Agricultura

Atraso no desenvolvimento prejudica manejo de plantas daninhas e maturação da soja

Uma das palavras que melhor define a safra de soja 2021/22 é atípica. Essa situação foi causada principalmente pela estiagem e se estende para diversos aspectos dos cultivos, inclusive o manejo de plantas daninhas. Agora, ele é afetado também pelo atraso na colheita e pelo excesso de chuvas, o que traz dificuldades antes e após a colheita, que ainda está em curso no estado.

“A cultura da soja, como está no ponto de colheita e não temos mais um desenvolvimento vegetativo, essas plantas [daninhas], que estão em seu habitat natural, elas acabam ocupando esse espaço e vão prejudicar com certeza a colheita da soja”, destaca o professor e pesquisador Fernando Machado dos Santos, do Instituto Federal do Rio Grande Do Sul (IFRS) – Campus Sertão, em entrevista à live Destaque em Pauta.

O controle de plantas daninhas, logo antes da colheita, é mais difícil e deveria ter sido feito antecipadamente. “Hoje nós temos dois produtos destinados a controle de plantas daninhas na cultura da soja. Esses produtos vão ter um período para que eles possam agir na planta”, esclarece o professor.

Desenvolvimento atrasado

Devido à falta de chuvas, a soja apresenta um desenvolvimento atrasado no Rio Grande do Sul. Conforme a Emater-RS/Ascar, 22% das áreas do estado estavam em maturação até a quinta-feira (05). Além disso, a média para a colheita no estado seria de 94% nesta época do ano, enquanto nesta safra se encontra em 74%.

Esse atraso acaba gerando um cenário novo para a soja no estado. “Nós entramos em um ambiente diferente, de maior chuva, de menor luminosidade, de dias mais curtos e isso prejudica esse manejo, tanto do herbicida para ocasionar a colheita, como também da maturação adequada da cultura da soja”, explica o professor.

A maturação, inclusive, ocorre de forma desuniforme e lenta em parte do estado, conforme a Emater. Essa situação preocupa para o crescimento de forrageiras, como azevém e aveia, o que prejudica a operação de colheita, afetando diretamente as colheitadeiras. “Quando [esse material] entra em um volume muito grande dentro da máquina, prejudica todo o processo dela. Tanto o processo do molinete, como o de separação dentro da máquina e em muitos casos podem ocorrer até mesmo o embuchamento”, esclarece o professor.

A janela de tempo para que ocorra o controle dessa situação atualmente é considerado curta, ainda mais com a proibição do Paraquat. Conforme o professor, com os produtos disponíveis no mercado, ainda irá demorar para que haja o controle. “O produtor precisa […] aproveitar, vamos dizer a “roçada” que colhedora vai dar na área, que seria retirado todo aquele material sobre a cobertura, inclusive as plantas daninhas, e manejar estratégias para controlar essas plantas daninhas nesse momento”, recomenda.

Após a colheita

O mês de maio, com temperaturas ainda um pouco elevadas, estimula a germinação de plantas daninhas. “Este seria o primeiro momento, logo após a colheita, para o produtor iniciar o seu manejo de plantas daninhas”, aconselha o professor. Como exemplo, está começando a emergência de buva e caruru, grandes problemas da safra atual. Sem o manejo adequado, essas plantas daninhas se tornam mais difíceis de controlar no verão.

Em relação ao controle de plantas daninhas com herbicidas, ele já é aconselhado ao longo do outono. “Muitas dessas plantas que rebrotarem agora, como elas já atingiram o seu final de ciclo, elas não vão produzir sementes, então já precisaria pensar em algum produto pré-emergente, visando justamente o controle desta sementeira”, recomenda Santos.

Outra problemática desta safra é o aumento de banco de sementes, que fica como “herença” do efeitos da estiagem. “Boa parte das plantas daninhas que nós tivemos na área produziram sementes, […] por isso nós estamos vendo muitas áreas com embuchamento. Então é importante fazer o controle delas”, explica o professor.

Cobertura

O controle apenas com herbicidas, no entanto, não é considerado suficiente. A área em pousio pode gerar uma nova geração de plantas daninhas após o período residual. “Se eu faço o controle, mas eu não coloco uma cultura de cobertura, mais para frente eu vou ter que fazer outro controle. Se eu tivesse uma cultura de cobertura implantada nesse período, eu teria o meu espaço ocupado e ele não estaria sendo ocupado pela planta daninha”, explica o pesquisador.

O efeito das culturas de cobertura na diminuição da infestação pode chegar a 85% dentro do sistema de plantio direto e com a utilização palha, conforme estudos citados por Santos. Além disso, há benefícios para o solo da implantação de plantas de cobertura, como a ciclagem de nutrientes e diminuição de compactação do solo. Além de plantas de cobertura, também é possível implantar culturas de interesse econômico nesse período.