A ocorrência de chuvas durante a última semana, apesar de ter diminuído o ritmo da colheita da soja, favoreceu o desenvolvimento das lavouras de ciclo tardio no Rio Grande do Sul. Na Metade Oeste, as precipitações mais intensas promoveram a recomposição da umidade dos solos até níveis de capacidade de campo, mitigando o déficit hídrico. Entretanto, devido à saturação do solo e da massa vegetal, houve suspensão temporária da colheita até que as condições operacional fossem restabelecidas.
A área colhida passou de 39% para 50%, ampliando o contraste de produtividade entre lavouras e entre regiões, causado pela estiagem. Os rendimentos variam de 180 quilos por hectare no Extremo Oeste até 6 mil quilos por hectare no Nordeste do Estado. A produtividade média estadual está estimada em 2.240 quilos por hectare, mas ainda há possibilidade de redução em função da escassez hídrica registrada em março, que afetou os cultivos em todos os ciclos.
Nas regiões mais críticas, como reflexo do estresse hídrico durante as fases reprodutivas (R3 a R5) e da umidade elevada após as chuvas, a maturação está heterogênea, e os grãos colhidos apresentam alta taxa de umidade e de impurezas, além de estarem verdes, ardidos e chochos, gerando descontos comerciais significativos. Como medida corretiva, os produtores intensificaram o uso de dessecantes químicos para a uniformização da maturação das lavouras e para a mitigação de perdas qualitativas.
Ainda restam 39% das lavouras em maturação (R7) e 10% em enchimento de grãos (R5), beneficiadas pelas chuvas do período, que podem contribuir para a preservação parcial do potencial produtivo. Nas lavouras mais tardias e de maior potencial produtivo, mantém-se o manejo fitossanitário contínuo por meio da aplicação de fungicidas para controle de doenças de final de ciclo (DFCs) e ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi), visando preservar a sanidade das plantas até a colheita final.
Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Passo Fundo 5% dos cultivos estão em maturação fisiológica (estágio R7); 25% maduros e por colher; e 70% colhidos. A produtividade está estimada em 2.552 quilos por hectare.
Na de Ijuí, 75% da área foi colhida. A operação prosseguiu de forma lenta, acompanhando a maturação das lavouras. Porém, a elevada umidade impediu a colheita entre 31 de março e 3 de abril, exceto no município de Ijuí, onde as precipitações foram reduzidas, permitindo executar a colheita parcialmente nesse período. A produtividade continua em queda em razão da ausência de chuvas no final do ciclo. Os grãos colhidos apresentam peso e tamanho reduzidos.
No Alto Jacuí, em Santa Bárbara do Sul, o Peso de Mil Sementes (PMS) diminuiu para em torno de 60% da média normal da cultura (160 – 180 g). Na Região Celeiro, em Santo Augusto, a produtividade em áreas sem irrigação variou entre 1,5 mil e 4,2 mil quilos por hectare, evidenciando a disparidade hídrica. As lavouras de segundo cultivo iniciam a maturação, mas apresentam potencial produtivo inferior ao esperado.
Na de Santa Rosa, 1% das lavouras encontram-se em floração; 11% em enchimento de grãos; 39% em maturação; e 49% colhidas — índice dois pontos percentuais inferior ao registrado no mesmo período de 2024. As chuvas interromperam temporariamente a colheita, sendo retomada no final da semana, quando foi mais intensa a movimentação de máquinas colhedoras e nas unidades recebedoras de grãos.
Houve redução de grãos verdes e avariados nas cargas, melhorando a qualidade do produto, se comparado ao período anterior. Cargas com menos de 8% de grãos esverdeados não têm gerado descontos, mas produtores de áreas mais afetadas pelo estresse hídrico seguem relatando perdas devido às penalizações na comercialização.
Na de Soledade, 3% dos cultivos encontram-se em enchimento de grãos, 51% em maturação e 46% colhidas. As chuvas, na segunda metade do período, interromperam a colheita. As lavouras submetidas à irregularidade hídrica — especialmente entre a segunda quinzena de fevereiro e março — registraram perdas expressivas, independentemente do ciclo das cultivares.
Na de Bagé, na Fronteira Oeste, as chuvas têm limitado o avanço da colheita e acentuado as perdas de produtividade e de qualidade, resultando em maturação desuniforme, em grãos verdes, ardidos, de baixo peso e com impurezas em decorrência do estresse hídrico e da umidade excessiva. Também se intensifica o uso de dessecantes para uniformização. As produtividades seguem baixas, variando de 180 a 1,5 mil quilos por hectare, conforme o impacto climático.
Em Santa Margarida do Sul, a média é de 300 quilos por hectare. A colheita atinge 45% em Maçambará; 40% em São Borja; 35% em Itacurubi; e 25% em São Gabriel. Na Campanha Gaúcha, as chuvas volumosas e bem distribuídas favoreceram os cultivos de soja de ciclo médio e tardio implantadas em dezembro e janeiro.
A colheita ainda está em fase inicial. Apenas algumas áreas foram colhidas entre 4 e 6 de março, mas os grãos ainda apresentam elevada umidade. Observa-se alta incidência de caruru nas lavouras em maturação, o que pode comprometer a colheita, gerar descontos por impurezas e umidade, bem como representar risco de dispersão de sementes para áreas ainda não infestadas, por meio de maquinários. Em Caçapava do Sul, a estiagem intensa antecipou a maturação, e o plantio mais precoce em relação aos demais municípios permitiu o avanço da colheita, que atinge 25% dos 40 mil hectares cultivados.