Trabalho Escravo

Quatro argentinos são resgatados de condições análogas à escravidão na Serra Gaúcha

Homens foram trazidos para o Brasil via Dionísio Cerqueira para trabalhar na colheita da uva em São Marcos

Operação Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com acompanhamento do Ministério Público do Trabalho (MPT-RS) em partição da Polícia Federal contra o trabalho escravo realizada em São Marcos.
Homens foram trazidos para o Brasil via Dionísio Cerqueira para trabalhar na colheita da uva em São Marcos | Foto: MPT-RS/Divulgação

Quatro trabalhadores argentinos foram resgatados de condições análogas à escravidão no município de São Marcos, na Serra Gaúcha, a 160 quilômetros de Porto Alegre. Eles haviam sido trazidos para o Rio Grande do Sul para trabalharem na colheita da uva. A operação foi coordenada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com acompanhamento do Ministério Público do Trabalho (MPT-RS) e participação da Polícia Federal (PF).

Os resgatados são todos homens, com idades entre 19 e 38 anos, da província de Misiones, e ingressaram no Brasil via Dionísio Cerqueira (SC). O grupo estava alojado em uma velha casa de madeira, com dois quartos que, segundo o depoimento dos trabalhadores, chegou a abrigar 11 homens. As condições de habitação eram precárias: os argentinos dormiam em colchões no chão, não tinham armários ou quaisquer outros móveis para guardar seus pertences, a fiação elétrica estava exposta e em desacordo com as Normas Regulamentadoras.

No entanto, um dos principais problemas era o acesso a água potável. A água que abastecia as torneiras era captada de um pequeno açude junto à casa, e toda água usada no banho e na descarga das instalações sanitárias era devolvida para o pátio, junto ao açude, formando um esgoto a céu aberto na entrada do imóvel e contaminando a água do açude que seria usada para o consumo dos trabalhadores. A fiscalização constatou que a água apresentava cor amarelada e odor fétido. Trabalhadores relataram sofrer com alergias cutâneas e diarreia.

Açude aonde os moradores captavam a água para suas necessidades básicas| Foto: MPT-RS/Divulgação

Os resgatados contaram ter sido agenciados por um conterrâneo, o qual buscava trabalhadores na Argentina e os encaminhava a uma arregimentadora de serviços em São Marcos. Esta, por sua vez, havia prometido um trabalho bem remunerado, incluindo moradia. Ao chegar no local, os trabalhadores se depararam com a precariedade do alojamento e, ao final de uma semana de trabalho, quando deveriam receber pelos serviços prestados, foram abandonados.

Segundo relatos do produtor rural, identificado como o tomador dos serviços durante a semana, este já havia efetuado o pagamento da remuneração correspondente, a qual não foi repassada aos trabalhadores.

Combate ao trabalho escravo

A ação ocorreu na última terça-feira(28), Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, como parte de uma operação mais ampla de fiscalização da colheita da uva. Em fevereiro do ano passado, uma operação semelhante encontrou 22 trabalhadores argentinos também em condições análogas à escravidão em São Marcos. Com a operação desta semana, já são oito trabalhadores resgatados no Estado em 2025.

Em 2023, a PRF resgatou 206 trabalhadores em “condições degradantes” e análogas à escravidão em Bento Gonçalves, também na Serra Gaúcha. A empresa que mantinha os trabalhadores nessas condições fornecia uvas para vinícolas da região, como a Aurora, a Cooperativa Garibaldi e a Salton,

O Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo foi criado em homenagem aos auditores-fiscais do Trabalho Nélson José da Silva, João Batista Soares Lage e Eratóstenes de Almeida Gonçalves, além do motorista Aílton Pereira de Oliveira, que foram assassinados em Unaí (MG), no dia 28 de janeiro de 2004, quando investigavam denúncias de trabalho escravo em uma fazenda.