do tratamento aplicado. Ressalte-se que o Triclopir, principal ativo dessa modalidade, diferentemente do Picloram, praticamente não é absorvido via radicular.

Algo comum observado nas pastagens que recebem aplicação basal é o amarelecimento e até o secamento do capim ao redor das plantas tratadas. Isso se deve preponderantemente pela ação do óleo diesel que involuntariamente atingiu suas folhas, aliado à maior susceptibilidade desse capim que vinha sofrendo competição com a planta daninha por água e nutrientes, além do sombreamento que o prejudicava. De modo geral, esse capim ao redor da planta daninha nunca é acessado pelo animal em pastejo e, com o passar do tempo, algumas semanas, esse capim se recupera e a planta daninha tratada é controlada.

Atualmente um grande inconveniente da aplicação basal se dá pelo custo do diesel, usado como diluente para aplicação do tratamento com Triclopir. Apenas nos primeiros meses de 2022 acompanhamos incrementos nos preços do diesel superiores a 30%, impactando significativamente nos custos de tratamento. Normalmente os custos com diesel e mão de obra são bastante superiores ao custo do herbicida nessa operação.

Tecnologia de aplicação

Normalmente aplicado por pulverizadores costais com bombeamento manual, é recomendável que não se utilizem bicos de pulverização com jatos de grande amplitude. Quanto mais direcionado for o jato para a área de corte do toco remanescente, ou para os ramos na aplicação basal, melhor será a efetividade do tratamento. Nesse sentido, bicos tipo jato regulável são ideais, ou pode se retirar o core, uma peça que promove a abertura do jato nos bicos padrão que equipam os pulverizadores costais, com o que também se obtém um jato de pequena abertura.

Nas aplicações no toco não são recomendáveis pincéis, esponjas ou estopas embebidas para realizar o molhamento dos tocos cortados, porque a quantidade aplicada de produto é muito pequena, tornando ineficiente a operação, além de essa prática contaminar outros materiais que não apenas os equipamentos de aplicação.

De modo geral, na grande maioria das espécies lenhosas infestantes das pastagens, o uso das técnicas de controle no toco ou basal são igualmente eficientes. Ambas demandam elevada mão de obra qualificada para o sucesso da operação. Apenas a ressalva que plantas com múltiplos e finos talos seria mais indicado a aplicação basal. Na aplicação no toco teríamos a vantagem da não demanda de óleo diesel, com um fator a menos de custo do tratamento.

Enfim, o pecuarista tem essas duas ferramentas disponíveis para o controle de plantas daninhas nas pastagens no período da seco, acreditando que deva ser considerado cada caso para optar por uma ou outra técnica, ou até ambas em conjunto. A generalização normalmente não é uma boa estratégia.

Por: Neivaldo Tunes Caceres – engenheiro agrônomo e mestre em solos e nutrição de plantas pela ESALQ-USP.

Fonte: Scot Consultoria