De olho na formação da palhada

Manejo de plantas daninhas em áreas de cobertura é fundamental para controle e produtividade

Especialista destaca estratégias eficazes de manejo de plantas invasoras em áreas de cobertura e alerta para os cuidados para que a palhada apresente boas condições na hora da semeadura de verão

Foto de lavoura com plantas de cobertura.
A escolha de espécies de plantas de cobertura adaptadas à região é vital | Foto: Giliardi Dalazen/Arquivo Pessoal

O manejo adequado de plantas daninhas em áreas de cobertura é fundamental para garantir a produtividade das culturas de verão subsequentes. Giliardi Dalazen, especialista na área de manejo integrado de plantas específicas em culturas, fisiologia da ação de herbicidas e nanotecnologia aplicada ao controle de plantas específicas, compartilha estratégias essenciais que podem ser renovadas para minimizar a competição e maximizar os benefícios das culturas de cobertura.

Semear em áreas limpas e dessecadas

O primeiro passo crucial, segundo Dalazen, é semear as culturas de cobertura em uma área completamente limpa. “Ou seja, dessecar uma área antes de instalar uma cultura de cobertura”, explica. Ele alerta que plantas remanescentes podem se desenvolver junto com as plantas de cobertura, produzindo sementes que se tornarão um problema no futuro. “Se permanecerem plantas específicas na área, junto com as plantas de cobertura, elas se desenvolverão e serão um problema lá na frente.”

Escolha de espécies adaptadas

A escolha de espécies de plantas de cobertura adaptadas à região é vital. Plantas adaptadas, quando semeadas nas épocas corretas, produzem um bom volume de palhada, que é uma aliada natural contra as plantas específicas.

Além disso, garantir uma boa nutrição para as plantas de cobertura é fundamental, o que é muitas vezes negligenciado pelos produtores. “Muitas vezes o produtor vê a planta de cobertura como não importante. Semeia sem fertilizante, e isso pode comprometer a produção de massa seca pela planta de cobertura. Uma estratégia que pode ser implementada é a antecipação de parte do fertilizante, para beneficiar o desenvolvimento da planta de cobertura e garantir uma boa cobertura do solo.”

Uso de Herbicidas seletivos

A utilização de herbicidas deve ser cuidadosamente planejada de acordo com o tipo de planta de cobertura. Dalazen explica que, para coberturas de gramíneas, como braquiária e aveia, herbicidas seletivos que controlam plantas específicas de folhas largas sem afetar a cobertura são recomendados. “Para uma planta de cobertura poácea (gramínea), como braquiária, aveia e centeio, temos herbicidas seletivos que controlam plantas com folhas largas sem afetar as culturas. São exemplos o metsulfuron-metil e o 2,4-D. Se for uma planta de cobertura de folha larga, como crotalária, ervilhaca e nabo, os graminicidas como o cletodim e o haloxifop são alternativas seguras e eficazes para o controle de plantas vegetais de folhas estreitas.”

Quando as coberturas são formadas por misturas de espécies, a instalação em áreas livres de plantas específicas é crucial, dada a falta de herbicidas seletivos para todas as espécies. “Quando as plantas de cobertura são formadas por mistura, a dificuldade de controle aumenta, pois não temos herbicidas seletivos para todas as espécies que compõem a mistura. Portanto, nessas situações é importante instalar a mistura de cobertura em área livre de plantas específicas e dar condições para que uma planta de cobertura seja estabelecida e cubra o solo o mais rápido possível.”

Integração do manejo integrado de Plantas Daninhas (MIPD)

O manejo integrado de plantas específicas (MIPD) é uma abordagem fundamental para uma agricultura sustentável, especialmente diante do crescente problema de resistência de plantas específicas aos herbicidas. “O manejo integrado de plantas específicas (MIPD) é fundamental quando falamos de agricultura sustentável. Ele se torna ainda mais importante diante do cenário de resistência de plantas específicas que temos atualmente”, afirma Dalazen.

Estudos indicam que trabalhos que adotam o MIPD podem reduzir em até 40% o uso de herbicidas, além de aumentar a produtividade das culturas em até 15%, devido à menor competição com plantas produzidas.

Rotação de culturas e cobertura do solo

A distribuição de culturas e a cobertura contínua do solo são práticas essenciais para prevenir e controlar plantas invasoras. Evitar períodos sem cultivo, seja comercial ou de serviço, é crucial. “O segredo é desenhar um sistema que não permita períodos sem culturas na lavoura, sejam elas comerciais ou de serviço. E a rotação de culturas é chave para o sucesso contra as plantas específicas”, enfatiza Dalazen.

Culturas como a soja não são boas produtoras de palhada | Foto: Giliardi Dalazen/Arquivo Pessoal

Por exemplo, a rotação de culturas com milho no verão e trigo no inverno permite o uso alternado de diferentes herbicidas, exercendo uma pressão seletiva sobre as plantas específicas. Além disso, a prática da alelopatia, onde cada cultura produz seus próprios aleloquímicos, ajuda no controle natural das plantas. “Se o produtor rotaciona culturas, automaticamente já ocorre o controle das plantas aparentes. E também tem a palhada. Existem culturas, como a soja, que não são boas produtoras de palhada. Além disso, seus restos culturais são rapidamente decompostos e o solo fica descoberto , permitindo a germinação de plantas fotoblásticas positivas, como a buva.”

Escolha adequada de espécies de cobertura

A escolha das espécies de plantas de cobertura também é influenciada pela produção de aleloquímicos, que atuam como herbicidas naturais. Por exemplo, centeio e aveia-preta são eficazes contra a buva, enquanto a braquiária é recomendada para o controle da vassourinha-de-botão. Outros fatores, como a disponibilidade de sementes e o ciclo de crescimento das plantas de cobertura, devem ser considerados para garantir uma cobertura eficaz, mesmo em janelas escassas de cultivo. “Dependendo dos aleloquímicos produzidos pela planta doadora, determinada planta daninha pode ser prejudicada. Por exemplo, se o produtor tiver problemas com buva, as culturas do centeio e da aveia-preta são boas opções.”

Dados econômicos mostram que, embora a instalação de plantas de cobertura possa representar um investimento inicial, os benefícios a longo prazo, como a redução do uso de herbicidas e o aumento da produtividade, compensam significativamente os custos. “O ciclo das plantas de cobertura também é importante. Em algumas regiões, a janela de investigação é curta, seja por motivos ambientais, como a falta de chuva a partir do início de um período seco, ou pela necessidade de semear uma cultura comercial logo em seguida. Portanto, culturas de cobertura com crescimento rápido possibilitam o cultivo mesmo que em janelas curtas.”

Impactos do manejo inadequado

O manejo inadequado de plantas invasoras em áreas de cobertura pode resultar em dificuldades na dessecação e produção de sementes problemáticas para a cultura de verão. A implementação de forma antecipada e o uso de herbicidas pré-emergentes são estratégias eficazes para mitigar esses impactos e garantir a produtividade das culturas subsequentes. “Em áreas infestadas de plantas invasoras controle adequado é possível que essas plantas cheguem em estádios avançados de desenvolvimento na pré-semeadura das culturas de verão. Isso dificultará a dessecação dessas plantas.”

Pesquisas indicam que áreas mal manejadas podem sofrer uma redução de produtividade de até 30% nas culturas de verão, devido à competição com plantas específicas. A adoção de práticas corretas de manejo pode reverter esses impactos, promovendo uma agricultura mais sustentável e eficiente.

Com a adoção dessas estratégias, os produtores podem melhorar significativamente o manejo de plantas invasoras em áreas de cobertura, promovendo uma agricultura mais sustentável e eficiente, com benefícios econômicos e ambientais impactantes.