Agronegócio

Quanto você pagou pelo herbicida?

O que importa é o custo do tratamento por área, por hectare, no custo do herbicida, mas comumente os produtores procuram o preço por litro.

Em recente conversa com um amigo pecuarista, surgiu o assunto do custo do herbicida e a forma como muitos usuários manejam essa informação. Confesso que fiquei até um pouco assustado como isso se dá, chegando ao ponto de achar pertinente a abordagem do tema nesse espaço, que apesar de extremamente básico, pode ainda ser dúvida para muitos pecuaristas.

Custo do litro x custo do tratamento

A conversa fluiu de modo muito agradável, até porque o pecuarista em questão justamente possui o raciocínio correto que se deve ter em relação aos tratamentos herbicidas em pastagens. Ele comentou que um grande número de pecuaristas, e ainda arriscou em dizer que a maioria, faz referência apenas ao custo unitário do litro do herbicida, com a pergunta simplista, título deste artigo: “quanto você pagou pelo litro do herbicida?”; um companheiro seu ao ouvir que nosso amigo pagou um valor unitário muito superior a quem formulou a pergunta, chamou-o de “louco” por ter pagado aquele valor. Na réplica meu amigo perguntou: “OK, mas quantos litros de produto você usou por hectare?”, numa justa referência ao custo do tratamento por área. A conclusão foi de que meu amigo tinha um custo de tratamento por área mais barato que o que o chamou de “louco”.

Custo dos produtos

Pode parecer óbvio, mas vale reforçar: Imagino que a origem desse conceito vem da época em que havia um único produto; essencialmente constituído de Picloram e 2,4-D, e neste caso, a comparação entre preços por litro seria válida; mas atualmente há uma grande diversidade de formulações e marcas ofertadas no mercado e, consequentemente, custos unitários de produtos.

Não há milagres, as empresas formuladoras são bastante hábeis na precificação de seus produtos, e seu custo unitário está diretamente relacionado à performance que esse produto pode proporcionar em termos de controle das plantas daninhas na pastagem.

Como já tivemos oportunidade de mencionar em artigos anteriores, cinco moléculas compõem a quase totalidade de tratamentos herbicidas em pastagens; que são: Aminopiralide, Picloram, Triclopir, Fluroxipir e 2,4-D. Cada ingrediente ativo destes possui um poder de controle, um direcionamento de uso, diferentes fornecedores, disponibilidade e quantidades necessárias para promover controles eficientes e, consequentemente, diferentes custos isolados.

Um ingrediente ativo que normalmente barateia uma formulação, ou um tratamento, é o 2,4-D, mas por isso mesmo é exigido em quantidades relativamente maiores que os demais ativos, possuindo ainda um espectro de ação, ou poder de controle, limitado. O 2,4-D proporciona mais poder de “queima” de folhas, sem, no entanto, translocar muito para caules e raízes. É direcionado para plantas de fácil controle ou que se originam de sementes, exigindo assim que outras moléculas sejam associadas para que se amplie o leque de opções de controle.

Picloram e Aminopiralide são as moléculas que trazem poder residual de solo, controlando a germinação de sementeiras, e proporcionam translocações para camadas mais profundas no interior da planta. Possuem absorção tanto pelas folhas, como pelas raízes, atuando num grupo de plantas de mais difícil controle, perenizadas e lenhosas.

O Triclopir e o Fluroxipir são limitados quando isolados, mas são ótimos companheiros entre eles, e com outras moléculas, principalmente Picloram e/ou Aminopiralide, dando maior amplitude de poder herbicida do tratamento. Triclopir e Fluroxipir não proporcionam absorção significativa pelas raízes, sendo mais foliares, e o Fluroxipir sendo necessário em doses menores que as de Triclopir, e ambos, em quantidades menores que 2,4-D.

Exemplo prático

Trazendo para o dia a dia prático um exemplo, quando se encontra um produto custando R$120,00 o litro, e outro custando R$50,00, há fundamento para que isso aconteça, e em alguns casos, as doses exigidas levam a custos até comparáveis, considerando-se a área tratada. Justamente nessa comparação entre produtos, se o primeiro vai na recomendação de 1,0 l/ha, o custo é de R$120,00/ha, se o segundo produto, para uma performance equivalente, necessita uma dose de 2,5 l/ha, seu custo por área passa a ser de R$125,00/ha, valores próximos, mas ainda assim mais vantajoso para a opção do uso do produto com valor unitário maior.

Nesse exemplo, utilizou-se dois tratamentos com um único produto em cada caso, apenas para ilustração, mas hoje as misturas de produtos predominam nos tratamentos herbicidas em pastagens, e o raciocínio do custo por área deve também prevalecer quando entram as misturas.

Com a diversidade de produtos, misturas e tratamentos propostos, pode-se obter recomendações muito diferentes para uma mesma área, para uma dada infestação. Vários tratamentos propostos, apesar de muito distintos em termos de composição, podem proporcionar igualmente boas soluções de controle. Como costumo frequentemente mencionar: normalmente existem várias respostas corretas para uma mesma pergunta. 

Traduzindo para as recomendações herbicidas, diversos tratamentos, combinações de doses e produtos, podem produzir o resultado esperado no controle de plantas daninhas de uma pastagem, cabe avaliar caso a caso a proposta técnica e econômica, porque normalmente essas diferentes recomendações podem ter valores também distintos, cabendo ao técnico que faz a recomendação, juntamente com o pecuarista, optar pela melhor combinação de custo por área versus performance de controle, sem se deixar impressionar pelo valor que um litro de produto específico apresenta.

La Niña

E cabe lembrar que estamos no pico da estação de aplicações foliares de herbicidas nas pastagens das regiões Centro-Sul, Sudeste e Norte. E como estamos também enfrentando o fenômeno climático “La Niña”, as chuvas podem fugir muito dos padrões climáticos em cada microrregião.

Acompanhe atentamente as chuvas localmente, e na ocorrência de veranicos (ausência de chuvas) por períodos superiores a 15 dias, as aplicações foliares devem ser interrompidas, e retomadas após se restabelecer a hidratação das plantas para que o herbicida possa apresentar a performance desejável. Lembre-se: plantas daninhas sob estresse hídrico ficam menos susceptíveis aos herbicidas e frustações de controle são bastante frequentes nessas condições.

Boa safra.

*Engenheiro agrônomo e mestre em solos e nutrição de plantas pela ESALQ-USP. Com atuação profissional desde 1985 em pesquisa e desenvolvimento em sistemas de produção agrícola em empresas nacionais e multinacionais, trabalhou por 24 anos na geração dos principais herbicidas para pastagens hoje no mercado. Atualmente, é consultor independente, fundador da NTC ConsultAgro, focado no manejo da vegetação em pastagens, reflorestamentos e áreas não agrícolas.

Fonte: Scot Consultoria