A safra de uva 2024/2025 na Serra Gaúcha vem surpreendendo os produtores pela qualidade e produtividade. Levantamento realizado pela Emater/RS-Ascar em 55 municípios, – 49 que compõem a região de Caxias do Sul e outros seis das regiões administrativas de Lajeado e de Passo Fundo -, aponta para uma produção de 860 mil toneladas. A previsão inicial era de 700 mil toneladas.
A nova estimativa representa um aumento de 55% em relação à safra anterior e de 5% se comparada a uma safra “normal”. O cálculo engloba toda a fruta com propósito comercial, ou seja, para transformação industrial (745 mil toneladas) ou doméstica (15 mil toneladas), e a para consumo in natura (100 mil toneladas).
A colheita da variedade mais cultivada na região, a Bordô, que deveria ocorrer em fevereiro, foi antecipada em 20 dias, o que indica que a Vindima poderá ser concluída no final de fevereiro. As cultivares superprecoces e precoces apresentaram ótima sanidade das bagas, coloração e teor de açúcar. Mantendo-se as condições climáticas semelhantes às atuais, as variedades de ciclo médio e as tardias (Cabernet Sauvignon, Moscatos, Isabella) deverão apresentar a mesma qualidade.
O excesso de chuvas no outono e inverno, que manteve o solo saturado de água por quatro meses no ano passado, apontavam para uma safra com sérias deficiências. Mas o resultado surpreendeu, conforme o engenheiro agrônomo do Escritório Regional da Emater/RS-Ascar de Caxias do Sul, Enio Ângelo Todeschini. “Houve uma ótima brotação – número e vigor das gemas; fertilidade [número de cachos/broto] dentro da média e tamanho/peso dos cachos acima da média”, afirma.
Contribuíram para isso o acúmulo de horas de frio (< 7,2oC), embora mal distribuído, um pouco acima da média histórica; a alternância fisiológica e a ausência de geadas tardias. Também ajudou as condições climáticas do período de setembro a dezembro (frequente ocorrência de baixas temperaturas noturnas, e temperaturas máximas diurnas, abaixo das médias para a época do ano), que favoreceram o florescimento, o desenvolvimento e a maturação das bagas, bem como a sanidade da cultura, reduzindo as intervenções fitossanitárias.
Todeschini destaca ainda a importância de outra prática que vem sendo trabalhada pela Emater/RS há décadas: o uso de planta de cobertura do solo. “É a prática cultural de maior adesão e efeitos a médio e longo prazo, reduzindo o uso de herbicidas e fertilizantes, as perdas de solo, nutrientes e água. A cada ano que passa, o manejo imprimido aos pomares vem sendo aperfeiçoado, refletindo-se em aumento da produtividade ou, como nessa safra, na redução das perdas”, conclui.
Abertura oficial
A abertura da colheita da uva ocorreu no dia 16 deste mês. O ato foi realizado em meio aos parreirais da vinícola Vistamontes, no distrito de Faria Lemos, em Bento Gonçalves, e contou com a presença do secretário de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação, Clair Kuhn, e demais autoridades.
O Rio Grande do Sul é o maior produtor de uvas e vinhos do país. São cerca de 15 mil famílias que produzem uvas em cerca de 48 mil hectares, em municípios da Serra Gaúcha e Campanha. A produção de uvas, vinhos e espumantes impulsiona o turismo, a gastronomia e a economia do Estado. “A projeção é que teremos uma safra cheia, de retomada da produção, e expectativa de alta qualidade dos frutos, que terão impactos diretos na produção dos nossos vinhos, espumantes e sucos”, afirmou Kuhn.
Números do setor
De acordo com o IBGE a produção total de uvas, em 2024, foi de 703 mil toneladas, representando uma queda de aproximadamente 23% em relação à safra de 2023, que foi de 907 mil toneladas de uvas;
- O Valor Bruto da Produção (VBP) da safra de 2024 foi de R$ 1,68 bilhão. Já a produção de uvas destinada à indústria, foi de 485,5 mil toneladas em 2024, segundo declarações feitas no Sistema de Declarações Vinícolas (Sisdevin) da Seapi;
- O município de Bento Gonçalves possui cerca de 1.1 mil produtores de uvas e uma área de 4,7 mil hectares. É a cidade que mais industrializa uvas no Rio Grande do Sul, tanto para sucos como para vinhos. Em volume de produção de uvas, ocupa a segunda posição, ficando atrás apenas de Flores da Cunha, também na Serra Gaúcha.