Milho

Produção de soja e milho cresce mundialmente, mas não é a competitiva

O maior custo de produção se deve ao custo de fertilizantes, defensivos agrícolas, sementes, diesel e manutenção das máquinas e mão de obra.

As produções de soja e de milho avançaram significativamente no mundo todo nesses últimos 20 anos (02/03 a 21/22), com taxas de crescimento de 3,7% e 3,6 ao ano (a.a.), respectivamente, no período. O Brasil, os Estados Unidos (EUA) e a Argentina são os principais produtores de soja e, juntos, respondem por mais de 80% da produção mundial. Dentre os principais produtores da oleaginosa, o Brasil se destaca como o país que apresentou a maior taxa de crescimento da produção nessas últimas duas décadas. Registrando aumento de 5,9% a.a., enquanto os EUA avançaram 2,7%, e a Argentina, 1,6% a.a.

Nesse período, o Brasil deixou o posto de segundo maior produtor de soja para ocupar o primeiro lugar no ranking mundial. Dessa forma, enquanto na safra de 2001/02, a produção brasileira somou aproximadamente 52 milhões de toneladas. Vinte anos depois (2021/22), a média é de 122 milhões/t, conforme dados da Conab (2022). Já a produção de soja dos EUA somou 75 milhões/t na safra 2001/02 e 120,7 milhões/t na 2021/22. A Argentina manteve o posto de terceiro maio produtor mundial, produzindo cerca de 35,5 milhões/t na safra 2001/02 e 43,4 milhões na 2021/22.

No caso do milho, os principais países produtores são EUA, China, Brasil e Argentina, que, juntos, respondem por 68% da produção mundial. Os EUA e a China foram os países com as maiores participações na produção mundial de milho nos últimos 20 anos, quando, somados, contribuíram com mais de 300 milhões/t entre as safras 2001/02 e 2021/22. O Brasil também contribuiu para o aumento da oferta mundial, quase triplicando sua produção no período, que passou de 44,5 milhões para 116 milhões/t no mesmo período. A produção da Argentina subiu de 15,5 milhões para 55 milhões/t, um aumento de quase 3,5 vezes no período. Em termos de taxa de crescimento, os EUA registraram alta de 2,1% a.a., a China, de 4,9% a,a., o Brasil, de 5,6% a.a., e a Argentina, de 6,9% a.a..

Estudo

A partir desse panorama de produção, foram analisadas as competitividades desses principais países produtores de soja e milho. Para avaliar o desempenho de cada país, foram considerados os valores médios de duas fazendas típicas da Argentina (Oeste de Buenos Aires e Zona Norte de Buenos Aires), do Brasil (Sorriso e Cascavel), dos EUA (Iowa e Dakota do Sul) e da Ucrânia (Oeste da Ucrânia e Poltova) nas últimas cinco safras (16/17 a 20/21).

Os sistemas produtivos considerados na análise foram soja e milho primeira safra, exceto para o Brasil, que possui duas safras e para o qual foram considerados soja primeira safra e milho segunda safra.

Tabela 1 – Custo de produção e Receita bruta da soja e do milho dos países selecionados no período de 5 safras (16/17-20/21)

COE – Custo Operacional Efetivo; CT – Custo Total; e RB – Receita Bruta
Fonte: Agri Benchmark – Cepea/ESALQ-USP

Custo de produção soja

O Custo Operacional Efetivo (COE) médio da produção de soja nas duas regiões argentinas foi calculado em US$ 269,3 por hectare. Em seguida vêm as regiões ucranianas, com US$ 315,5/ha; as norte-americanas, com US$ 508,3/ha; e as brasileiras, com US$ 551,7/ha. Dentre os principais países produtores de soja, o Brasil foi o que teve o maior custo de produção, que foi o dobro do da Argentina, 1,75 vez maior que o da Ucrânia e 7,8% superior ao dos EUA no período avaliado.

Em termos de quantidade produzida, o COE médio das regiões argentinas ficou em US$ 79 por tonelada. Em seguida vem o das regiões ucranianas, de US$ 134,7/t; o das brasileiras, de US$ 158,1/t; e o das norte-americanas, de 162,4/t. Nesse contexto, nota-se que a competitividade brasileira melhorou em relação à dos EUA, devido à sua maior produtividade média. No caso do Ucrânia, a competitividade diminuiu por conta da menor produtividade média. Vale ressaltar que o maior custo de produção no Brasil se deve ao alto custo de fertilizantes, defensivos agrícolas, sementes, diesel e manutenção preventiva das máquinas e mão de obra.

Custo de produção milho

No caso do milho, o COE da Argentina foi calculado em US$ 451,5/ha; o do Brasil, em US$ 496,5/ha; o da Ucrânia, em US$ 640,3/ha; e o dos EUA, em US$ 904,2/ha. Assim, observa-se que as fazendas norte-americanas apresentam o maior custo de produção, enquanto as fazendas argentinas têm o menor. Levando em consideração unidade produzida, o Brasil apresenta o maior custo por tonelada produzida, enquanto a Argentina continua tendo o menor COE por tonelada. Assim, o COE médio do país vizinho ficou em US$ 49,8/t; o da Ucrânia, em US$ 80,5/t; o dos EUA, em US$ 82,5/t; e o do Brasil, em US$ 92,4/t. O custo de produção do milho no Brasil é quase o dobro do da Argentina, 12% superior ao do produto norte- -americano e 15% maior que o do ucraniano.

O sistema de produção que apresentou o maior valor médio de receita líquida operacional foi o das propriedades típicas dos EUA, de US$ 711,0/ha, seguido pelo das fazendas ucranianas, de US$ 600,0/ha; das argentinas, de US$ 469,0/ha; e das brasileiras, de US$ 336,6/ ha. No entanto, em termos de rentabilidade, as fazendas argentinas apresentaram o melhor retorno financeiro nas últimas cinco safras, com alta de 146,4%. O retorno das propriedades ucranianas subiu 120,9%; o das norte-americanas, 96,2%; e das brasileiras, 61,5%. O resultado médio das últimas cinco safras mostra que o Brasil tem valores positivos, mas não o suficiente para superar seus principais concorrentes.

Fonte: Cepea