A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) anunciou hoje (07) que irá comprar até 200 mil toneladas de trigo de produtores do Rio Grande do Sul. O recurso para a compra pode chegar a R$ 261 milhões e faz parte do crédito extraordinário destinado ao estado após a calamidade climática de maio.
A compra será realizada por meio do mecanismo de Aquisição do Governo Federal (AGF), previsto na Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM). “A gente utiliza esse instrumento para adquirir produtos quando o preço do mercado está abaixo do preço mínimo”, afirmou o presidente da Conab, Edegar Pretto. O preço de mercado da saca de 60kg no estado está em R$ 67,11, enquanto o preço mínimo foi estabelecido em R$ 78,51.
A compra será voltada ao Rio Grande do Sul devido ao preço de mercado e também pelo excesso de chuvas que prejudicou a safra deste ano. Conforme a Conab, cerca de 40% do trigo foi afetado e 60% deve apresentar qualidade adequada. O estado é o principa lprodutor de trigo do país, concentrando cerca de metade da produção nacional. A Companhia afirma que continua acompanhando o mercado uma vez que o mecanismo pode ser utilizado nos demais estados produtores que tenham o preço de mercado inferior ao mínimo, limitado ao volume de recursos disponível.
O trigo gaúcho adquirido pelo governo federal será do tipo 1, para consumo humano, e será destinado para estoques públicos, podendo ser utilizado em caso de aumento de preços para o consumidor. O anúncio já deve gerar uma resposta no mercado. Segundo o diretor de Política Agrícola e Informações, Sílvio Porto, a compra ocorre por meio do AGF com o objetivo de “reter esse trigo no mercado interno para que possamos já no ano que vem, no período de entressafra, devolver esse trigo ao mercado e portanto substituir importações”. Neste ano, uma cota extra de 250 mil toneladas para importação sem tributação foi aprovada, totalizando 1 milhão de toneladas que poderão ser importadas sem a taxação.
O limite de venda para cada produtor ainda será definido, mas deve ficar entre 2 e 3 mil sacas por produtor. Os interessados em vender o trigo para a Companhia devem estar cadastrados no Sistema de Cadastro Nacional de Produtores Rurais (Sican) e procurar a regional da Conab no estado gaúcho para orientação sobre o preenchimento dos formulários exigidos para a operação, bem como a apresentação de documentos adicionais que se fizerem necessários.
Mercado do trigo
A boa oferta do cereal no mercado internacional tem refletido em uma pressão de baixa nas cotações do produto há mais de um ano. Na safra passada, o governo federal apoiou a comercialização por meio de leilões públicos do Pepro e PEP, realizando o escoamento de cerca de 479,28 mil toneladas do cereal.
A produção brasileira do grão está estimada em cerca de 8,64 milhões de toneladas nesta safra, um aumento de 2,1% quando comparado com o volume obtido em 2023. A quebra registrada no Paraná e com as adversidades climáticas registradas em importantes regiões produtoras mundiais como Rússia, Europa, Estados Unidos e Austrália, refletiram em uma amena recomposição dos preços nacionais. Ainda assim, as cotações atuais têm permanecido abaixo do preço mínimo vigente no estado gaúcho.
Novas medidas
Durante a coletiva de imprensa realizada nesta manhã, o ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) destacou as medidas já anunciadas para o agronegócio no Rio Grande do Sul, incluindo a renegociação de dívidas, e anunciou que o governo está preparando medidas para apoiar a reconstituição dos solos.
Em reunião da Câmara Setorial do Trigo da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), nesta sexta-feira (08), representantes da Conab afirmaram que as normativas sairão em 10 dias. “Não estão descartados outros mecanismos de auxílio. Mas a AGF é um mecanismo mais simplificado. Para a AGF, dos 45 armazéns cadastrados, a Conab tem 16 já liberados para armazenagem”, afirmaram.
Representantes da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), por sua vez, comentaram que o auxílio do governo ainda é pouco, pois corresponde a menos de 10% da colheita. Para a Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (Fecoagro), há dificuldade das cooperativas participarem desse mecanismo. Elas recebem cerca de 50 a 60% do trigo colhido no RS. Não há representatividade nos armazéns credenciados e a maior parte está na região Noroeste.
Representantes da Associação das Empresas Cerealistas do Estado do Rio Grande do Sul (Acergs) também relataram dificuldade dos pequenos produtores acessarem esses recursos disponíveis de auxílio à comercialização.
Durante a reunião houve uma proposta para que o Prêmio para Escoamento de Produtos (PEP) e o Prêmio de Equalização pago ao Produtor (PEPRO), do Ministério da Agricultura e Abastecimento (Mapa) fossem usados para exportar trigo para as regiões Norte e Nordeste do Brasil. A Conab afirmou que vai levar em consideração as sugestões.