O Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz e responde atualmente por 68% do cereal colhido no Brasil, conforme levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mesmo amargando prejuízos em função das mudanças climáticas que provocaram estiagens e enchentes catastróficas, os orizicultores gaúchos têm conseguido manter estável a área cultivada e alcançado boa produtividade em suas lavouras.
Nas últimas seis décadas, a lavoura arrozeira do Rio Grande do Sul teve uma performance altamente positiva em termos de eficácia. Chama a atenção o decréscimo no uso dos recursos hídricos. Para produzir um quilo de arroz nesse período, os agricultores reduziram em mais de 80% o uso da água, conforme pesquisa divulgada pela Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz). Na safra 1960/1961, eram necessários 5.262 litros para produzir um quilo de arroz, enquanto hoje são utilizados 887 litros, segundo o levantamento da entidade.
A produtividade média (número de sacos produzidos por cada hectare) praticamente quadriplicou no período analisado. Se na década de 1960 era preciso utilizar 0,5 hectare para produzir uma tonelada de arroz, nos anos 2000 são necessários apenas 0,1 hectare para produzir a mesma quantidade. Na safra 1960/1961, a produtividade média era de 46 sacos por hectare. Um abismo do que os produtores obtêm atualmente, 180 toneladas.
Manejo adequado
O presidente da Associação dos Arrozeiros de Alegrete, Gustavo Thompsom Flores atribui o aumento da produtividade à adoção de novas tecnologias, principalmente em máquinas agrícolas, novas variedades e fertilizantes, e técnicas de manejo, como o sistema de plantio direto e cultivo mínimo. “Esses resultados foram conseguidos nem tanto pelo uso de máquinas e implementos agrícolas, mas por mudanças no manejo da lavoura”, declara.
O dirigente, que nas últimas safras tem cultivado uma área de aproximadamente 100 hectares do cereal na Fazenda Santa Rita de Cássia, localizada no distrito de Durasnal, revela que os produtores de arroz têm obtido bons resultados seguindo as orientações do Projeto 10+, do Instituto Riograndense do Arroz (Irga), uma parceria estratégica integrando pesquisa, extensão e produtores. O objetivo da proposta é a produção de 10 mil quilos de arroz por hectare.
Entre os pontos fundamentais da iniciativa estão o planejamento da lavoura, o preparo antecipado do solo e a época ideal para semeadura, entre outros. “Com o cultivo mínimo, o produtor consegue adiantar o preparo do solo, o que garante a época adequada da semeadura. Em setembro, ele já consegue sair plantando”, afirma Flores. O uso da água caiu com a redução da altura das taipas. “As taipas antes tinham 30 centímetros e, hoje, cerca de 15, no máximo 16 centímetros”, explica. Alegrete é o quarto maior produtor de arroz irrigado do Brasil e conta com cerca de 200 produtores. Na safra 2023/2024, 53,5 mil hectares foram semeados no município da Fronteira Oeste.
Cultivares de maior potencial
O presidente da Federarroz, Alexandre Azevedo Velho, que produz arroz na região de Mostardas, no Litoral Sul do Estado, ressalta que a maior produtividade foi alcançada com melhor manejo, principalmente com a suavização do solo. E com o uso de sementes certificadas e cultivares de maior potencial produtivo. “As variedades 424 RI, do Irga, e a BRS Pampeira, da Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] contribuíram muito para esse incremento na produtividade da lavoura orizícola”, salienta.
Em ambientes favoráveis, a BRS Pampeira atingiu produtividades acima de 12 toneladas por hectare em lavouras comerciais no Rio Grande do Sul. Já a 424 RI é a cultivar mais utilizada no Estado. Na safra 2023/2024, 65,21% da safra foi semeada com variedades do Irga. A 424 RI respondeu por 56,08%.