Agricultura

Identificação mais precoce da ferrugem-asiática pode trazer impacto na safra de soja

A ferrugem-asiática é a principal doença da soja, com danos de produtividade que podem atingir 90%. Isso faz com que a doença seja uma preocupação constante e que ela seja monitorada com atenção. Neste ano, soma-se a isso a identificação no final de novembro das primeiras ocorrências em lavouras comerciais do Paraná. No ano passado, o primeiro registro ocorreu apenas no início de dezembro.

“Várias áreas e regiões do país fazem esse acompanhamento dos esporos através dos coletores e das observações das lavouras para ver como está o início da infecção. A partir do momento que a gente vê o primeiro foco, a tendência é que a gente observe mais focos em outras lavouras e regiões e que isso se amplie. Então a preocupação é justamente em função disso, nesta safra nós tivemos o relato do primeiro foco um pouco antes, será que isso vai causar um impacto?”, questiona a pesquisadora da área de Fitopatologia e Biológicos da Fundação MT, Karla Kudlawiec.

Além das ocorrências nos municípios de Londrina e Terra Roxa, identificadas pelo Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), um terceiro registro foi notificado hoje (05) pela Embrapa Soja em Corbélia – PR. No Rio Grande do Sul, a Emater/RS-Ascar emitiu alerta para a ocorrência de esporos na região Noroeste do Rio Grande do Sul.

Além disso, os últimos anos registraram aumento de ocorrências. De acordo com o Consórcio Antiferrugem, o número passou de 213 na safra 2019/2020 para 573 em 2021/2022, crescimento de quase 170%. “Justamente pela rápida facilidade de disseminação, aliado a multiplicação do fungo. Esses dois fatores, uma disseminação fácil e multiplicação também considerável de esporos, fazem com que a ferrugem seja um problema tão importante e epidemias sempre ocorram”, ressalta a pesquisadora.

Os manejos e as práticas que já são muito bem estabelecidas e definidas precisam ser mantidas para que a gente não tenha de fato uma epidemia do patógeno.

Karla Kudlawiec – pesquisadora da Fundação MT

Um fator que aumenta o risco de ferrugem-asiática nesta safra é a estiagem que acometeu a cultura na região Sul do país e regiões do Mato Grosso do Sul na safra passada. “Quando o produtor faz o abandono dessas áreas e deixa de fazer as aplicações de fungicidas para reduzir a multiplicação do fungo, a gente acaba aumentando as chances de que isso venha a trazer impacto nas lavouras na mesma safra e quiçá nas safras subsequentes. Então, por mais que ocorram cenários de estiagem, os manejos e as práticas que já são muito bem estabelecidas e definidas precisam ser mantidas para que a gente não tenha de fato uma epidemia do patógeno”, ressalta Karla.

Agressiva

Uma das principais características da ferrugem-asiática é a severidade da doença, que ataca diretamente a produtividade da soja. Segundo Karla, conforme o estádio em que ocorre a infecção, o fungo prejudica a fotossíntese, afetando o enchimento de grãos e causando desfolha. “Os impactos o produtor sente diretamente no bolso, porque é na produtividade que de fato ocorre uma redução considerável”, aponta.

Manejo

No caso da ferrugem, o mantra de que é melhor prevenir do que remediar é quase uma regra. Após a disseminação da doença na cultura, é muito mais difícil realizar o controle. Por isso, estratégias como vazio sanitário e calendarização são recomendadas. No caso do vazio sanitário, essa é uma obrigação prevista em lei. “Vazio sanitário é um período de ausência de plantas, calendarização é um período em que a gente vai ter a semeadura da soja”, explica a pesquisadora da área de Fitopatologia e Biológicos da Fundação MT, Mônica Müller.

Além disso, também é possível realizar a semeadura no cedo, optar por materiais de ciclo mais curto para diminuir a janela e realizar o manejo químico com aplicações preventivas. No último caso, a recomendação é utilizar os principais grupos químicos de fungicidas, rotacionar esses produtos e também utilizar produtos multissítios. Além disso, é importante seguir as doses recomendadas pelos fabricantes.

“Quando eu for utilizar os fungicidas, tomar cuidado para rotacionar os ingredientes ativos ou quando possível até mesmo os grupos químicos de fungicidas, então não fazer sempre a mesma aplicação sequencial do mesmo produto”, ressalta a pesquisadora, a fim de evitar a resistência ao fungicidas.

Futuro

Uma tendência para o futuro é que não se use um método isolado.

Mônica Müller – pesquisadora da Fundação MT

O manejo e controle da ferrugem-asiática já avançaram muito no Brasil, com a pesquisa oferecendo soluções como o sequenciamento do genoma do fungo, produtos biológicos e tecnologias mais avançadas. “Uma tendência para o futuro é que não se use um método isolado, antes a gente ficava muito pautado somente no controle químico, no uso de fungicidas, e era quase que uma única estratégia, a gente nem rotacionava fungicidas. Mas para o futuro, a integração de ferramentas para manejar, não só a ferrugem, mas todas as doenças que a gente vem enfrentando na soja, vai ser essencial”, avalia Mônica.

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