Logística

Armazéns no Brasil: está na hora de buscar a modernização, alerta especialista

A falta de capacidade adequada pode levar a perdas significativas de grãos e impactos econômicos adversos

Foto de silos.
A capacidade de armazenamento do Brasil está aquém do necessário para o volume produzido | Foto: Arquivo

No cenário atual do agronegócio brasileiro, as unidades armazenadoras desempenham um papel crucial na coleta e gestão das safras de inverno e verão. Entretanto, enfrentam desafios significativos tanto na colheita da safra de inverno, composta por trigo e cevada, quanto na preparação para a safra de verão, que inclui soja e milho. Tadeu Garibotti, gerente de contas estratégicas e especialista em unidades armazenadoras da Procer, apresenta insights sobre as necessidades e deficiências das unidades armazenadoras no país.

Déficit de Capacidade de Armazenagem

Segundo Garibotti, “A capacidade de armazenamento do Brasil está aquém do necessário para o volume produzido. Com uma produção de 322 milhões de toneladas e uma capacidade estática de 197 milhões, enfrentamos um déficit de 125 milhões de toneladas“. Esse déficit impõe a necessidade urgente de ampliar a capacidade de armazenamento em cooperativas, cerealistas e armazéns privados para acomodar uma produção agrícola crescente. A falta de capacidade adequada pode levar a perdas significativas de grãos e impactos econômicos adversos.

Necessidade de Modernização Tecnológica

Garibotti também destacou a necessidade de avanços tecnológicos no pós-colheita. “Os segmentos ainda carecem de automação e novas tecnologias. A indústria 4.0, que já transformou a produção agrícola, precisa ser incorporada nas unidades armazenadoras”, afirmou. A modernização tecnológica inclui a melhoria de sistemas de gestão, inteligência artificial, sensoriamento e automação, essenciais para melhorar a eficiência e a qualidade do armazenamento de grãos.

Ele explicou que tecnologias como o uso de ozônio para controle de políticas em trigo e cevada, sensores de CO2 para monitoramento durante um armazenamento, e sistemas de controle de secagem para evitar a contaminação por gases tóxicos são exemplos de inovações que podem transformar o setor. “Essas tecnologias visam não apenas melhorar a qualidade dos grãos armazenados, mas também aumentar a segurança e a eficiência operacional”, disse Garibotti.

Deficiência de Mão de Obra Qualificada

Um dos pontos críticos destacados por Garibotti é a falta de mão de obra entregue. “Cada vez mais precisamos de pessoas treinadas e adequadas para a função, mas essa qualificação tem se mostrada deficitária”, afirmou. A carência de trabalhadores envolvidos pode comprometer a eficiência e a eficácia das unidades armazenadoras, ressaltando a necessidade de investimentos em treinamento e desenvolvimento de competências.

Falta de Planejamento Governamental

A expansão ocorre de forma individualizada, com cooperativas e o setor privado buscando ações e financiamento | Foto: Arquivo

Garibotti criticou a ausência de planos específicos do governo para a expansão e modernização das unidades armazenadoras. “Temos a Lei da Certificação das Unidades Armazenadoras, mas sua fiscalização está parada. A expansão ocorre de forma individualizada, com cooperativas e o setor privado buscando ações e financiamento, mas sem uma visão de médio e longo prazo do governo”, observou. A falta de uma política governamental clara e estruturada para o setor impede um desenvolvimento mais coordenado e sustentável das unidades armazenadoras.

Avanços na Digitalização e Automação

Apesar dos desafios, a adoção de novas tecnologias tem mostrado avanços significativos no setor. “As indústrias de pós-colheita estão aprimorando a eficiência e gestão com o uso de software de gestão, inteligência artificial e sensoriamento, melhorando a qualidade dos grãos e dos estoques”, destacou Garibotti. A digitalização e a automação permitem uma gestão mais precisa e eficiente dos processos, exigindo a necessidade de intervenção manual e minimizando erros.

Transformação das Unidades Armazenadoras

Garibotti destacou que a digitalização e a automação estão melhorando o desempenho e a gestão das unidades armazenadoras. “As unidades novas já são altamente digitalizadas, enquanto as mais antigas estão passando por reformulações para se tornarem mais operacionais e eficientes”, explicou. Ele faz questão de que a modernização das unidades leve à redução de mão de obra, aumentando a necessidade de qualificação dos trabalhadores.

“A digitalização e automação não apenas melhoram o desempenho, mas também a gestão das pessoas, permitindo monitorar máquinas, equipamentos e fluxos de grãos de forma automatizada. Com o Brasil sendo reconhecido como um grande celeiro mundial de alimentos, há oportunidades crescentes para investir e investir modernizar as unidades armazenadoras, transformando-as em unidades 360, totalmente automatizadas”, concluiu Garibotti.

As palavras de Garibotti refletem a urgência e os desafios enfrentados pelas unidades armazenadoras no Brasil, ressaltando a necessidade de investimentos contínuos e a adoção de tecnologias avançadas para sustentar o crescimento do agronegócio nacional. A modernização das unidades armazenadoras é essencial para garantir a competitividade do Brasil no mercado global de alimentos e para atender às demandas crescentes por alimentos de alta qualidade e segurança.