O Pavilhão da Agricultura Familiar da 23ª Expodireto Cotrijal recebeu um número recorde de estandes na edição de 2023, apresentando cerca 220 empreendimentos, sendo a maioria (75%) agroindústrias. Todos fazem o máximo para exibir os melhores e mais requisitados produtos da agricultura familiar gaúcha. Para se destacar em meio a geleias, queijos e sucos, é preciso criatividade e conexão com as demandas do mercado.
No caso da produtora Clarice Rohr, de Picada Café – RS, esse trabalho começou com um problema de saúde que a fez questionar a atividade que exerceu durante toda a vida. Há cerca de 10 anos ela teve uma trombose, em decorrência de reumatismo no sangue. “Eu já estava me sentindo meio inútil por não poder erguer peso no sol quente. O que uma agricultora vai fazer?”, questionou a produtora.
A resposta foram os chás, bebidas que ela sempre apreciou e admirou. Clarice começou a produzir pensando na própria saúde e da família, com cinco canteiros e cerca de 20 mudas de chá. “Eu achava que eu tinha um mundo de chá, imagina? A quantidade que eu tenho hoje é até bonito de falar, é engraçado”, lembra.
é a nossa paixão, a nossa fonte de renda principal é a agroindústria.
Clarice Rohr – produtora rural e empreendedora
A família começou a vender os chás, participar de feiras e desenvolver novos produtos. A agroindústria também foi organizada e regularizada. Nesse ponto, eles seguiam produzindo leite e milho, atividades tradicionais que ainda geravam renda para a propriedade.
Mas, novamente, problemas de saúde impulsionaram a mudança. “Em 2017 vendemos todas as vacas de vez. Ele quase ficou doente, a vida dele e do pai dele era só gado de leite, então mudou muito. Foi preocupante até ter uma renda, porque não tinha mais o leite e só de chá a gente não ia viver. Então surgiu a ideia de ter biscoitos saudáveis”, relata Clarice.
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A produção agora conta com chás, geleias especiais, biscoitos saudáveis, barras de cereal, óleos essenciais e muito mais. As geleias combinam frutas e sabores de chá, diferencial adquirido por meio de cursos, feiras e testes, conhecimento que gera novos sabores todos os anos. Eles ainda apresentam opções orgânicas, sem glúten, sem lactose e até veganas.
Apesar do receio inicial em abandonar a tradicional atividade leiteira, a mudança gerou resultados positivos financeiramente e também para a qualidade de vida desses produtores. “É melhor, nem se compara, a cada ano cresce e a gente busca mais, tem sonhos. Tem o turismo rural, a gente quer investir mais na propriedade e fazer cabanas. É o nosso sonho de curto prazo”, revela a empreendedora.
A família conta agora com cinco hectares dedicados à produção de matéria-prima para a agroindústria. Todo o processo da propriedade é feito de maneira orgânica e manual. “Desde a sementinha que a gente planta até aqui [na Expodireto], é tudo nós que fazemos”, ressalta Clarice.
O evento exigiu uma preparação árdua, já que a família teve apenas uma semana e meia para produzir tudo. Para isso, eles levaram em conta os resultados positivos dos últimos anos e aumentaram a produção. “Está superando as expectativas. Como nós temos produtos diferentes, eles chamam muito a atenção e o pessoal vem. E tem o contato também com o pessoal de lojas interessadas, está a cada ano melhor”, conclui Clarice.
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