Um grupo de pequenos e médios produtores de leite da Região Central do Rio Grande do Sul está conseguindo aumentar a produtividade do rebanho com a aplicação de novas técnicas para o uso de pastagens, permitindo que a atividade leiteira seja viabilizada. A Rede de Desenvolvimento da Produção Leiteira Eficiente à Base de Pasto é um projeto da Emater/RS-Ascar em conjunto com produtores de leite que visa explorar o potencial de rentabilidade da produção leiteira baseada em pastagens, utilizando os recursos disponíveis nas propriedades das famílias.
Ainda com o nome Elite a Pasto, a iniciativa começou em janeiro de 2020, no município de Serafina Corrêa, onde incialmente beneficiava 12 famílias. Depois, o grupo aumentou coma a entrada de outras três famílias. Atualmente, a Rede está em duas unidades de referência em Júlio de Castilhos. O projeto foi lançado em julho deste ano e conta com cerca de 20 famílias participantes, em três grupos comunitários.
O engenheiro agrônomo Leandro Ebert, extensionista rural da Emater/RS-Ascar que está à frente da iniciativa, diz que a demanda partiu dos produtores participantes do projeto, que estavam carentes de informações sobre a produção leiteira conduzida à base de pasto com suplementação, adotada por 85% dos aproximadamente 32 mil produtores de leite do Estado. “A produção de leite na pequena e média propriedade é viável, desde que se aplique os conhecimentos científicos avançados e tecnologias adequadas às especificidades locais”, destaca o profissional. “Não precisa investimentos em estrutura, confinamento ou semiconfinamento”, acrescenta.
Ebert adianta que o projeto é apoiado por instituições de pesquisa como a Embrapa Trigo, de Passo Fundo, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e a Universidade Federal de Lavras (UFLA), de Lavras (MG), e também por empresas parceiras. Entre as técnicas utilizadas, está a silagem de inverno (trigo, triticale e cevada), que complementa a oferta de forragem conservada aos animais durante todo o ano. Mas os produtores também recorrem a adubação de sistemas, uso de bioinsumos para melhorar a saúde do solo e a produtividade das forrageiras, além do pastoreio rotínuo.
O projeto tem apresentado resultados positivos, como manutenção do ritmo de melhoria da produtividade em propriedades, mesmo em períodos de escassez de chuvas. Outro ganho foi a oferta de forragem o ano todo, com pastagens de novas variedades, e a redução da proteína na ração, o que acaba diminuindo os custos de produção, apontado como o principal vilão da atividade, ao lado das dificuldades na sucessão familiar.
Segundo Ebert, um dos integrantes do grupo, do Assentamento Alvorada, de Júlio de Castilhos, conseguiu dobrar a produtividade leiteira em poucas semanas depois de fazer mudanças no manejo da pastagem. A lavoura de aveia estava completamente encharcada devido ao excesso de chuvas em abril e maio e à timidez do sol, quando ele resolvia aparecer. “O produtor adotou o pastoreio rotatínuo. O pasto recuperou, desenvolveu e a produção dele passou de uma média de oito, dez litros/dia para uma média de 16, 17 litros/dia apenas com ajustes na rotina e a mudança no manejo”, ressalta o extensionista da Emater/RS-Ascar, que pretende expandir o número de participantes com ao menos mais um grupo de produtores no próximo ano.
O produtor Rezomar Souza iniciou o acompanhamento com a Emater/RS-Ascar no inverno deste ano na Rede Elite a Pasto e, em poucas semanas, a produtividade leiteira praticamente dobrou, apenas efetuando ajustes na rotina e no manejo de pastagens, com a adoção do pastoreio rotatínuo, um conceito de manejo de pastagens concebido a partir da ótica animal que visa otimizar o tempo do animal em pastejo. “No inverno, fizemos o manejo em dois hectares de aveia, sempre deixando 30% da área de reserva. Agora, estamos fazendo o pastoreio em capim Tifton 85”, completa Souza.