A cultura da carinata (Brassica carinata) vem crescendo no Rio Grande do Sul nos últimos dois anos. Planta da família Brassicaceae, a mesma da canola, a oleaginosa de inverno está sendo cultivada principalmente nas regiões das Missões, Campanha Gaúcha e Noroeste. Despontam como produtores os municípios de Santa Rosa e Giruá.
A área plantada no Estado dobrou de 5 mil hectares na safra 2023-2024 para 10 mil hectares no ciclo 2024/2025. No Brasil, a novidade também vem apresentando bons resultados nas regiões Sudeste e Centro-Oeste e deve ocupar uma área de cerca de 50 mil hectares, acima dos 30.260 hectares cultivados na Argentina em 2024, até então o país com maior área de carinata. O Uruguai, /outro produtor na América do Sul, cultiva 6.658 hectares.
No ano passado, a área cultivada no País ficou em 7 mil hectares. “Nós vemos a carinata como uma alternativa de cultivo muito interessante para o outono”, afirma o assistente técnico estadual em culturas da Emater/RS-Ascar, Alencar Paulo Rugeri.
Além de ser uma opção rentável para os produtores rurais, a carinata é cultivada entre a rotação das principais culturas de inverno, quando os campos estão normalmente vazios e expostos à erosão e à perda de carbono, ajudando a proteger a terra, sequestrando carbono, regenerando o solo e melhorando as condições para a safra seguinte. Rugeri, diz que uma das principais vantagens dessa parente próxima da canola é a resiliência a condições climáticas adversas, além de boa adaptação a solos menos férteis. Ela também se destaca por sua menor necessidade de água em comparação com outras culturas de inverno, como o trigo, e por sua resistência a baixas temperaturas.
O cultivo da oleaginosa – também conhecida como estupro etíope ou mostarda-da-etiópia – é realizado entre os meses de abril e maio, com um ciclo médio de 100 a 140 dias. O grão não comestível colhido é esmagado para a obtenção de óleo com baixo teor de carbono para substituir os óleos fósseis, e a farinha restante fornece um coproduto de alta proteína não transgênico à base de plantas usada para forragem animal.
O grão dessa planta originária da Etiópia possui, em média, de 38 a 42% de óleo e 60% de proteína principal, com uma produtividade média de 2,5 mil quilos por hectare. O diferencial desta cultura de cobertura intermediária (plantada entre as principais safras) está na produção de sementes com alto teor de óleo, matéria-prima para o combustível sustentável para aviação (SAF). Em 29 de outubro de 2012, foi concluído o primeiro voo de uma aeronave a jato movida totalmente a biocombustível, feita de Brassica carinata. Ela também é utilizada para aplicações industriais, como produção de plásticos, lubrificantes, tintas, curtimento de couro, sabões e cosméticos.
Potencial de mercado
No último ano, a média de pagamento da cultura de cobertura não comestível variou em torno do preço da soja balcão, chegando em alguns casos a pagar até 110% do valor da principal cultura do Rio Grande do Sul. Esses números reforçam o potencial econômico da oleaginosa de inverno, que se apresenta como uma alternativa rentável e sustentável para produtores que buscam diversificação e melhor aproveitamento da entressafra.
O crescente interesse global em fontes de energia renováveis coloca a carinata em uma posição favorável no mercado. Sua produção não apenas abre portas para o emergente mercado de biocombustíveis, mas também pode aumentar a diversificação de renda dos agricultores, graças à demanda crescente por soluções mais verdes.
O diretor e coordenador da Comissão do Trigo e Culturas de Inverno da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Hamilton Guterres Jardim, lembra que a carinata é parente da canola e também vem ocupando o espaço deixado pelo trigo. A área cultivada com trigo na safra 2023-2024 no Estado foi de 1.33 milhões de hectares, e a produtividade ficou em 2.781 quilos por hectare, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ciclo 2024-2025, a área cultivada com o cereal no Estado ficou em 1.198.276 hectares, cerca de 10% menor que a do ano anterior. “A carinata é uma cultura nova que está sendo apresentada aos produtores e exige uma maior precisão no plantio do que o trigo. A semente é muito pequena e é necessário uma plantadeira bem precisa. Na colheita, a colheitadeira não pode permitir perdas”, observa.
Benefícios do cultivo da carinata
- Substituto do combustível de avião fóssil;
- Biocombustível de alta qualidade;
- Semeadura na entressafra;
- Baixo carbono;
- Manejo de planta daninhas;
- Redução de nematoides;
- Proteção do solo.