As perspectivas para a expansão do mercado de biológicos no Brasil são positivas, no entanto a adoção dessa prática ainda enfrenta empecilhos em diferentes níveis do sistema de produção. Utilizados para controle biológico, eles são uma alternativa e um complemento para o controle de pragas e nutrição. Entre as principais vantagens desses produtos está a produção mais sustentável, uma exigência global.
“O Brasil é o maior produtor e consumidor no campo de agentes biológicos, só que as nossas áreas são muito extensas”, aponta o professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Sérgio M. Mazaro. Ele foi um dos palestrantes do painel Insumos biológicos na sojicultura, realizado hoje (17) no Mercosoja 2022 e IX Congresso Brasileiro de Soja, em Foz do Iguaçu.
Ainda assim, a demanda por produtos e o surgimento de novos agentes biológicos demonstram que eles deverão avançar em todas as culturas. “Biológicos, se não usou, vai usar. E o importante é usar com qualidade, racionalidade, efetividade, dentro de um processo produtivo, juntamente com altas produtividades’’, ressalta o fitopatologista.
Oportunidades
A pressão dos consumidores e regulação de químicos no mundo são alguns dos fatores que impulsionam o mercado de biológicos, segundo o palestrante Marcelo Poletti, da Promip Manejo Integrado de Pragas Ltda. “A resistência é um problema que os biológicos tem ajudado a converter”, também aponta.
A disponibilidade de produtos biológicos é a grande oportunidade que esse setor apresenta, conforme o palestrante Rodrigo Mendes Antunes Maciel, da F.Bio Soluções Biológicas. “Atualmente a gente tem mais de 500 produtos biológicos, sejam eles macro ou micro, inseticidas, fungicidas e nematicidas. Então o vasto leque de produtos é muito grande e muitas vezes é desconhecido pelo produtor, acaba ficando esse conhecimento retido em um grupo específico. Então a oportunidade é utilizar as ferramentas que já tem, manejar uma resistência já adquirida e ter ferramentas para sanar problemas recorrentes na agricultura”, elenca o especialista.
Desafios
Para que os insumos biológicos avancem, no entanto, uma série de ações ainda são demandadas em diversas esferas. “A gente vê que tem um desafio legislativo, que realmente tem que ter algumas ações em termos de leis que venham esclarecer ou pontuar de uma forma mais assertiva’’, afirma Mazaro. Indo além, na iniciativa privada é necessário maiores investimentos, a pesquisa pode oferecer novas formulações e ampliar o diálogo com as empresas, já os técnicos e consultores precisam de qualificação.
Por fim, nas lavouras há ainda um gargalo no conhecimento quanto a esses produtos. “O produtor tem que entender que está trabalhando com um agente vivo e esse agente demanda cuidados diferenciados quanto a aplicação de químicos”, explica o professor.
Isso ocorre devido às diferenças dos biológicos e suas particularidades. “Apesar dessa disponibilidade muito grande, a gente tem um mau uso, ou um mau posicionamento. O biológico, de um modo geral, ele necessita de especificidade, o comportamento não é exatamente igual ao químico. Então os principais desafios são esse entendimento para aproveitar todas as oportunidades e ferramentas que são oferecidas’’, avalia Maciel.
Orgânicos
Um nicho dos insumos biológicos são os orgânicos, inclusive a soja orgânica. Esse modelo de produção apresenta potencial pela demanda do mercado consumidor. Conforme Rodrigo, o sistema produtivo tem mostrado surpresas e resultados positivos mesmo com as condições adversas de clima. “O sistema se autorregulou juntamente com o posicionamento de produtos na maneira correta, então é uma surpresa muito boa ver esse mercado crescendo e como ocorre a dinâmica de produção”, relata.