O predomínio de tempo seco, aliado a longos períodos de insolação, contribuiu para o avanço significativo da colheita da soja, que atinge 95% no Rio Grande do Sul. Em parte dos municípios, especialmente no Planalto e Alto Uruguai, no Norte e no Nordeste do Estado, o trabalho foi encerrado, conforme levantamento da Emater/RS-Ascar.
A formação intensa de orvalho, nas primeiras horas da manhã, atrasou o início das atividades de campo devido à elevada umidade retida nas hastes, ramos e vagens, o que aumenta o risco de perdas por grãos deteriorados ou danificados durante a operação. A produtividade segue altamente variável, refletindo maior ou menor déficit hídrico ao longo do ciclo.
De forma geral, os rendimentos oscilam entre 1 mil e 2,5 mil quilos por hectare, com médias inferiores àquelas inicialmente projetadas. As lavouras remanescentes (5%) encontram-se principalmente em estádio de maturação fisiológica (R8), com plantas prontas para colheita. A ausência prolongada de chuvas — até quatro semanas consecutivas sem precipitações em algumas regiões — tem acelerado a debulha natural dos grãos ainda em campo, intensificando as perdas.
Na Região Oeste do Estado, um levantamento da Emater/RS-Ascar indicou perdas médias de 80kg por hectare de grãos encontrados no solo, antes mesmo da passagem das colhedoras, evidenciando prejuízos econômicos adicionais. As indenizações do Proagro e Proagro Mais estão sendo pagas com maior agilidade nesta safra, beneficiadas pela flexibilização documental, como a dispensa de apresentação de notas fiscais.
Contudo, o acionamento de seguros públicos e privados está restrito a casos de perdas expressivas. A redução na cobertura do Proagro — de 25% a 50%, conforme a janela de plantio estabelecida no Zoneamento Agrícola de Risco Climático (30% e 40% de risco) — tem dificultado o acesso à compensação para lavouras com produtividade de até 1,2 mil quilos por hectare, especialmente entre agricultores do Pronamp e do grupo “Demais Produtores”, que não dispõem de valor garantido de renda mínima.
Os produtores que concluíram a colheita, aguardam a ocorrência de chuvas para a reposição da umidade do solo no intuito de viabilizar a semeadura das culturas de inverno, das plantas de cobertura ou de adubação verde. Paralelamente, realizam práticas de conservação e manejo do solo, como calagem, subsolagem localizada ou em área total, além da construção e manutenção de terraços, visando à melhoria das condições físico-químicas do solo, à infiltração de água e à contenção da erosão hídrica.
A colheita por região
Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Bagé, na Fronteira Oeste, a colheita prosseguiu, chegando a 85% em Rosário do Sul e 98% em Manoel Viana, onde permanecem apenas pequenas áreas estabelecidas em segunda safra, após o milho, que apresentam bom desenvolvimento. Esse município registra grande variabilidade nos rendimentos, pois há lavouras totalmente perdidas e outras alcançando até 2,4 mil quilos por hectare.
Em Itaqui, 89% dos 40 mil hectares semeados foram colhidos, e as produtividades são de 2,1 mil quilos por hectare. mesmo em áreas irrigadas. Em São Borja, 90% dos 105 mil hectares cultivados foram colhidos. As expectativas de produtividades nas lavouras tardias não se confirmaram, e as médias ficaram em torno de 900 quilos por hectare. Porém, há elevado percentual de grãos com avarias. As melhores produtividades foram obtidas em áreas com semeadura mais tardia e cultivares de ciclo longo.
Na Campanha Gaúcha, a quarta semana sem precipitações favoreceu a colheita. Diante do prognóstico de chuvas volumosas, os produtores têm priorizado a colheita das áreas de várzea para evitar o risco de ficarem impossibilitados de acessar essas áreas por longos períodos.
Em Dom Pedrito, 80% dos 165 mil hectares cultivados foram colhidos, e as produtividades estão bastante variáveis, conforme a distribuição das chuvas. Os cultivos mais impactados pela estiagem registram médias em torno de 630 quilos por hectare. Em Hulha Negra, a colheita atinge 85% dos 16 mil hectares, e a produtividade média é de 1,8 mil quilos por hectare, representando quebra de 21% em relação à estimativa inicial.
Na de Caxias do Sul, o predomínio de tempo seco beneficiou o avanço da colheita. Na Serra Gaúcha, a operação está tecnicamente encerrada, restando apenas áreas pontuais semeadas tardiamente.
Na de Erechim, 99% da área foi colhida. A produtividade média apresenta redução superior a 30% em relação à produção esperada. A comercialização segue em ritmo lento em função de os produtores considerarem baixos os preços ofertados.
Na de Frederico Westphalen, a área colhida permanece em 98%. Resta 1% em maturação e 1% em enchimento de grãos. Na de Ijuí, a área colhida continua em 96%, aguardando a finalização do ciclo das lavouras em segundo cultivo, que estão no final do enchimento de grãos e em maturação. Nas áreas de sequeiro, a ausência de chuvas tem comprometido o enchimento de grãos, resultando em redução do potencial produtivo. Já nas lavouras irrigadas, o desempenho está superior ao observado em safras anteriores. Nos cultivos, restam poucos tratos culturais, como aplicações pontuais de fungicidas.
Na de Passo Fundo, a colheita foi tecnicamente encerrada, remanescendo pequenas áreas marginais, que não apresentam expressão estatística.
Na de Pelotas, a colheita avançou significativamente, impulsionada pelo clima seco e estável em toda a região. Contudo, a região possui a menor proporção de área colhida no Estado: 76%. Ainda estão em maturação 24%.
Na de Santa Maria, a colheita ultrapassou 90%. Confirma-se perda média aproximada de 50% na produtividade em relação à estimativa inicial de 3.110 quilos por hectare.
Na de Santa Rosa, a colheita alcançou 92%. Apenas 1% das lavouras — referentes à safrinha — encontram-se em enchimento de grãos, e 7% em maturação. A produtividade apresenta ampla variação entre municípios, oscilando entre 480 e 2,5 mil quilos por hectare, influenciada pela distribuição de chuvas, pela capacidade de infiltração dos solos e pelo nível tecnológico adotado. A colheita da soja safrinha foi iniciada, e os grãos apresentam melhor qualidade e produtividade em relação à semeadura no período preferencial, viabilizando seu uso como semente para a próxima safra.
Na de Soledade, a colheita chega a 99%. Resta 1% de semeadura tardia, implantadas como safrinha sobre restevas de feijão, tabaco e milho, em maturação ou pronto para colheita.
Preço
O clima favorável à colheita de soja da safra 2024/2025 no Brasil e na Argentina e ao cultivo da temporada 2025/26 nos Estados Unidos pressionou os prêmios de exportação da oleaginosa na semana passada. Segundo pesquisadores do Cepea, nos portos e no mercado spot, além desse contexto, os vencimentos de custeios no encerramento de abril reforçaram o movimento de baixa, à medida que elevou pontualmente o interesse de venda, que ficou acima da demanda.
Os especialistas ressaltam, contudo, que muitos vendedores ainda aguardam por preços maiores nos meses seguintes, mostrando preferência em negociar contratos a termo. No campo, a colheita segue avançando no Brasil e na Argentina. De acordo com a Conab, até 26 de abril, 94,8% da área nacional de soja havia sido colhida, superando os 90,5% registrados no mesmo período de 2024.
Na Argentina, os produtores estão mais otimistas. As áreas recém-colhidas apresentam maior produtividade que as precoces. De acordo com a Bolsa de Cereales, 23,6% da área argentina havia sido colhida até 29 de abril.