Durante a 35ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz e Grãos em Terras Baixas, o Portal Destaque Rural entrevistou o nematologista da Staphyt Brasil, Cristiano Bellé, para discutir um problema que tem preocupado produtores de arroz: os nematoides. Em entrevista exclusiva, Bellé explicou os desafios e as soluções para o manejo dessa praga, que muitas vezes passa despercebida, mas causa impactos significativos na produtividade.
Desconhecimento e diagnóstico incorreto
Bellé destacou que muitos produtores ainda desconhecem os danos causados pelos nematoides ou confundem seus sintomas com outras deficiências nutricionais. “Os sintomas na parte aérea das plantas, como o amarelamento, são frequentemente associados à falta de nitrogênio. O produtor aplica ureia, a planta recupera o vigor e fica verde novamente, dando a impressão de que o problema foi resolvido. No entanto, a causa real, que são os nematoides, continua afetando o sistema radicular”, explicou.
O especialista enfatizou que o primeiro passo para identificar a presença de nematoides é arrancar as plantas e examinar as raízes. “É no sistema radicular que os danos se manifestam de forma mais clara“, disse.
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Nematoides-das-galhas: o principal vilão no Sul do Brasil
No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, o nematoide mais comum é o Meloidogyne graminicola, conhecido como nematoide-das-galhas. “Esse nematoide causa o engrossamento das raízes, formando galhas. Ao arrancar a planta, é possível observar essas alterações, que são um indicativo claro da presença da praga“, explicou Bellé.
Desde 2018, o laboratório coordenado por Bellé, localizado em Itaara (RS), já analisou mais de 12.500 amostras de solo e raízes. “Em aproximadamente 85% das amostras, identificamos a presença de nematoides. As populações variam de 1 a mais de 60 mil indivíduos por grama de raiz, o que representa uma infestação alta e impacta diretamente a produtividade“, alertou.
Estratégias de controle: tratamento de sementes e rotação de culturas
Bellé destacou que o tratamento de sementes é uma das principais ferramentas para reduzir a população de nematoides. “Com o tratamento adequado, a planta consegue absorver mais nutrientes, translocá-los para a parte aérea e produzir mais grãos. Isso resulta em um aumento direto na produtividade, com mais sacas por hectare”, afirmou.
Outra estratégia eficaz é a rotação de culturas, especialmente com a soja. “O sistema Ping-Pong, que alterna arroz e soja, tem se mostrado muito benéfico. O Meloidogyne graminicola, que afeta o arroz, não se reproduz na soja. Assim, a população de nematoides diminui significativamente, e quando o arroz é reintroduzido, a infestação permanece controlada”, explicou.
Cuidados com a rotação com pecuária
A rotação com pastagens, como o azevém, também pode ser uma alternativa, mas exige cuidados. “O azevém é uma gramínea, e os nematoides têm preferência por se multiplicar nesse tipo de planta. Por isso, é essencial fazer o tratamento das sementes do azevém com produtos que tenham ação sobre os nematoides. Isso protege as raízes e evita o aumento da população da praga na área”, orientou Bellé.
Observe as raízes
O nematologista finalizou a entrevista com uma recomendação prática: “Os produtores precisam observar o sistema radicular das plantas. Se notarem que a parte aérea está debilitada, arranquem a planta e examinem as raízes. Problemas relacionados a patógenos do solo, fungos ou nematoides serão visíveis. Essa é a melhor forma de identificar e tomar medidas corretivas”.
