Nas últimas safras, as três variedades mais semeadas pelos produtores de arroz (Oryza sativa L.) no Rio Grande do Sul têm em comum serem tolerantes a herbicidas usados no controle do arroz vermelho, um dos principais problemas na rizicultura quando se pensa em plantas infestantes. O arroz vermelho, também conhecido como arroz daninho, é uma invasora agressiva e de difícil controle, justamente porque ela é muito parecida com o cereal que está sendo cultivado. Como o próprio nome já diz, a diferenciação fica por conta do pericarpo de cor avermelhada dos grãos, causada pelo acúmulo de tanino ou antocianina.
A planta daninha causa danos diretos e indiretos à rizicultura. Ele pode tanto prejudicar a parte agronômica do negócio, devido à competição por espaço, água, luz e nutrientes; quanto a econômica, uma vez que sua presença em meio aos grãos colhidos provoca desvalorização do produto final.
Além disso, essa invasora também é um motivo de preocupação na cadeia agroindustrial, porque ela reduz o rendimento na etapa do beneficiamento na indústria. O problema também chega até a mesa do consumidor, pois, apesar de ser comestível, o arroz vermelho não apresenta as mesmas características de sabor e cocção do arroz branco que a pessoa deseja consumir. “O arroz vermelho segue sendo um dos maiores problemas dos produtores de arroz”, afirma o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho.
O engenheiro agrônomo Carlos Mariot, do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), lembra que, há pouco mais de duas décadas, infestações de arroz vermelho chegavam a condenar lavouras inteiras. O consultor sublinha que a similaridade da planta daninha com o arroz cultivado acaba intensificando o desafio no manejo de controle, inclusive na aplicação de herbicidas.
Por esta razão, a maneira mais eficiente de combater a invasora é por meio de práticas integradas, que começam pelo controle preventivo. Essa etapa envolve a utilização de sementes certificadas que sejam isentas do arroz vermelho, a limpeza das máquinas utilizadas para preparar o solo e a prática de roguing, que é a retirada manual das plantas indesejáveis.
Mariot salienta que os cuidados com a lavoura também passam pela preparação do solo e pelo manejo da água, pois o plantio em solo inundado com sementes pré-germinadas em áreas sistematizadas tem contribuído para reduzir a presença do arroz vermelho. A rotação de culturas oxigenadoras, com soja, milho, sorgo ou pastagem é outra possibilidade de suprimir a ação do arroz vermelho em áreas irrigadas. “A prática de rotação com a soja contribui com o controle, pois os herbicidas usados na oleaginosa matam o arroz vermelho”, afirma o consultor.
Outra combinação favorável é o uso do sistema de plantio direto com cultivo mínimo. Mas o rizicultor pode ainda acrescentar a esse manejo integrado os sistemas de produção que conferem às plantas de arroz tolerância a herbicidas efetivos no controle do arroz vermelho e de outras plantas daninhas da cultura.
O engenheiro agrônomo diz que, devido à hibridação natural, as características do arroz vermelho podem mudar com o tempo, dificultando a sua identificação. A aparência tem sido alterada ao longo dos anos, inclusive com o surgimento de grãos da invasora com a coloração branca e até mais parecida com o arroz cultivado. “Alguns subtipos de arroz-vermelho perderam a coloração vermelha característica, tanto que ele é mais conhecido hoje como arroz daninho. E, em alguns casos, a invasora adquiriu resistência aos herbicidas usados no controle, o que exigiu o desenvolvimento de novas tecnologias”, observa.