Safra 2024

Condições adversas de clima devem limitar produtividade do trigo na Campanha e Fronteira Oeste do RS

A produtividade está estimada em 2,5 mil kg/ha na regional de Bagé-RS, resultado abaixo da média estadual

A safra de trigo começa a avançar para a reta final no Rio Grande do Sul. A avaliação geral é de que as lavouras mantêm uma condição satisfatória com potencial de alcançar a produtividade estimada no início da safra, de 3,1 mil kg/ha. Ainda assim, diversas localidades do estado enfrentam problemas pontuais causados pelo clima, incluindo danos por granizo, excesso de chuvas e vento forte. Na regional de Bagé-RS, que abrange as regiões da Campanha e Fronteira Oeste, essas condições devem limitar a produtividade a 2,5 mil kg/ha, resultado abaixo da média estadual.

“Nós estamos tendo até o momento uma safra muito adversa, ao contrário do que as previsões inicialmente apontavam”, afirma o extensionista da Emater-RS, Guilherme Zorzi, responsável pela área de grãos da regional.

Os problemas com o clima começaram já no início da safra, quando o excesso de umidade durante o mês de julho dificultou o plantio na Campanha, onde o trigo foi cultivado em 11 mil hectares. Ao contrário, na Fronteira Oeste, o plantio foi bem sucedido, mas julho foi marcado pela falta de chuvas. “Isso atrapalhou bastante o desenvolvimento inicial das lavouras, as aplicações de nitrogênio, que são bem importantes, os manejos de plantas daninhas e ocasionou alguns replantes também para as lavouras plantadas mais tarde”, explica Zorzi.

A seguir, em agosto e setembro, o padrão foi o excesso de umidade em toda a regional de Bagé, principalmente na Campanha. As precipitações superam 500 mm desde o início de agosto na região, conforme a Emater/RS-Ascar. “Afetou bastante as lavouras. Elas estão num momento mais atrasado de desenvolvimento, ainda vegetativo na maior parte, atrasando as operações de aplicação de nitrogênio, de controle de plantas daninhas e até as aplicações dos fungicidas. A gente já começa a ter um aparecimento mais significativo de doenças”, relata o extensionista.

Foto de lavoura de trigo ainda verde.
Relatos apontam para plantas de pequeno porte, o que deve impactar a produtividade | Foto: Rodrigo Rosseto/Arquivo Pessoal

O produtor Rodrigo Rossato, do assentamento Boa Vista do Butiá, de Candiota-RS, assegura que o trigo vem “apanhando” para o excesso de umidade. “A gente não consegue fazer as aplicações corretas, entra doenças e atrapalha o desenvolvimento da planta, que não cresce e baixa muito a produtividade”, conta. Até agora, ele só conseguiu realizar uma aplicação de ureia e pretende aproveitar o tempo seco para realizar uma aplicação de fungicida. “É o terceiro ano que a gente não consegue trabalhar no inverno com excesso de chuva”, desabafa.

Fronteira Oeste

Já na Fronteira Oeste, onde as áreas de trigo chegam a 130 mil hectares, as chuvas registraram volumes menores e foram benéficas para a cultura, colaborando para a manutenção da umidade do solo e para os manejos culturais. Apenas em alguns pontos de São Borja os ventos fortes causaram acamamento. “Como as lavouras já estão mais adiantadas, com a espiga já formada e os grãos em pleno enchimento, já ficam mais suscetíveis a esse processo do acamamento provocado pelo vento”, explica Zorzi.

Condição atual

As primeiras áreas da regional de Bagé estão em maturação e devem iniciar a colheita nos próximos dias, caso o clima permita. Apesar do cenário ainda incerto, as expectativas para o resultado da safra não são as mais otimistas. “É difícil ainda apontar o percentual de perdas, mas é muito provável que essas lavouras não alcancem o potencial que se estimava inicialmente, tanto pela soma do atraso no plantio, de alguma dificuldade de estande – lavouras com poucas plantas e com porte baixo porque não cresceram normalmente -, seja por falta de nitrogênio no momento certo porque o pessoal não conseguiu aplicar ou pelo excesso de umidade e falta de luminosidade”, explica Zorzi, extensionista da Emater. Essa falta de luminosidade está atrelada tanto aos dias nublados quanto à fumaça advinda das queimadas que ocorrem em diferentes regiões do país.

Cultura ainda pode oferecer produtividade satisfatória, ainda que abaixo da expectativa ideal | | Foto: Rodrigo Rosseto/Arquivo Pessoal

A safra ainda tem um longo caminho até o final da colheita, que só deve terminar no início de dezembro na Campanha e na Fronteira Oeste. O produtor Rodrigo Rosseto espera colher até 40 sacas/hectare, o que pelo menos empataria os lucros com os custos de produção da lavoura. “Se o tempo firmar e colaborar, ainda vai dar uma safra boa, o trigo até está bonito, apesar da umidade, vamos ver como vai se comportar o tempo”, diz.