Hoje é a minha estreia como colunista do Portal Destaque Rural, e periodicamente trarei conteúdos que considero importantes para o Agronegócio brasileiro. Neste primeiro texto escreverei sobre o perfil dos agricultores no Brasil, pois é muito importante que as empresas conheçam o perfil do seu cliente, e o que precisam fazer para atrair a sua atenção.
Existe um perfil diferente de produtores nas diferentes regiões brasileiras, pois o Brasil possui uma grande extensão territorial e existem especificidades nas diferentes regiões, como por exemplo no Centro-Oeste onde a agricultura é voltada para a produção de commodities em larga escala, com propriedades maiores e mais tecnológicas. Além da produção de commodities, em especial de grãos como soja e milho, existem também as propriedades menores que são voltadas para agregação de valor, como o café, frutas e etc.
Em um período de 50 anos o Brasil passou de importador para exportador de diversos produtos como soja, milho, café, carne bovina entre outros, e isso ocorreu devido a vários fatores como o incentivo ao uso da tecnologia, em especial pelo apoio da Embrapa na pesquisa e treinamento de profissionais, além de um clima favorável e disponibilidade de água. Também é importante considerar fatores como o aumento das importações da China devido à sua entrada na OMC em 2001 e a Lei Kandir que desonerou as exportações de commodities entre outros.
Mas, o mundo vem mudando em relação ao clima, economia e consumo, e a competitividade entre os países vem aumentando e para nos mantermos competitivos, precisamos de um esforço das cadeias produtivas em relação à profissionalização e à coordenação de seus elos.
Dentro desse contexto observo a importância do sucessor nas empresas rurais, pois serão eles os responsáveis pelo futuro do nosso Agronegócio, desse modo é importante analisar o perfil destes produtores e saber o que estão buscando e quais são as suas necessidades.
Cada vez mais eu vejo a participação do sucessor na atividade rural, que possui um perfil diferente do perfil do seu pai ou avô, ele busca qualificação profissional para resolver questões ligadas à gestão de sua propriedade como gerenciamento do risco de preços, aumento do uso de tecnologia e quando pertencem à geração dos millenials, geralmente são inovadores e adotantes iniciais de tecnologia, em relação aos outros produtores de sua região. Ele busca conhecimento e deseja que a empresa antecipe as suas necessidades, oferecendo um serviço que esteja além do que é oferecido no mercado.
A seguir é feita uma breve comparação entre as diferentes gerações de agricultores no Brasil e no mundo, começando pelo agricultor maduro, nascido antes de 1945. Ele é o patriarca, que entregou o controle parcial ou total do dia a dia da fazenda para o seu sucessor, considera a tecnologia hard tech como mecanização, genética e economias de escala. Geralmente é cético da tecnologia digital, mas a utiliza na propriedade rural porque as gerações mais jovens consomem este tipo de tecnologia mais moderna. No contato com o mercado prefere que as suas conexões sejam mais pessoais e por telefone, e a sua atitude é extremamente leal, principalmente para aqueles que o ajudaram a crescer nos negócios.
Outro perfil é o do produtor tradicional que nasceu entre 1946 e 1964 e pertence a uma geração que teve um impacto significativo na economia. Ele é o CEO, quer ter o controle e gosta de ficar de mãos sujas, de lidar diretamente com a terra, mas também divide o seu tempo ficando no escritório. Está propenso a adaptar tecnologia na fazenda e no escritório, ele confia em marcas tradicionais, sendo fiel a elas. A sua conexão com o mundo mistura o analógico e o digital, e observa a gestão dos outros fazendeiros.
O agricultor da geração X, nascido entre 1965 e 1980, está reduzindo a sua participação nas atividades do campo, sendo que as mulheres participam mais ativamente na sua gestão, tendo o papel de parceiras ou como tomadoras de decisão. Em relação à tecnologia adota e integra todos os aspectos do processo de gestão, sendo digitalmente experiente.
Os nascidos entre 1981-1996 são chamados Millenials e são considerados os empreendedores ou empreendedoras, o(a) agricultor(a) de primeira geração. Está constantemente ligado à tecnologia, preocupado com sustentabilidade, biotecnologia e preferências do consumidor. A sua conexão é com reunião de amigos, tem interesse pela educação, participando de cursos, eventos e palestras do setor. Também tem participação ativa nas mídias sociais e pesquisas de textos na internet, e prioriza marcas que buscam desempenho e política social corporativa, transparência, ética e responsabilidade social
O último grupo são os nascidos a partir do ano de 1997, chamados de Geração Z, este agricultor pode ser considerado o aprendiz, que tem possibilidades infinitas de aprendizado, mas precisa ser prático e responsável. A sua conexão com o mundo é com qualquer aparelho móvel, é aberto, inovador e orientado por propósitos. Busca um mundo melhor e mais sustentável. Os agricultores mais jovens não são diferentes dos consumidores da sua geração, pois querem estar na vanguarda da tecnologia, pavimentar seu próprio caminho e não fazer algo apenas porque é sempre assim. Eles querem transformar o mundo.
A figura a seguir apresenta um panorama do tomador de decisão na cadeia produtiva da soja, sendo possível observar que os millenials se destacam, e desde 2019 vêm aumentando a sua participação no Agronegócio. Mas, é importante dar uma atenção especial à Geração Z, que vem aumentando a sua participação e trazendo grandes inovações na gestão das propriedades rurais.
A tecnologia pode ser um atrativo para o jovem sucessor permanecer na atividade agropecuária, modernizando a produção, agregando valor ao seu produto e aumentando a sua rentabilidade.
As tecnologias estão sendo cada vez mais desenvolvidas e aplicadas nas propriedades rurais para manter a sustentabilidade na produção agrícola, e são importantes na comercialização da produção. No entanto, a adoção dessas tecnologias com o objetivo de alcançar a sustentabilidade envolve incertezas e trade-offs. Para que sejam adotadas estas tecnologias agrícolas sustentáveis é preciso qualificar os agricultores, deve haver o compartilhamento de informações e um fácil acesso a recursos financeiros.
Os agricultores brasileiros são empreendedores, adotam novas tecnologias e estão muito abertos para experimentá-las. As empresas aprenderam que é necessário estar próximo dos agricultores, explicar novos conceitos de produtos e apoiar os agricultores sobre como e quando utilizá-los.
Uma nova tecnologia, uma nova mentalidade e uma solução integrada são o que os agricultores estão dispostos a experimentar. Ter uma proposta de valor claramente definida e forte que não se baseie apenas na redução de custos, mas também que existe um forte relacionamento que saiba antecipar soluções e atender às necessidades do produtor.