O 9º Fórum do Trigo reuniu especialistas e produtores na tarde de quarta-feira, 6, no Auditório Central da Expodireto Cotrijal. As incertezas da política Argentina e as oportunidades do mercado nacional foram os temas debatidos.
O evento foi aberto com a palestra do analista da Safras & Mercado, Élcio Bento, que tratou da nova política para o trigo pelo governo do presidente Javier Milei e os impactos no Brasil. O especialista relatou que o principal plano da Casa Rosada é zerar as retenciones (impostos sobre exportações agrícolas), atualmente em 12%, o que aumentaria a rentabilidade do produtor. Porém, a situação fiscal do país ainda não permitiu essa isenção.
Outras promessas são acabar com as cotas de exportação, prorrogar o prazo de declarações juradas de vendas ao exterior e desvalorizar o câmbio. “Como tudo isso impacta o Brasil” Basicamente, mais trigo argentino significa mais trigo barato no Brasil, o que derruba os preços”, afirma Bento.
Questionado sobre a sua expectativa quanto a Milei cumprir suas promessas, Bento disse que é pouco provável que todas sejam cumpridas em curto prazo. “Eu não gosto muito de falar de política, pois sou economista e não cientista político e nem especialista nessa área, mas dada toda a situação bastante complicada, econômica e fiscal, na Argentina, é muito provável que nem tudo que ele está prometendo vá conseguir cumprir, especialmente, em relação às isenções das retenciones. Isso é bastante complicado de se conseguir agora”, analisa Bento.
Na sequência, o presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rogério Tondo, tratou da visão da entidade sobre o mercado nacional e internacional. Ele destacou que a Argentina é sempre uma surpresa e sinalizou que é preciso ficar atento aos rumos do governo Milei.
“A questão política diz muito se vai ou não ter retenciones. Isso mexe com toda a precificação de mercado internacional e é sempre uma luz na frente, mas a gente não sabe se é a luz de um trem ou de uma saída boa”, explica Tondo.
Em relação ao Brasil, o presidente da Abitrigo comenta que há mercados diferentes para trigos diferentes, com potenciais clientes em todo país. No Brasil, segundo números da entidade, 42,6% da produção é destinada para produção de pão francês, 12,5% para massas, 10% para biscoitos e 9,6% para uso doméstico.
“Continuem acreditando, pois a qualidade do trigo gaúcho cresceu muito nos últimos anos. Tanto é que houve mais substituição de importação do trigo argentino, especialmente, no Rio Grande do Sul. E continuem com essa batida de melhoria genética e tecnológica. Além disso, é preciso olhar no longo prazo – haverá anos ruins e bons – sempre pensando que o trigo é um redutor de custos para a lavoura de soja ou de milho”, afirma Tondo.