Sistema Plantio Direto

Plantio direto no arroz irrigado ainda tem baixa adoção

Sistema é adotado por 5% a 10% dos produtores do Estado e crescimento esbarra até em uma questão cultural

Foto de espigas de arroz.
Plantio direto no arroz irrigado ainda tem baixa adoção | Foto: Bruna Scheifler/Arquivo Destaque Rural

Na próxima quarta-feira, 23 de outubro, será comemorado o Dia Nacional do Plantio Direto, uma ferramenta fundamental para a sustentabilidade da produção brasileira de grãos. O que poucos sabem é que o plantio direto também é utilizado no cultivo de arroz (Oryza sativa) irrigado. A prática inclusive completou mais de quatro décadas no Rio Grande do Sul, maior produtor nacional do cereal e onde são cultivados mais de 900 mil hectares anualmente.

Neste sistema, que é indicado para áreas com solos não compactados, o solo, na maioria das vezes, não precisa ser previamente preparado para receber a semente. É necessário abrir um pequeno sulco (ou cova) de profundidade e largura suficientes para garantir uma boa cobertura e contato da semente com o solo sendo que, não mais que 25% ou 30% da superfície do solo são movimentados.

O Instituto Riograndense do Arroz (Irga) explica que o desenvolvimento inicial do sistema de plantio direto (SPD) está alicerçado em três princípios: a mínima movimentação do solo, a permanente cobertura do mesmo e a prática de rotação de culturas. Esses fundamentos viabilizam o objetivo principal da prática: a conservação do solo. No SPD, também deve-se realizar o entaipamento de base larga e de perfil baixo na adequação da área para o plantio do arroz irrigado, que compreende as operações de sistematização da superfície do solo ou aplainamento, calagem, quando for necessário, e construção da infraestrutura de irrigação, drenagem e estradas.

O plantio direto apresenta menor custo de produção, racionalização do uso dos insumos, melhor uso do solo e menor necessidade de máquinas agrícolas. E pesquisas realizadas pelo Irga nos últimos 20 anos indicam que o sistema também contribui para a redução da emissão de gases do efeito estufa (GEE) na lavoura de arroz irrigado, a segunda maior fonte emissora de metano no setor agropecuário.

É importante deixar claro que a planta de arroz não é a fonte produtora do gás metano, um dos principais gases do efeito estufa, mas sim o solo, que por meio do processo de fermentação, pela presença da água, produz o metano e o transporte desse gás para a atmosfera se dá através da planta de arroz, por canais conhecidos por aerênquimas.

Enquanto tivermos um ambiente irrigado e a presença da planta haverá produção e emissão do gás metano. “Mas, estudos conduzidos pelo Irga em parceria com universidades como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) têm demonstrado que, por meio do manejo cultural realizado na lavoura, há redução considerável na emissão dos GEE”, destaca a coordenadora da Estação Regional de Pesquisa do Irga da Região Central, Mara Grohs.

A adoção da semeadura direta, porém, tem um percentual baixo no Estado e varia, de 5% a 10%, conforme a safra, segundo a pesquisadora do Irga. Na última safra, a maioria dos orizicultores gaúchos optou pelo cultivo mínimo, onde o emprego de máquinas agrícolas é reduzido, visando uma menor compactação do solo. Esse sistema esteve presente em 60% das lavouras, seguido na sequência pelo cultivo convencional, com 20%, e do pré-germinado e do plantio direto.

A pesquisadora diz que o SPD não é tão comum no Estado porque exige um planejamento prévio da lavoura para que o solo esteja seco e o produtor ainda depende de o clima ser favorável na época do plantio. “Também tem a questão cultural. O produtor, muito conservador, tem medo de tirar a água da lavoura cedo e perder na produtividade, ter quebra do grão”, afirma Mara. “Atualmente, o SPD é mais adotado por produtores da Zona Sul do Estado”, declara.

Aumento da produtividade

O presidente da Associação dos Arrozeiros de Alegrete, Gustavo Thompson Flores, atribui o aumento da produtividade da lavoura de arroz do município da Fronteira Oeste à adoção de novas tecnologias, principalmente em máquinas agrícolas, novas variedades e fertilizantes, e técnicas de manejo, como o sistema de plantio direto e cultivo mínimo.

O dirigente lembra que, há 41 anos, o produtor alegretense Eurico Faria Dorneles apostou em uma nova forma de plantio de arroz de forma direta e irrigada, na Fazenda Cerro do Tigre. Ele afirma que a técnica contribuiu, de forma decisiva, para que Alegrete se tornasse o quarto maior produtor nacional do cereal.

“O plantio direto do cultivo de arroz irrigado possibilitou resgatar áreas de plantio de arroz em Alegrete, mantendo a atividade viável e produtiva”, sublinha Flores, que é diretor financeiro da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz). Segundo ele, Alegrete conta com cerca de 200 produtores. Na safra 2023/2024, a área plantada com arroz no município foi de 53,5 mil hectares.

Flores esclarece que os produtores primeiro fazem o cultivo mínimo, com o preparo antecipado do solo e, em agosto, o terreno já está seco e firme, permitindo que o agricultor faça a dessecação. “Ele consegue fazer o plantio na época mais adequada, em setembro, o que permite um aumento da produtividade”, observa. “O plantio direto acelerou o processo”, completa o dirigente que, nas últimas safras, tem cultivado uma área de 100 hectares do cereal na Fazenda Santa Rita de Cássia, localizada no distrito de Durasnal.