A colheita do arroz no Rio Grande do Sul atingiu 35% da área semeada, de acordo com levantamento do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). O trabalho foi favorecido pelo período sem chuvas, que tem se mostrado extremamente benéfico para os orizicultores, tanto para o andamento da operação sem intercorrências quanto para manter as estradas adequadas ao escoamento da produção. A área plantada é de 970.194 hectares. A Emater/RS-Ascar estima produtividade de 8.376 quilos por hectare.
A produtividade ainda está em níveis bastante satisfatórios, destacando-se a importância da radiação solar abundante para os cultivos, característica de anos do fenômeno meteorológico La Niña. Entretanto, no Centro-Oeste do Estado, a restrição hídrica, causada pelas limitações no manejo da irrigação, associadas às temperaturas extremamente elevadas durante a fase de floração, afetaram negativamente o desempenho de algumas lavouras.
O Irga salientou que as condições ambientais mais recentes, como as temperaturas amenas, têm sido ideais para o desenvolvimento das lavouras em fase de enchimento dos grãos, reduzindo a necessidade de irrigação e favorecendo a sanidade das plantas. Porém, os produtores continuam apreensivos com as quedas contínuas no preço do grão, que, apesar de típicas durante o período de safra, estão ocorrendo de forma abrupta, especialmente considerando que a maior parte da safra do Estado ainda não foi colhida.
A colheita está mais adiantada na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Pelotas, com destaque para Piratini, que colheu 50% das lavouras, e São Lourenço do Sul, 45%. Na região, a operação atinge 11%. A fase predominante é a maturação, representando 61% da área, e 28% estão em enchimento de grãos. As produtividades variam entre 8 mil e 10 mil quilos por hectare.
Na de Santa Rosa, em Garruchos, a colheita avançou de forma significativa, e mais de 50% da área cultivada foi colhida. No entanto, os produtores enfrentam dificuldades na comercialização do grão, uma vez que as unidades de beneficiamento não estão oferecendo cotação, aguardando a definição e a estabilização dos preços.
Na Fronteira Oeste, em Alegrete, 40% dos 53,6 mil hectares plantados foram colhidos, e em Maçambará, 55% dos 20 mil hectares. As produtividades variam entre 7,9 mil e 9 mil quilos por hectare. Em Santa Margarida do Sul, a colheita segue com produtividades satisfatórias, embora relatos indiquem prejuízos na qualidade do grão, além de maior percentual de grãos quebrados devido às ondas de calor durante a fase de maturação.
Em São Gabriel, 15% dos 26 mil hectares plantados foram colhidos, com boas produtividades até o momento. A umidade dos grãos colhidos está entre 18% e 21%, e o índice de grãos inteiros varia de 58% a 63%. A Fronteira Oeste é a maior região produtora de arroz do Estado e deverá concluir essa etapa até o final de março, segundo projeção da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz).
Na Campanha Gaúcha, em Dom Pedrito, a colheita atingiu 23% dos 38 mil hectares cultivados, e a produtividade deverá ser superior aos 7.725 quilos por ha inicialmente projetados.
Preços em baixa
A entrada da nova safra pressiona as cotações para baixo. A Federarroz explica que a pressão veio da queda antecipada dos valores do grão, reflexo dos leilões da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que desequilibraram o mercado. Atualmente, o valor pago ao produtor encontra-se no ponto de equilíbrio na média do Estado.
Mas, em diversas regiões não cobre os custos de produção, conforme tabela da Conab, que desconsidera a depreciação de maquinário e rubricas de mão de obra terceirizada. “As condições climáticas favoráveis têm acelerado a retirada do grão do campo, aumentando a oferta disponível e reforçando o viés baixista”, pontua o analista e consultor de Safras & Mercado, Evandro Oliveira.
Se, por um lado, os produtores enfrentam dificuldades, para o consumidor brasileiro a situação é favorável. A Federarroz aponta que o Brasil está entre os 14 países com os menores preços de arroz no mundo, segundo o levantamento Price Rankings Numbeo. Diferente do Brasil, a maioria dos países da lista, como Vietnã, China, Índia e Bangladesh, aplicam subsídios diretos na produção. No continente americano, apenas Brasil e Paraguai aparecem no ranking.
Atualmente, o arroz está entre R$ 5,00 e R$ 6,00 por quilo na gôndola, sendo uma das proteínas mais acessíveis. Segundo a Federarroz, “não há alimento mais barato do que o arroz, que, com água e sal, transforma-se em uma refeição de menos de R$ 0,60 por prato”.
Outro fator que influencia o cenário é a estiagem que atinge o Estado. De acordo com a Federarroz, as regiões arrozeiras que também cultivam soja conseguiram minimizar os impactos financeiros, já que a soja surge como alternativa para cobrir despesas como transporte, combustível e energia elétrica. A exceção fica por conta da Depressão Central, que enfrenta dificuldades mais severas.
A preocupação da entidade também se estende para os 50% da lavoura que ainda não foi colhida, o que inclui 100 mil hectares plantados fora do período ideal e sem seguro agrícola, representando mais de 10% da área total do Estado. A entidade alerta que, caso os preços do arroz permaneçam nos patamares atuais, muitos produtores podem enfrentar dificuldades financeiras severas, comprometendo até mesmo o plantio da próxima safra.