Um programa que envolve universidades, instituições de pesquisa e órgãos de extensão está ajudando pequenos produtores de leite da Região Noroeste do Rio Grande do Sul a conseguirem melhor resultados em suas propriedades. O Rede Leite é uma iniciativa que tem o objetivo de desenvolver atividades para fortalecer a agricultura familiar, especialmente a pecuária leiteira. Ele promove a união de esforços para a realização de pesquisas e atividades de extensão agropecuária, que busca aprimorar a produção, comercialização e as condições dos processos produtivos, com foco na sustentabilidade e na qualidade de vida dos produtores.
O trabalho teve início em 2005 e existe, formalmente, desde 2009, a partir da assinatura de um convênio entre a Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), Universidade de Cruz Alta (Unicruz), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Instituto Federal Farroupilha, Emater/RS-Ascar e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
“O termo de cooperação foi renovado em 2020 e deverá ser novamente renovado em outubro desse ano”, diz o Doutor em Agronomia Roberto Carbonera, que é professor do curso de Agronomia e do mestrado em Sistemas Ambientais e Sustentabilidade da Unijuí e coordena desde outubro o Comitê Gestor da Rede Leite. A vice-coordenadora do grupo é a extensionista Márcia Barboza Breitenbach e o secretário o engenheiro agrônomo Alberi Noronha, analista da Embrapa Pecuária Sul.
Os pesquisadores, professores, extensionistas rurais e técnicos de campo promovem ações como seminários, workshops, fóruns, capacitações com visitas as propriedades e dias de campo. Os eventos discutem desde a sucessão familiar – uma preocupação frequente no espaço rural – diferentes sistemas de produção, doenças da reprodução bovina e até o bem-estar de homens e mulheres que trabalham diariamente na produção de leite. “O projeto desenvolve ações que perpassam pela produção, comercialização e condições onde ocorrem os processos produtivos, que visam a sustentabilidade e a melhoria da qualidade de vida dos agricultores”, explica Carbonera.
Expansão
As atividades envolvem agricultores familiares de 45 municípios na área de atuação da Emater Regional de Ijuí, abrangendo os Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Coredes) das regiões Noroeste Colonial, Celeiro e Alto Jacuí e, a partir deste ano, abrangerá as Regionais da Emater de Frederico Westphalen, Santa Rosa e Santa Maria. Entretanto, o trabalho não está limitado exclusivamente a essa área geográfica. São em torno de 140 extensionistas rurais que atuam em igual número de municípios.
Essa expansão fortalece parcerias institucionais, envolvendo a Embrapa Pecuária Sul, de Bagé, Embrapa Clima Temperado, de Pelotas, Unijuí, Unicruz, UFSM, Instituto Federal Farroupilha (IFFar) – Campus Santo Augusto e a Emater/RS-Ascar de Ijuí, no objetivo comum de promover o desenvolvimento sustentável na agricultura familiar.
No começo de dezembro, a Rede Leite promoveu a formação “Abordagem Sistêmica de Unidades de Produção Agropecuárias”, no município de Palmitinho. O treinamento reuniu cerca de 30 profissionais e marcou a ampliação do programa para além da região de Ijuí, incorporando as regionais da Emater/RS-Ascar de Frederico Westphalen, Santa Rosa e Santa Maria.
O treinamento abordou uma visão diferenciada para os sistemas de produção. “Diagnosticou-se, há muito tempo, que o modelo linear e reducionista não é adequado para promover o desenvolvimento. É preciso uma mudança de lógica, em que o agricultor deixa de ser objeto do processo de pesquisa e passa a ser sujeito, com autonomia para tomar decisões e encontrar soluções”, afirma Carbonera.
A programação da formação integrou teoria e prática. Pela manhã, os participantes discutiram o embasamento científico da abordagem sistêmica. À tarde, visitaram uma propriedade familiar focada na produção de leite, com atividades secundárias em fumo e pecuária de corte. Durante a visita, o grupo analisou os desafios e fortalezas da unidade produtiva, promovendo reflexões sobre possíveis melhorias.
Investimentos
O professor da Unijuí destaca que a criação da Rede Leite contribuiu, de forma decisiva, para promover o desenvolvimento sustentável e a inovação no setor leiteiro da região. “A Rede Leite foi importante para o estímulo à atividade. Não havia produção leiteira no Noroeste do Estado, muitos produtores estavam começando e ainda não conheciam a tecnologia”, lembra. “Houve um grande crescimento da atividade leiteira e ela está hoje entre as mais importantes regiões produtoras do sul do Brasil”, acrescenta.
Ele adianta que as ações planejadas para os próximos meses visam não apenas a melhoria das práticas de produção, mas também o fortalecimento das cadeias produtivas e a inserção de novos conhecimentos e tecnologias que podem beneficiar diretamente os agricultores familiares.
Em dezembro passado, a Unijuí foi contemplada com cerca de R$ 5 milhões em investimentos pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O valor é destinado ao projeto “SAFUNIJUI –Estratégias tecnológicas para construção da transição agroecológica em Sistemas Agroalimentares da Agricultura Familiar do Estado do RS”.
O investimento tem o objetivo, a partir de uma parceria com a Rede Leite, na qual a Unijuí faz parte, de instalar quatro biofábricas nas regionais da Emater de Santa Maria, Frederico Westphalen, Ijuí e Santa Rosa, nos municípios de Agudo, Campina das Missões, Ijuí e Liberato Salzano. “Além do estímulo à implantação de sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e a instalação de um laboratório na Unijuí para fabricação de produtos homeopáticos para a bovinocultura de leite”, completa o coordenador da Rede Leite.