Em uma série de artigos explorando as políticas agrícolas de diversos países, a Índia se destaca como um caso de estudo fascinante, revelando uma combinação de sucessos e desafios no setor agrícola. O país, que possui uma população de mais de 1 bilhão de pessoas, enfrenta o desafio constante de alimentar sua população e garantir a segurança alimentar. O setor agrícola, que emprega cerca de 50% da força de trabalho do país, desempenha um papel fundamental nesse contexto.
O governo indiano utiliza um sistema de Planos Quinquenais, com duração de 5 anos, para guiar o desenvolvimento econômico, incluindo o setor agrícola. Esses planos definem metas e estratégias para o desenvolvimento de diferentes setores, com foco na agricultura e na industrialização.
A Índia tem uma longa tradição de intervenção estatal na agricultura, com políticas direcionadas à proteção dos agricultores e à garantia do abastecimento alimentar. Para atingir esses objetivos, o governo indiano utiliza uma série de instrumentos, como subsídios para fertilizantes, irrigação e eletricidade, visando reduzir os custos de produção dos agricultores. O governo também implementa preços mínimos de garantia para cereais como arroz e trigo, assegurando um preço mínimo para os agricultores e incentivando a produção. Além disso, o governo controla as importações de produtos agrícolas para proteger os agricultores da concorrência internacional.
Com uma tradição secular de consumo de laticínios, a Índia iniciou a “Revolução Branca” na década de 1970, uma iniciativa ambiciosa para aumentar a produção de leite e transformar o país de um deficitário em laticínios para o maior produtor mundial. A Operação Flood, um dos pilares dessa revolução, foi lançada para modernizar a produção de leite e aumentar a produção por meio da formação de cooperativas de produtores de leite em aldeias. Essas cooperativas conectaram os produtores aos mercados e garantiram acesso a insumos, serviços e tecnologia, impulsionando a produção e o desenvolvimento do setor leiteiro indiano.
Essas cooperativas atuaram como um elo fundamental entre a produção e o mercado, garantindo preços justos e transparentes para os produtores. A Operação Flood também investiu em tecnologia, como a inseminação artificial e o desenvolvimento de raças leiteiras de alta produtividade, para aumentar a produtividade e a eficiência da produção de leite. Uma rede nacional de leite, a National Milk Grid, conecta os produtores de leite a consumidores em todo o país, garantindo a disponibilidade do produto e estabilizando os preços, eliminando variações sazonais e regionais.
A Índia abriga uma rica diversidade de raças bovinas nativas, cada uma com características e usos distintos. Entre as mais conhecidas e valorizadas, destacam-se as raças Gir, Sahiwal e Tharparkar, consideradas sagradas no hinduísmo e que desempenham um papel fundamental na agricultura indiana, fornecendo leite e força de trabalho. A Operação Flood, com o objetivo de aumentar a produtividade, introduziu algumas raças europeias de vacas como Jersey e Holstein Friesian para cruzar com as vacas nativas, criando uma espécie híbrida de alta produção de leite. No entanto, esse cruzamento compõe apenas uma pequena fração da produção de leite da Índia, sendo que a maioria do leite ainda vem de vacas ou búfalas nativas.
Apesar dos sucessos da “Revolução Branca” e da Operação Flood, a Índia enfrenta uma série de desafios no setor agrícola, como a baixa produtividade agrícola comparada a outros países, principalmente devido à falta de acesso à tecnologia e à irrigação, fragmentação de terras e uso de práticas agrícolas tradicionais.
A Índia enfrenta desafios significativos em seu setor agrícola, como a falta de infraestrutura adequada para armazenamento, transporte e processamento, impactando a eficiência da cadeia de produção. A dependência de mão de obra, com muitos trabalhadores em condições precárias, e a limitada automação e mecanização também restringem a produtividade e a competitividade do setor. Além disso, a concorrência de outros países com maior produtividade e eficiência dificulta a comercialização dos produtos indianos no mercado internacional, criando um cenário desafiador para o desenvolvimento da agricultura no país.
Para superar os desafios que enfrenta, a Índia busca impulsionar seu setor agrícola. O país se concentra em aumentar a produção de alimentos para atender à demanda de sua crescente população e reduzir a dependência de importações. A qualidade dos produtos agrícolas também é prioridade, com foco em padrões mais altos de segurança alimentar e maior competitividade no mercado internacional.
A Índia investe em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para aumentar a produtividade e a eficiência da agricultura, como tecnologias de irrigação, sementes e fertilizantes. Por fim, o país trabalha para ampliar o acesso a mercados internacionais para seus produtos agrícolas, reduzindo as barreiras comerciais e negociando acordos comerciais vantajosos.
O caso indiano ilustra como a coordenação da cadeia produtiva, combinada com políticas eficazes, pode contribuir para o desenvolvimento do setor agrícola e garantir a segurança alimentar. No entanto, os desafios que a Índia enfrenta demonstram que a busca por soluções sustentáveis e eficazes no agronegócio é uma tarefa complexa e constante.
Para que a Índia realize o potencial de seu setor agrícola e garanta o sustento de sua crescente população, é fundamental que o país continue investindo em pesquisa, tecnologia e infraestrutura, além de promover políticas que garantam o acesso à terra, ao crédito e à educação para os agricultores. Somente com esses investimentos e políticas eficazes, a Índia poderá superar os desafios atuais e construir um futuro próspero para sua agricultura e para seu povo.
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Fontes: Whole the Truth, National Dairy Development Board, Shankar Ias Parliament e World Affairs
Opinião
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