Mercado

Boi gordo entrará em 2025 supervalorizado no RS

Diversos fatores devem reforçar a tendência de melhora nos preços pagos aos pecuaristas nos próximos meses

Foto de quatro bovinos lado a lado, três são pretos e um é marrom.
Os preços do boi gordo estão em recuperação em quase todo o Brasil | Foto: Gustavo Diehl/ UFRGS

Os preços do boi gordo estão em recuperação em quase todo o Brasil. A oferta menor para os frigoríficos, a expectativa de aumento da demanda por proteínas de origem animal no último trimestre do ano, com o pagamento de 13º salário e as tradicionais festas de fim de ano, devem reforçar a tendência de melhora nos preços pagos aos pecuaristas nos próximos meses, conforme o Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).

O coordenador do Nespro, o médico veterinário Júlio Otávio Jardim Barcellos, destaca que, neste ano, o movimento de valorização da arroba do boi gordo ocorreu a partir o fim de setembro, contrariando a regra de alta nas cotações a partir do mês de outubro, “O mercado reagiu a partir do final de setembro, o que não é um fato corriqueiro. A regra diz que o preço começa a reagir no final de outubro com a entrada do 13, com o aumento do consumo, fato que não foi o grande driver para o aumento do preço do boi”, afirma.

A magnitude do aumento no Sul do Brasil e no Brasil Central, onde a arroba saiu de menos de R$ 300,00 e passou de R$ 350,00, é explicada por outros elementos que não estavam previstos no início do ano, segundo Barcellos. Ele diz que a seca no Brasil Central atrasou muito a oferta de gado para este período de primavera-verão. E o excesso de chuvas no início da primavera no Rio Grande do Sul dificultou a entrada de agricultura e a ocupação de terras que estão sendo utilizadas para a pecuária.

Além disso, há uma abundância de pasto nas propriedades rurais, o que dá um pouco de segurança para o pecuarista segurar seu gado e, com isto, reduzir a oferta. “Por outro lado, esse aumento de preço da arroba no Brasil Central dificulta parcialmente a entrada de carne de outros estados no varejo gaúcho. E isso, de certa forma, também puxa os preços para cima”, explica.

Barcellos prevê que os preços irão se estabilizar nos próximos meses no Estado. “Há, basicamente, uma trava no consumo em virtude do baixo poder aquisitivo da população”, ressalta. O veterinário lembra que, após a enchente no Estado, houve muita ajuda e a criação de programas de auxílio aos mais vulneráveis, mas isso não deve se estender.

Os primeiros meses de 2025, porém, devem ser marcados por uma supervalorização do boi gordo para janeiro e fevereiro no RS, o que aponta um novo cenário, quando comparado com 2024. O próximo ano será um ano mais favorável para a pecuária, também puxada por uma redução do ciclo, decorrente do abate de matrizes em 2021, 2022 e 2023. “Agora está faltando essa produção de terneiros dos anos anteriores e boi para 2025, o que segura o preço em patamares mais favoráveis para o pecuarista”, aponta. O aumento substancial nas exportações para a China, maior compradora da carne brasileira, com aproximadamente 60% das nossas exportações, também contribui para a elevação dos preços, embora os valores pela carne brasileira não tenham sido majorados.

Categorias

Entre os dias 20 e 27 de novembro, os preços do gado gordo no Rio Grande do Sul registraram novas altas em todas as categorias analisadas, atingindo patamares inéditos em 2024. O boi gordo a peso vivo aumentou 5,0%, conforme o levantamento semanal do Nespro. A vaca gorda seguiu valorizada, com cotações próximas às do boi gordo e registrou um aumento de 6,6%.

“Comparada ao boi, a vaca gorda sempre teve um valor 10%, 12% inferior. Mas, quando a demanda por gado gordo cresce, aumenta o preço do boi gordo. E esse preço do boi gordo, se não houver possibilidade de repassar para o varejo, ele diminui a margem da indústria frigorífica, que, por sua vez, passa a comprar mais vacas, vendidas no varejo como carne bovina”, ressalta Barcellos, que é professor do Departamento de Zootecnia da Ufrgs.

As categorias de reposição também se mantêm aquecidas, reflexo dos valores elevados no mercado do gado gordo. “Destaca-se o aumento expressivo da vaca de invernar, que registrou uma alta de 9,3% em relação à semana anterior”, destaca.