Há muitas incertezas quanto ao mercado de culturas de inverno (trigo, canola, cevada e triticale), levando em conta a tensão entre Rússia e Ucrânia. Os preços recuaram nesta semana no mercado internacional, devido à expectativa de retomada das exportações de trigo da Ucrânia, visto que os embarques de milho do país já ocorreram.
Esse cenário influenciou a baixa no mercado brasileiro. A tendência é do valor do trigo seguir caindo até a colheita da nova safra de inverno. De acordo com o coordenador comercial de grãos da Cotrijal Cooperativa Agropecuária e Industrial, Cristiano Davi Erpen, a pré-fixação dos lotes do cereal é uma das alternativas para contribuir para o escoamento externo e o Brasil não ficar com grandes excedentes no mercado doméstico.
Safra Trigo 2021/22
O trigo teve um leve atraso no plantio, mas teve um alto incremento de área no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. “O atraso está dentro da normalidade e devemos ter uma safra grande em volume. Não podemos falar em qualidade ainda, mas podemos afirmar que o trigo é o nosso protagonista do inverno”, ressalta Erpen.
De acordo com o relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) referente à safra 2021/22, a estimativa de área plantada de trigo no mundo para a safra atual é de 222,2 milhões de hectares, apresentando um aumento de 0,18%, se comparada à safra passada (2020/21).
No Brasil a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima uma safra maior de trigo, com uma produção de 8,4 milhões de toneladas, um crescimento de 8% em comparação com a safra passada (7,6 milhões/t). O Rio Grande do Sul pode ter a maior produção de trigo da história, com 3,9 milhões de toneladas, incremento de 12% em relação ao ano passado (3,5 milhões/t).
O volume exportado na última safra foi de 3 milhões de toneladas, somando o trigo destinado a ração, semente e consumo interno de moinho, “a safra de 2021 foi acima de 4 milhões de toneladas “frouxo” e essa safra de 2022 que está por vir, pela área plantada do Brasil, alguns órgãos especulam uma safra de 4,5 até 5,3 milhões de toneladas de colheita, um número bem preocupante. É bom para o produtor, que teve problemas com o estresse hídrico no verão e que acaba apostando bastante nessa safra de inverno, mas onde vamos colocar todo esse trigo?”, frisa Erpen.
Prefixação dos lotes de trigo
Nós tivemos uma boa fixação de lotes em 2021 e isso contribuiu muito com o escoamento. “O excedente que nós tínhamos, conseguimos exportar para outros países e com isso os moinhos locais ficaram com o volume que eles realmente conseguiam absorver”, informa Erpen.
“Preocupa muito a safra que está por vir em 2022, com uma produção que vem tranquilamente acima de 5 milhões de toneladas. Nós precisaríamos exportar novamente a mesma quantidade, por volta de 3 milhões de toneladas, porém essa quantidade foi consequência da explosão da Guerra com a Ucrânia”, salienta o especialista.
A mensagem da Cotrijal hoje é que o produtor faça uma parcela de sua fixação. Pensando nos preços que o produtor vendeu esse ano, acima de R$100, foi fruto da prefixação no ano passado. Com a prefixação, há uma liquidez maior para o produtor e o escoamento diminui a pressão interna, agregando mais valor ao produto que fica.
Cristiano Erpen
Mercado
Em julho, as atenções no mercado doméstico estavam voltadas para a finalização dos trabalhos de semeadura nos principais estados produtores. A escassez de oferta interna atuou como fator altista e impediu as desvalorizações no mercado doméstico, como ocorreu no mercado internacional.
Segundo a Conab, no Paraná, o trigo pão PH 78 foi cotado a R$ 110,53 a saca de 60 quilos, apresentando valorização mensal de 3,14%, e no Rio Grande do Sul a R$ 113,93 a saca de 60 quilos, com valorização de 2,75%.
No mercado internacional, as cotações apresentaram desvalorizações diante de um cenário do dólar alto em relação às demais moedas, incremento da oferta com o início da colheita no Hemisfério Norte, novos casos de Covid na China e o relatório divulgado pelo USDA, que apontou aumento dos estoques finais mundiais. Diante desses fatores, a média mensal apresentou desvalorização de 19,26%, cotada a US$ 341,78 a tonelada.
Outras culturas
Quanto ao triticale, temos uma área menor, mas que vem crescendo nos últimos anos. “Trata-se de uma cultura que possui rusticidade e liquidez. Nesse momento, essa cultura é balizada em milho, entretanto, como ela será colhida mais para frente, temos que ver como estarão os preços do milho, levando em conta a chegada do milho segunda safra do Centro-Oeste. Se o preço do milho realmente cair, a cultura vai sentir um pouco, mas temos notado que o produtor vem apostando nesse grão”, explica.
A cevada possui balanceamento do trigo de abril e maio (preço acima de R$100,00). “Temos que analisar o preço do trigo lá na frente, agosto e setembro, para que possamos ver os outros 50% da fixação”, finaliza Erpen..