Opinião

Brasil inicia colheita de soja com expectativa de recorde, mas desafios climáticos ameaçam produtividade

A cultura da soja, considerada o "ouro verde" do agronegócio, continua a desempenhar um papel vital na economia global, impulsionando exportações e fortalecendo a balança comercial do país

Colheita do campo de soja com colheitadeira.
A produção global de soja tem apresentado um crescimento consistente, impulsionada pela demanda crescente por proteínas vegetais, óleos e biocombustíveis | Foto: Banco de imagens

Mais uma vez, o Brasil dá início à colheita da soja, consolidando sua posição como um dos pilares da agricultura mundial. A cultura da soja, considerada o “ouro verde” do agronegócio, continua a desempenhar um papel vital na economia global, impulsionando exportações e fortalecendo a balança comercial do país.

Neste ano, as estimativas preliminares do Rally da Safra apontam para uma produtividade média de 60,5 sacas por hectare, mantendo o Brasil na liderança do cenário internacional. No entanto, nem tudo são boas notícias: dois estados brasileiros estão sob alerta. Mato Grosso do Sul enfrenta sua terceira safra consecutiva com problemas climáticos, enquanto o Rio Grande do Sul lida com desafios que podem impactar o potencial produtivo. Em meio a expectativas e incertezas, o setor agrícola se prepara para mais um ciclo decisivo.

Estimativas Pré-Rally, safra de soja 2024/2025 | Fonte: Agroconsult/Divulgação

Oferta Global de Soja: Histórico e Estimativas Futuras

A produção global de soja tem apresentado um crescimento consistente, impulsionada pela demanda crescente por proteínas vegetais, óleos e biocombustíveis. Na safra 2023/24, a produção mundial atingiu a marca histórica de 395 milhões de toneladas (mt), consolidando a soja como uma das commodities agrícolas mais importantes do planeta. Para a safra 2024/25, as projeções indicam um aumento significativo, com a produção global podendo alcançar 424 milhões de toneladas, um crescimento de aproximadamente 7,3% em relação ao ciclo anterior.

Os Estados Unidos, Brasil e Argentina continuam a dominar o cenário global, respondendo juntos por mais de 80% da produção mundial. O Brasil, no entanto, tem se destacado como o principal motor desse crescimento. Com uma área cultivada que saltou de 45,2 milhões de hectares em 2022/23 para 47,3 milhões de hectares em 2024/25, o país consolida sua posição como o maior produtor e exportador de soja do mundo. Essa expansão é impulsionada por avanços tecnológicos, como o desenvolvimento de sementes mais resistentes e adaptadas a diferentes biomas, além da incorporação de novas áreas de cultivo, especialmente no Matopiba (região que engloba Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).

A participação brasileira no mercado global de soja é cada vez mais expressiva. Atualmente, o país responde por cerca de 37% da produção mundial, mas as estimativas apontam que essa fatia pode chegar a 49% até 2033. Esse crescimento é sustentado não apenas pelo aumento da área plantada, mas também por ganhos de produtividade, que têm sido impulsionados por investimentos em pesquisa, manejo sustentável e adoção de práticas agrícolas inovadoras.

Demanda Global de Soja: Histórico e Estimativas Futuras

A demanda global por soja tem crescido de forma acelerada, impulsionada pelo aumento populacional, pela urbanização e pela mudança nos hábitos alimentares, especialmente em países emergentes. Entre 2023 e 2033, espera-se que a demanda global aumente de 380 milhões de toneladas (mt) para 480 mt, um crescimento de 26,3%. Dois fatores principais estão por trás desse aumento: o uso de soja como ração animal, que responde por cerca de 75% da demanda total, e a produção de biodiesel, que tem ganhado força com as políticas de transição energética em diversos países.

O Brasil tem se beneficiado diretamente desse cenário, especialmente com os mandatos de mistura de óleos vegetais no diesel. Atualmente, o país utiliza 12% de biodiesel em sua matriz de combustíveis, e a expectativa é que esse percentual aumente nos próximos anos, impulsionando ainda mais a demanda interna por soja. Além disso, a China, maior importadora mundial de soja, continua a ser um mercado crucial para o Brasil, respondendo por mais de 70% das exportações brasileiras do grão.

Aspectos do Macroambiente

O cenário macroeconômico global apresenta desafios significativos para o setor da soja. Os efeitos protecionistas e tarifários dos Estados Unidos, como as barreiras comerciais que começam a  ser  impostas pelo governo Trump e suas tensões comerciais com a China, continuam a influenciar o mercado. Além disso, conflitos geopolíticos, como a guerra na Ucrânia, e a volatilidade nos preços do petróleo impactam diretamente os custos de produção e transporte.

No Brasil, questões internas também pesam sobre o setor. O endividamento dos produtores rurais, os custos elevados com juros e as limitações logísticas, como a falta de infraestrutura adequada para escoamento da produção, são desafios persistentes. Apesar disso, a disponibilidade e o custo dos insumos têm se mantido relativamente estáveis, graças à forte produção de fertilizantes e defensivos agrícolas.

Preços, Resultados e Implicações Gerenciais

Os preços da soja têm se mantido em patamares regulares nos últimos anos, impulsionados pela alta demanda global e pela escassez de oferta em alguns momentos. Nos Estados Unidos, o preço médio da soja é estimado em USD 10,4 por bushel para os próximos 10 anos, segundo projeções do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). No Brasil, as margens têm sido ainda mais favoráveis, graças à competitividade do setor e ao câmbio desvalorizado, que torna as exportações mais atrativas.

De acordo com análises do consultor Carlos Cogo, a média de preços da soja nos últimos 10 anos foi de US$ 11,16 por bushel, refletindo a valorização da commodity no mercado internacional. Para os produtores brasileiros, esse cenário representa uma oportunidade de maximizar resultados, mas também exige planejamento estratégico para mitigar riscos, como a volatilidade dos preços e os impactos das mudanças climáticas.

A gestão eficiente da cadeia produtiva, com foco em ganhos de produtividade, redução de custos e adoção de práticas sustentáveis, será fundamental para garantir a competitividade do Brasil no mercado global de soja nos próximos anos. Além disso, a diversificação de mercados e o fortalecimento de acordos comerciais podem abrir novas oportunidades para o setor, consolidando o país como líder mundial na produção e exportação de soja.

Preços futuros | Dados: USDA e CONAB

A safra de soja 2024/25 reflete as tendências globais de crescimento na produção e demanda, consolidando o Brasil como um dos pilares do agronegócio mundial. No entanto, o sucesso dessa safra e das próximas depende diretamente da capacidade dos agricultores em colher bem, planejar com precisão e executar com excelência. A rentabilidade por hectare será o grande desafio, e a chave para superá-lo está na inovação, na gestão eficiente e no foco em fazer o básico bem feito.

Recomendações Práticas para o Fechamento da Safra e Planejamento da Próxima

  1. Gestão de Custos: Realize uma análise detalhada dos custos de produção, identificando oportunidades para reduzir despesas sem comprometer a qualidade. A eficiência começa com o controle financeiro.
  2. Otimização Logística: Melhore a eficiência no transporte e armazenamento para reduzir perdas e custos. Parcerias com empresas especializadas em logística agrícola podem ser uma solução estratégica.
  3. Inovação Tecnológica: Adote tecnologias avançadas, como agricultura de precisão, ferramentas de análise de dados e automação, para aumentar a produtividade e a rentabilidade. A tecnologia é um aliado indispensável no campo moderno.
  4. Gestão de Riscos: Utilize instrumentos financeiros, como contratos futuros e opções, para proteger-se contra a volatilidade dos preços da soja. A segurança financeira é essencial em um mercado instável.
  5. Sustentabilidade: Implemente práticas agrícolas sustentáveis, como rotação de culturas, manejo integrado de pragas e conservação do solo. A sustentabilidade não é apenas uma questão ambiental, mas também econômica, garantindo a longevidade do negócio.

Voltando ao Básico: Foco nos Processos e nas Pessoas

Como em qualquer negócio, o sucesso no agronegócio depende da execução impecável dos processos básicos. Foco na eficiência operacional, capacitação das equipes e atenção aos detalhes serão a chave para os próximos anos. O “arroz com feijão bem feito” — ou seja, o cuidado com as operações diárias e o planejamento estratégico — fará toda a diferença entre uma safra lucrativa e uma safra mediana.

Agora, é essencial que os agricultores colham a produtividade prevista, deslanchem suas operações e planejem uma segunda safra com sucesso.

O futuro do agronegócio brasileiro depende da capacidade de adaptação, inovação e execução. A busca contínua por melhorias e a atenção aos fundamentos serão os pilares para o sucesso nas próximas safras.