Em Santa Catarina, o método adotado, e que também distingue o cereal cultivado no Estado, do de outras localidades, é o pré-germinado. Com ele, o arroz plantado cresce com grandes quantidades de nutrientes e vitaminas essenciais para a saúde humana.
O cultivo de arroz em Santa Catarina começou há mais de 100 anos, juntamente com os imigrantes europeus. Décadas depois, com a promulgação da Lei Nº 86.146 em 1981, foi criado o Programa Nacional para Aproveitamento de Várzeas Irrigáveis, conhecido como Provárzeas Nacional. A iniciativa teve como objetivo dar uma melhor utilização para as áreas úmidas das beiras de rios e, no Estado, a cultura que mais se adaptou foi o arroz.
Neste cenário, como já existiam estudos anteriores sobre o sistema irrigado pré-germinado, com o Provárzeas, os solos foram nivelados para receber a modalidade de cultivo. Atualmente, segundo dados da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), 85% dos solos catarinenses utilizam o sistema de arroz irrigado nos 147 mil hectares de terras disponibilizados.
O sistema do arroz irrigado ganha força e destaque entre os agricultores devido à sua capacidade de se adaptar a solos úmidos, um aspecto que prevalece no clima subtropical da região Sul do Brasil. Além disso, o sistema apresenta alta produtividade, o que é uma das principais vantagens da semeadura. Ao ser cultivada em uma lâmina d’água, as sementes estão preparadas para germinar, garantindo uma colheita bem-sucedida.
E para que a germinação ocorra, o grão é levado a um encharcamento – ficando submerso na água – de 24 a 30 horas, dependendo da temperatura ambiente. Depois de retirá-lo deste processo, ele fica em repouso por 24 a 48 horas até brotar. “Quando semeamos na arrozeira, no terreno, a semente já está germinando e, por isso, pode se desenvolver dentro d’água, enquanto as sementes das plantas daninhas, não. Isso permite o melhor manejo dos arrozais, aumentando a produtividade, pois reduz a competição com o arroz, que pode se desenvolver plenamente”, explica o engenheiro agrônomo e coordenador estadual do programa Grãos da Epagri, Douglas George de Oliveira.
Na visão do presidente do SindArroz-SC, Walmir Rampinelli, o arroz de Santa Catarina é aceito em todas as partes do mundo, principalmente, pela qualidade e tratamento. “Além de ser um alicerce para a economia, temos a Epagri que nos ajuda no desenvolvimento de novas cultivares que tem o potencial de produção muito forte. São todos esses fatores combinados, que dão a Santa Catarina o título de maior produtividade”, enfatiza.
O arroz catarinense se destaca no cenário nacional, devido à qualidade e pelo emprego de uma técnica especial de beneficiamento: a parboilização. O desenvolvimento de variedades especiais e também de tecnologias industriais de preparo do grão faz com que o produto catarinense seja reconhecido como o melhor arroz parboilizado, trazendo reconhecimento e abrindo mercados.
Seguindo o contexto do Provárzeas Nacional, os produtores começam a fazer as preparações das terras com o auxílio da Epagri, para deixar os solos em nivelamento zero. “Essa fase da sistematização acontece uma vez só, e depois de pronta, é preparada todos os anos para semear o arroz. Então, no pré-geminado, enche-se a lavoura de água para semear, e com um equipamento, é realizado o revolvimento do solo, formando uma lama viscosa. Posteriormente, é feito o alisamento para deixar a terra bem nivelada, para que a água fique por cima, mantendo a essência do sistema utilizado”, complementa Oliveira.
Em relação às práticas aplicadas pelos agricultores, a principal é a forma de semear em lanço, em que a semeadeira joga o grão germinado de forma não linear para facilitar o crescimento. Para Rampinelli, o diferencial do plantio catarinense é a forma do preparo da terra, uma vez que os agricultores manuseiam as pequenas plantações com carinho, podendo olhar para cada pequeno detalhe com muito cuidado e, com isso, fazendo com que os campos tenham muita uniformidade e desempenho em cada metro quadrado.
Finalizado este processo de manejo e cuidado do grão, após cultivado e colhido, ele é encaminhado para o beneficiamento nas indústrias. A carga com a matéria prima, após coletada a amostra, é enviada para balança e registro de peso. No tombador ou moega, de forma automática, o arroz é descarregado, passando pelo processo de peneiras para retirar as impurezas.
Como o grão colhido chega à indústria de forma úmida, ele passa pelos secadores contínuos para retirar a umidade excessiva e, por consequência, não comprometer sua qualidade. Por um período mínimo de amadurecimento de 20 a 30 dias, a matéria-prima recebe o processo de aeração de forma automática, por meio de aeradores.
Tanto a fase de cultivo, quanto a de beneficiamento são de grande importância para a cadeia produtiva do arroz. “Após o zelo dos agricultores, as indústrias preparam o cereal para que ele chegue com a melhor qualidade possível nas prateleiras dos supermercados. O empenho dessas duas frentes é que faz com que a produção catarinense seja destaque a nível internacional”, enfatiza o presidente do SindArroz-SC.
Texto: Monique Amboni