Safra 2024/2025

Ferrugem Asiática no RS: Impacto de ondas de frio e do La Niña

Geadas podem resultar em uma redução considerável do inóculo primário do fungo para a próxima safra

Foto de área agrícola coberta por geada.
As geadas severas comprometem a sobrevivência das plantas guaxas | Foto: Leonardo Wink/Destaque Rural

As ondas de frio intenso no Rio Grande do Sul durante este inverno estão influenciando diretamente a presença do fungo da ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi), que causa danos significativos à cultura da soja. Segundo o fitopatologista Daniel Debona, Engenheiro Agrônomo e Professor Adjunto da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Santa Helena, essas geadas podem resultar em uma redução considerável do inóculo primário do fungo para a próxima safra.

Características do Fungus e Hospedeiros

O fungo Phakopsora pachyrhizi é biotrófico, ou seja, depende de células vivas para obter nutrientes. Durante a entressafra, ele sobrevive principalmente em plantas guaxas de soja, que são oriundas de sementes perdidas durante a colheita e germinam, hospedando o fungo. Diferente dos patógenos necrotróficos, que sobrevivem em restos culturais, a ferrugem asiática precisa de plantas vivas para persistir.

A ferrugem asiática causa danos significativos à cultura da soja | Foto: Daniel Debona/Arquivo Pessoal

Impacto das Geadas

As geadas severas registradas no estado comprometem a sobrevivência dessas plantas guaxas, diminuindo assim o inóculo primário para a próxima safra. Dr. Debona explica: “Qualquer evento que comprometa a sobrevivência dessas plantas tiguera também vai acabar reduzindo esse inóculo primário para a próxima safra.” As condições climáticas atuais são favoráveis para essa redução. “Estamos observando geadas intensas em algumas regiões, o que deve levar a uma diminuição significativa na população dessas plantas guaxas”, complementa.

La Niña e a Próxima Safra

Com a expectativa de ocorrência do fenômeno La Niña, espera-se um impacto na taxa de progresso da ferrugem asiática. La Niña tende a provocar períodos mais secos, o que pode resultar em uma evolução mais lenta da doença. “Quando eu tenho períodos mais secos, a tendência é que eu tenha uma taxa de progresso, uma evolução da doença mais lenta”, afirma Debona. No entanto, mesmo com restrição hídrica, o fungo da ferrugem precisa de apenas seis horas de molhamento a 22°C para causar infecção. Portanto, a presença de orvalho pode ainda permitir a infecção.

Disseminação do Fungo

Os esporos da ferrugem asiática podem se deslocar até 500 quilômetros por semana | Foto: Daniel Debona/Arquivo Pessoal

Um aspecto crucial a ser considerado é a capacidade de disseminação do fungo. “Os esporos da ferrugem asiática podem se deslocar até 500 quilômetros por semana, o que significa que, mesmo com uma redução local do inóculo, o fungo pode ser transportado de outras regiões da América do Sul, como Bolívia e Paraguai, onde a soja é cultivada durante o inverno”, ressalta Dr. Debona. “É um fenômeno que exige uma abordagem de manejo integrada e coordenada em nível continental.”

Manejo e Controle

Para controlar a doença, o Dr. Debona recomenda que os produtores prestem atenção ao momento da semeadura, preferindo períodos mais antecipados até outubro, o que pode resultar em menor exposição ao inóculo. “Semeadura no início da época recomendada é um ponto importante, porque essas lavouras estabelecidas mais cedo têm uma menor propensão à ferrugem, em função de ter menos inóculo”, destaca.

Além disso, é crucial a utilização de cultivares com ciclos curtos e resistência parcial à ferrugem, bem como a aplicação de fungicidas de forma estratégica. “Trabalhar com diferentes grupos químicos de produtos e respeitar os intervalos entre aplicações são práticas essenciais para o sucesso no manejo da doença”, complementa o especialista. “É fundamental o produtor trabalhar com ferramentas robustas, rotacionar grupos químicos e usar fungicidas multissítios, como mancozebe, cloratalonil e cúpricos à base de cobre, para um manejo efetivo e para prevenir a resistência do fungo.”

Histórico e Legislação

O Brasil implementa o chamado vazio sanitário, um período de cerca de 90 dias em que não deve haver plantas de soja no campo, para ajudar a controlar a ferrugem asiática. “Embora essa medida seja importante, nem sempre é cumprida rigorosamente por todos os produtores, e as geadas acabam ajudando no controle natural da ferrugem ao eliminar os hospedeiros do fungo”, observa Debona.

Correção

A notícia foi atualizada em 02/08, às 08h05: o nome do fungo da ferrugem asiática foi corrigido para Phakopsora pachyrhizi, ao contrário do informado anteriormente, Tacopsura pachyrrhiza.