O agronegócio brasileiro cresceu nos últimos anos em produtividade e volume total de produção em diversas culturas. A cultura da soja, por exemplo, teve sua produtividade média da passando d 1,7 mil kg.ha-1 na safra 1989/90 para aproximadamente 3,2 mil kg.ha-1 na safra 2019/20, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Esse aumento ocorreu, principalmente, em função de adoção de tecnologias produtivas. Em inúmeras outras cadeias produtivas, como avicultura, algodão e celulose temos a mesma trajetória de crescimento de produtividade e produção. Se, de um lado, temos sido muito competentes na adoção de tecnologias produtivas de maneira sistêmica, de outro lado, a disponibilidade e gestão de pessoas nos negócios agropecuários ainda demanda atenção dos empresários e agentes do setor.
Vou separar essa discussão em dois aspectos: disponibilidade e retenção dos recursos humanos nos negócios agropecuários e no agronegócio. Quanto à disponibilidade, nota-se, em diversas regiões do país, escassez de profissionais para atuar em propriedades rurais, empresas processadoras de matérias primas, prestadores de serviços e etc. Existe escassez de mecânicos, operadores de máquinas, profissionais para gerenciar unidades de armazenamento e operações de campo. Essa baixa disponibilidade deve-se aos requisitos e características demandadas para os profissionais atuarem no setor, o que muitas vezes, impede a migração de profissionais de outros setores, que estão desempregados, para o agronegócio (e para produção primária).
Em trabalho realizado por Rodolfo Arns em 2016, estudando fatores de retenção de recursos humanos, em especial técnicos agrícolas, em propriedades produtoras de grãos, foi observado vários aspectos que as empresas precisam atentar para aumentar o tempo de permanência dos funcionários no negócio. Na visão dos técnicos agrícolas, os fatores mais importantes para que permaneçam trabalhando em uma propriedade rural, em ordem decrescente, são:
- valor e segurança do recebimento do salário;
- poder crescer na empresa por meio de promoções justas;
- ter o sentimento de que seu trabalho influencia positivamente nos resultados da empresa;
- ter um trabalho que possibilite aplicar suas habilidades e seus conhecimentos;
- a segurança e receber cursos e treinamentos para realizar o trabalho,
- ter bom clima entre colegas de trabalho, esses se comunicarem de modo eficaz e serem responsáveis;
- os superiores serem capazes de gerir a empresa e manter uma boa relação com seus funcionários.
Ao analisar a existência desses quesitos nas propriedades rurais em que os técnicos agrícolas trabalharam ou trabalham, Arns observou que somente dois quesitos ficaram com alto grau de concordância, isto é, ocorrem na prática: boa relação com os supervisores e os funcionários terem o sentimento de que o trabalho individual influencia positivamente nos resultados da empresa. Observa-se que várias das principais demandas dos técnicos agrícolas não estão sendo atendidas, já que consideram muito importantes um conjunto de quesitos que, em sua grande maioria, não é encontrada nas propriedades rurais.
Esses resultados despertam a atenção para a importância dos empresários rurais, durante o processo de gestão, estruturarem processos formais de gestão de pessoas. Várias metodologias e técnicas simples podem ser utilizadas, como feedbacks sobre o ambiente de trabalho, empresa, gerentes, avaliação formal de desempenho, programas de participação nos resultados da empresa, análise do clima organizacional, entre outras estratégias. Todas essas ações, que são simples, e demandam baixos investimentos quando comparado a desembolsos na área produtiva, podem ajudar na redução da rotatividade e conflitos entre as equipes. Vamos abrir espaço para discutir a gestão de pessoas dentro dos negócios rurais, indo além das questões burocráticas demandadas pela legislação vigente.
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