O governo federal e as entidades representativas e de criadores de bovinos reagiram às declarações do CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard, publicadas na rede social X (antigo Twitter), desqualificando as carnes produzidas pelos países membros do Mercosul, bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Em apoio aos agricultores do país, o executivo da gigante francesa do varejo anunciou a suspensão das compras do produto do Mercosul.
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e entidades como a Associação Brasileira de Angus (ABA), Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) rechaçaram o posicionamento de Bompard e reiteraram a qualidade e compromisso da agropecuária brasileira com a legislação e as boas práticas agrícolas, em consonância com as diretrizes internacionais.
O documento do Mapa lembra que o rigoroso sistema de Defesa Agropecuária da pasta garante ao País o posto de maior exportador de carne bovina e de aves do mundo, mantendo relações comerciais com aproximadamente 160 países, atendendo aos padrões mais rigorosos, inclusive para a União Europeia (EU) que compra e atesta, por meio de suas autoridades sanitárias, a qualidade e sanidade das carnes produzidas no Brasil há mais de 40 anos.
A nota sublinha que o Brasil possui uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo e atua com transparência no setor. E que apresentou à EU propostas de modelos eletrônicos que contemplam as etapas iniciais do Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR), demonstrando compromisso com uma produção rastreável e transparente, sendo que os modelos privados de rastreabilidade são amplamente reconhecidos e aprovados pelos mercados europeus.
“O Mapa lamenta tal postura que, por questões protecionistas, influenciam negativamente o entendimento de consumidores sem quaisquer critérios técnicos que justifiquem tais declarações”, prossegue o documento. O posicionamento do Mapa é de não acreditar em um movimento orquestrado por parte de empresas francesas visando dificultar a formalização do Acordo Mercosul – União Europeia, debatido na reunião de cúpula do G20 nesta semana.
O texto adianta que o Ministério não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros. “Mais uma vez, o Mapa reitera o compromisso da agropecuária brasileira com a qualidade, sanidade e sustentabilidade dos alimentos produzidos no Brasil para contribuir com a segurança alimentar e nutricional de todo o mundo”, finaliza a nota.
Argumentos equivocados
A ABPA lamentou “a infeliz e infundada declaração” do CEO do Carrefour “em que se utiliza de argumentos equivocados ao dizer que as carnes produzidas pelos países-membros do Mercosul não respeitam os critérios e normas do mercado francês”.
A nota observa que a argumentação é claramente utilizada para fins protecionistas, ressonando uma visão errônea de produtores locais contra o necessário equilíbrio de oferta de produtos de seu próprio mercado – o que se faz por meio da complementariedade, com produtos de alta qualidade e que atendam a todos os critérios determinados pelas autoridades sanitárias dos países importadores, como é o caso da proteína brasileira.
“A manifestação de Bompard foge à lógica de uma organização global, com forte presença no Brasil, que deve atuar dentro dos princípios da competividade e respeito ao livre mercado”, diz o informe. Por fim, a ABPA lembra que o protecionismo é, também, uma atitude de desrespeito aos princípios de sustentabilidade. Ao impulsionar o bloqueio injustificado à produtos provenientes de regiões com melhor capacidade de produção com respeito às questões ambientais, “o senhor Bompard coloca os consumidores de suas lojas em uma lógica de consumo com mais emissões e sob maior pressão inflacionária e menor acesso às classes menos favorecidas”, conclui.
A Abiec endossou as reclamações. “Tal posicionamento vai contra os princípios do livre mercado e é contraditório, vindo de uma empresa que opera cerca de 1.200 lojas no Brasil, abastecidas majoritariamente com carnes brasileiras, reconhecidas mundialmente por qualidade e segurança”. O texto afirma que, ao adotar um discurso protecionista em defesa dos produtores franceses, a rede de supermercados fragiliza seu próprio negócio e expõe o mercado europeu a riscos de abastecimento, já que a produção local não supre a demanda interna.
“O Brasil é líder global em exportação de carne bovina, com o maior rebanho comercial do mundo, produção sustentável e rigorosos controles sanitários que garantem qualidade para mais de 160 países. Nos últimos 30 anos, a pecuária brasileira aumentou sua produtividade em 172%, reduzindo a área de pastagem em 16%, demonstrando compromisso com eficiência e sustentabilidade”, segue o texto da associação.
A nota da Abiec afirma que decisões como essa não prejudicam apenas o Brasil, mas também a França, que dependeria de diversas commodities brasileiras. “Em um mundo de desafios crescentes para a segurança alimentar global, o diálogo e a cooperação são mais urgentes do que nunca.”
Preocupação
A Associação Brasileira de Angus e Ultrablack (ABA) viu com extrema preocupação a manifestação do CEO do Carrefour. E disse que se trata de uma declaração improcedente e que acarreta sérios prejuízos à imagem e à reputação da proteína brasileira, produzida a partir de um trabalho sério e responsável feito por criadores e empresas do setor. “E ainda mais grave quando a mesma é proferida por um executivo de uma companhia global com ampla ligação com o nosso País”, destaca o texto.
A entidade ressalta que, no caso específico do Angus, há 21 anos estimula os criadores a investirem em melhoramento genético, qualidade, padronização e sustentabilidade, a fim de oferecer aos consumidores um produto diferenciado, que atenda a altos padrões de excelência.
E lembra que o Programa Carne Angus Certificada é referência para o mundo em produção de carne premium, presente nos mais exigentes mercados como China, Chile, Holanda e Arábia Saudita, os maiores compradores. E que cria certificações para o varejo e de sustentabilidade, reforçando ainda mais a qualidade do produto que chega às mesas de todo o Brasil e diferentes nações.
“Quando líderes mundiais discutem a fome e a ampliação do acesso de mais e melhores alimentos, medidas protecionistas como a anunciada pelo executivo colocam em risco esses esforços”, avalia a entidade. A nota da ABA encerra reiterando a qualidade da carne Angus do Brasil e diz que a associação espera que o bom senso prevaleça, em respeito à proteína produzida pelo Mercosul, ao trabalho de milhares de pessoas e ao livre mercado.