Mercado

Impactos dos conflitos no Oriente Médio nos fertilizantes podem afetar safra 2024/2025 

A região tem papel crucial no fornecimento de insumos, principalmente de ureia e fosfato, fertilizantes considerados essenciais

A escalada das tensões no Oriente Médio, a partir do conflito entre Israel e Hamas, pode impactar diretamente o custo de produção, produtividade e até as exportações do agronegócio brasileiro. A região tem papel crucial no fornecimento de insumos, principalmente de ureia e fosfato, fertilizantes considerados essenciais para grandes culturas como milho e trigo, além da pecuária.

“A região é uma grande produtora de fertilizantes nitrogenados. No mercado global, a gente já pôde observar na última semana uma alta de US$ 5 a US$ 20 dólares na tonelada do insumo, o que refletiu diretamente no consumidor final brasileiro”, aponta Rodrigo de Mundo, analista de mercado da Scot Consultoria.

Além do papel como fornecedor de fertilizantes, o Oriente Médio detém mais da metade das reservas globais de petróleo, que é essencial para a produção da ureia, e possui rotas importantes para o transporte de petróleo. “Qualquer interrupção acaba causando um aumento expressivo no custo de ureia entre os países. Nós temos também países como Omã e o Qatar, que são fornecedores chaves para o Brasil. E se houver dificuldades no transporte ou sanções econômicas que acabem restringindo a exportação desses países, o preço da ureia tende a disparar, pressionando o custo da produção agrícola no Brasil”, explica Miguel Narbot, analista de mercado da Scot Consultoria.

Além da ureia, Israel desempenha um papel relevante no fornecimento de cloreto de potássio (KCl) ao Brasil, com uma participação de 6,5% das importações em 2024, correspondendo a 0,65 milhões de toneladas. O KCl é outro fertilizante importante, e a instabilidade na região pode afetar a disponibilidade e o preço.

Especulações

A alta nos preços da ureia, até o momento, está ligada à possibilidade de prejuízos à produção e também ao aumento da demanda global. “Houveram altas no preço sim, mas foram altas a partir de especulações. Nenhum prejuízo em si na produção foi apresentado”, pondera de Mundo.

Safra 2024

Conforme os analistas, o conflito no Oriente Médio tem potencial significativo de afetar as safras de verão de 2024/2025, principalmente caso ocorram problemas de abastecimento que mantenham os preços em patamares elevados. “Se os produtores não conseguirem adquirir esses insumos necessários a tempo e optarem por reduzir a aplicação para tentar economizar, a gente pode ver uma redução no potencial produtivo dessas culturas”, explica Narbot.

Um efeito mais imediato é nos custos de produção, o que deve impactar a rentabilidade dos produtores. “Para a safra de milho, nós temos uma relação de troca com ureia, que em junho estava de 75 sacas de milho por tonelada de ureia, caiu para 60 sacas em outubro”, exemplifica Narbot. Essa queda é amenizada pela alta nos preços do milho, mas a margem de lucro continua estreita.

“Esse cenário acaba levando a uma menor produtividade agrícola e uma oferta mais limitada de grãos, que pode impactar tanto no mercado interno quanto nas exportações brasileiras”, destaca o analista.

Longo prazo

O comportamento do mercado de fertilizantes daqui para a frente depende da evolução dos conflitos no Oriente Médio. Neste momento, os preços dos fertilizantes já arrefeceram em relação ao início do mês. Entretanto, qualquer mudança de cenário pode impactar o mercado.

“Se algo em algum momento vier a impactar de maneira firme a produção de ureia e de nitrogenados na região, e isso escalonar a ponto de que não chegue suprimentos para nós, nós vamos sentir o mercado abalado e nenhum dinheiro será capaz de resolver o problema, porque a gente não vai ter acesso ao insumo”, alerta de Mundo.

O analista acredita que, no longo prazo, a relação de troca deve permanecer favorável para os produtores devido aos aumentos das cotações das commodities, em especial do milho e do boi gordo. “A perspectiva para essas commodities é de manutenção desse cenário firme, contudo no fornecimento da ureia, a gente fica à mercê dessa instabilidade do Oriente Médio”, pondera.

Alternativas

Para contornar esse problema, é preciso minimizar a dependência de fertilizantes importados. A diversificação das fontes de importação seria um primeiro passo para atenuar os problemas gerados pelo conflito no Oriente Médio. Pensando no longo prazo, seria preciso otimizar a produção nacional de fertilizantes e de tecnologias que otimizem a eficiência desses insumos.

“Além disso, o governo também pode tentar ampliar, implementar políticas de apoio aos agricultores, como criação de linhas de crédito específicas para comprar insumos em momentos de crise, também no sentido de mitigar o aumento dos custos de produção”, afirma Narbot.